Por Dom Julio Endi Akamine, SAC
Vigilância não é espera passiva; é mobilização de nossa atenção e de nossas energias para a vinda do Senhor ao nosso encontro. Nesse sentido, Jesus conta três breves parábolas (Lc 12,35-46): a dos servos que esperam acordados o patrão voltar da festa de casamento para abrir-lhe a porta; a do ladrão que tenta arrombar a casa em hora não esperada; e a do administrador que deve cuidar dos outros empregados enquanto o patrão está fora.
Os servos devem estar com os rins cingidos, ou seja, devem estar de prontidão para o serviço. Nessa parábola, chama a atenção a promessa de Jesus: se encontrar os servos acordados e de prontidão, o próprio patrão os fará sentar à mesa e os servirá. É uma reação inesperada e exagerada desse patrão generoso. Com efeito, para descrever, minimamente, o banquete do céu, só algo muito exagerado.
Não temos, porém, só uma descrição do que seja o banquete celeste! Temos a realidade e a antecipação desse mistério no sacramento da eucaristia. Na missa, Jesus, realmente, nos faz sentar à sua mesa e nos serve; Ele nos dá seu corpo e seu sangue como nossa comida e bebida de vida eterna!
A parábola do ladrão nos faz cair na conta de que a principal arma dele é a surpresa. Assim Jesus nos exorta a não perder a oportunidade da graça. Deus passa em nossa vida e, da mesma forma como quem não quer ser pego de surpresa por um ladrão, os cristãos sabem que não podem se desligar: é preciso estar vigilante sempre e por toda a vida. Nós não vemos o Senhor chegar de longe e se aproximando devagar. Não! Ele chega de repente. De repente, Ele está dentro de nossa casa, diante de nós. Para a vinda do Senhor não há radar ou sensor de proximidade.
A terceira parábola ensina que nós não somos administradores de coisas, mas de outros empregados. O Senhor nos confiou o cuidado de outras pessoas, e vigilância tem a ver com isso: não é a espera angustiada da hora da morte, mas é o exercício fiel e responsável de um cuidado que nos foi confiado pelo Senhor. Podemos dizer que o melhor treinamento para estar em forma para quando o Senhor chegar é cuidar dos irmãos e irmãs. Mais concretamente ainda: é socorrer os mais pobres em suas necessidades: Vendei vossos bens e dai esmola. Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
Servir os irmãos, cuidar do bem deles como Jesus cuidou e cuida de nós é o nosso tesouro que ninguém pode roubar, que não acaba e não é corroído pela traça. Nosso tesouro verdadeiro, no fim das contas, é a nossa semelhança com o Pai: como o Pai cuida dos filhos, assim, nós, que somos como o Pai, sendo filhos, cuidamos dos irmãos.
Jesus nos convida a concentrar nosso esforço, a gastar nossas energias e a consumir o tempo em algo que ultrapasse os limites da nossa vida mortal. “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino. Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói. Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.
O que fazemos com o tempo que nos é dado não é algo indiferente para nosso destino eterno: tem importância para o que nos tornamos e para a nossa felicidade.
Há pessoas que têm muito dinheiro e capacidades: tudo o que tocam se transforma em riqueza. Muitas delas se fizeram do nada. Empreenderam, trabalharam, prosperaram. Há pessoas que são famosas e seguidas por uma legião de fãs. São imitadas, e suas palavras influenciam a moda e os costumes. Estão sempre no centro das atenções e atraem para si os holofotes. Há pessoas com muito poder. Galgaram, com inteligência e senso de oportunidade, os degraus do poder; conquistaram a confiança da maioria, criaram em torno de si o consenso de muitos.
Há pessoas que vivem uma história de bem, uma história pessoal fecundada com a eternidade e enriquecida pelo amor de Deus que se adere à nossa vida. Há pessoas que vivem uma vida abraçada por Deus, desde a concepção e o nascimento, passando pelos anos da infância, juventude, maturidade e velhice. Há cristãos que vivem uma vida que transparece a de Jesus Cristo; toda a sua existência está enriquecida pela história de Cristo; todos os momentos, felizes e tristes, são vividos em unidade com Jesus. Procuro imaginar toda a felicidade e a alegria que, pela graça de Deus, tais cristãos proporcionam aos outros: quanta gratidão, quanta consolação, quanta vida Cristo semeia através da vida desses cristãos! “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.