
“A Esperança cristã é dinâmica e ilumina a peregrinação da vida, mostrando o rosto dos irmãos e irmãs, companheiros no caminho. Não é um caminhar à toa, solitário, vagueando sem rumo ou destino, mas um caminho de povo, confiante e alegre, que se move para um destino novo.”
“Peregrinação” e “esperança”, duas palavras-chave neste Ano Santo, em cuja Bula de Proclamação é destacado que “A esperança não engana”.
De fato, “todos esperam. No coração de cada pessoa, encerra-se a esperança como desejo e expetativa do bem, apesar de não saber o que trará consigo o amanhã. Porém, esta imprevisibilidade do futuro faz surgir sentimentos por vezes contrapostos: da confiança ao medo, da serenidade ao desânimo, da certeza à dúvida”.
Neste sentido, faz-se necessária também a paciência, que entrelaçada com a esperança, deixa transparecer com clareza que “a vida cristã é um caminho, que precisa também de momentos fortes para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus.” Que este Jubileu – é o desejo do Papa Francisco – “seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança!”.
“Um Jubileu para celebrar um peregrinar de esperança” é o tema da reflexão do Pe. Gerson Schmidt*:
“O Catecismo da Igreja católica, afirma que “a virtude da esperança corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens, purifica-as e as ordena para o Reino dos céus; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O ânimo que a esperança dá preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade” (CIgrC,1818). No abatimento, a esperança é sustentáculo, um suporte para não cair ou uma força para que, na queda, a gente possa levantar. Deus colocou no ser humano a esperança que não desanima, diz o apóstolo (Rm 5,5).
O Jubileu nos pede que nos coloquemos em caminho e superemos certos limites. Quando nos movemos, de fato, não mudamos só de lugar, mas nos transformamos, saimos de nossa comodidade, empreendemos um movimento de sair de nós mesmos e da mesmice. A palavra “peregrinação” deriva do latim “per ager”, que significa “através dos campos”, ou “per eger”, que significa “passagem de fronteira”: ambas as raízes lembram o aspecto distinto de embarcar numa viagem. A Sagrada Escritura está refleta de acontecimentos de saídas, de êxodos. Abraão, na Bíblia, é descrito assim, como uma pessoa em caminho: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai» (Gn 12,1). Com estas palavras começa a sua aventura, que termina na Terra Prometida, onde ele é lembrado como «arameu errante» (Dt 26,5). O termo arameu errante sugere um peregrino, um andarilho buscando acertar os caminhos tortuosos. O Catecismo da Igreja católica, no número 1819,afirma que “a esperança cristã retoma e realiza a esperança do povo eleito, que tem a sua origem e modelo na esperança de Abraão, o qual, em Isaac, foi cumulado das promessas de Deus e purificado pela provação do sacrifício (cf.Gn 17,4-8; 22,1-18). «Contra toda a esperança humana, Abraão teve esperança e acreditou. Por isso, tornou-se pai de muitas nações» (Rm 4,18).
A Esperança cristã é dinâmica e ilumina a peregrinação da vida, mostrando o rosto dos irmãos e irmãs, companheiros no caminho. Não é um caminhar à toa, solitário, vagueando sem rumo ou destino, mas um caminho de povo, confiante e alegre, que se move para um destino novo. O sopro do Espírito de vida não deixa de iluminar a aurora do futuro que se aproxima. O Pai celeste observa com paciência e ternura a peregrinação dos seus filhos e abre-lhes o Caminho, apontando-lhes Jesus, seu Filho, que se torna espaço de caminho para todos. Portanto, o Jubileu é um acontecimento de todo o Santo Povo de Deus, em caminho, peregrino, iluminado pela sua única esperança que é Cristo
A esperança é a luz que ilumina o futuro, mas não num sentido ingenuamente otimista. Nós sabemos: a esperança é Jesus Cristo, morto e ressuscitado. O profeta Isaías vê repetidamente a família de homens e mulheres, filhos e filhas, que regressam da sua dispersão, reunidos à luz da Palavra de Deus: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9,1). A luz é a do Filho que se fez Homem, Jesus, que com a sua própria Palavra reúne todos os povos e nações. É a chama viva de Jesus que move os passos do caminho: «Levanta-te e resplandece, Jerusalém, que está a chegar a tua luz! A glória do Senhor amanhece sobre ti!» (Is 60,1).
O ministério de Jesus também é identificado com uma viagem da Galileia para a Cidade Santa: «Como estavam a chegar os dias de ser levado deste mundo, Jesus dirigiu-se resolutamente para Jerusalém» (Lc 9,51). Ele próprio chama os discípulos a percorrer esta estrada e ainda hoje os cristãos são aqueles que o seguem no caminho das suas vidas. O percurso, na realidade, constrói-se progressivamente: há vários itinerários para escolher, lugares para descobrir; as situações, as catequeses, os ritos e as liturgias, os companheiros de viagem permitem que se enriqueça com novos conteúdos e perspectivas. A peregrinação é uma experiência de conversão, de mudança da própria existência para direcioná-la para a santidade de Deus, para sermos conforme a vontade do Criador e Redentor.”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
Fonte: Vatican News / Por Jackson Erpen