Dom Julio Endi Akamine, SAC – Arcebispo Metropolitano de Belém
A “Anunciação” mostra o início histórico da vida de Maria no seu significado salvífico; a Assunção orienta o nosso olhar para o fim da vida de Maria que é também o momento da entrada no céu. “Esta é a festa do seu destino de plenitude, de bem-aventurança, da glorificação de sua alma imaculada e de seu corpo virginal” (Paulo VI, MC 7).
Maria é a única criatura humana – depois de Cristo e seguindo-o – que entrou de corpo e alma na bem-aventurança do céu, depois de ter terminado a sua caminhada na terra. Para todos os que morrem na graça, segundo a fé da Igreja, a glorificação do corpo só se dará no fim da história da salvação, no momento da ressurreição dos mortos. A Assunção é o mistério da coincidência da morte e da glorificação de Maria.
A assunção corpórea de Maria está ligada de maneira particular com sua divina maternidade virginal e a sua imaculada conceição. Com efeito, o corpo de Maria foi de tal modo assemelhado ao de Jesus que, como o dele, também não conheceu a corrupção. O corpo da Virgem foi o meio luminoso, não obscurecido por pecado algum, através do qual nos veio a Graça em pessoa, Jesus Cristo. Por isso, a isenção da corrupção – o fato de Maria ter sido recebida logo na glória celeste – é uma consequência coerente de sua isenção do pecado. A relação única de Maria e Jesus justifica esta “distinção” corpórea no final da vida de Maria.
O momento pessoal e individual de Maria, porém, jamais deve ser visto de maneira isolada. Maria jamais existiu sozinha diante de Deus. Por isso também seus privilégios individuais não devem ser separados do papel salvífico que ela desempenhou em benefício de toda a humanidade. Se Deus glorificou Maria, Ele o fez em vista de nosso bem.
A assunção não é somente privilégio pessoal de Maria, mas, principalmente, um evento de redenção, um evento que representa a redenção que chegou à sua plena realização em um membro da multidão daqueles que têm necessidade de redenção. O prefácio da missa desta solenidade assim reza: “Hoje a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada ao céu. Sinal de inabalável esperança e consolo para o povo peregrino, ela é primícia e imagem da Igreja chamada à glória, pois não quiseste que sofresse a corrupção do sepulcro aquela que gerou, de modo inefável, o vosso Filho feito homem, autor de toda vida”.
A assunção de Maria nos revela que a redenção só chega à plenitude, quando os seus efeitos se realizam na totalidade da criatura humana, também no corpo, com tanta frequência desvalorizado e tratado com desprezo.
Através da assunção, Maria se tornou aquela que foi totalmente redimida. Nela se revela em que consiste, em última análise, a redenção. A redenção é a completa eclosão da vida divina também no corpo humano, a transfiguração da própria realidade material do homem e da mulher e a vitória sobre a morte em todas as suas formas.
O que aconteceu em Maria possui importância não só para ela, mas também para nós: o que aconteceu nela aproxima, de certa forma, todos nós da meta final. O que aconteceu em Maria consolida o nosso destino final na fé e na esperança. Nossa fé não é uma falsa ilusão, porque já alcançou sua meta em Maria; nossa esperança não é vazia porque, com Maria, a totalmente redimida, já se antecipou no hoje da celebração. É como se já tivéssemos lançado no reino do céu uma âncora que confere firmeza à nossa esperança.
Maria “propõe à Igreja e à humanidade a imagem e o documento consolador da realização da esperança final” (Paulo VI). Aquilo que a Igreja peregrina considera como expressão de sua esperança, ela o vê realizado em Maria.
A assunção de Maria revela o significado da ressurreição da carne. Deus ama o ser humano todo. Na ressurreição, Deus não permite que nada do ser humano se perca. Na assunção de Maria, Deus acolheu e abraçou toda sua humanidade.
Ele não amou somente as moléculas que estavam no seu no corpo no momento da morte. Ele amou e ama seu corpo marcado pelos sofrimentos em comunhão de dor de Jesus Cristo, pela nostalgia sem tréguas de uma peregrinação de fé e de seguimento.
Deus ama Maria e glorificou seu corpo que se chocou e se feriu com a dureza deste mundo, e traz ainda suas cicatrizes. Assunção significa que de tudo isto, nada se perdeu para Deus, porque Ele ama tudo em Maria. Todas as suas lágrimas, Ele as recolheu e nenhum sorriso lhe escapou.
Ressurreição da carne significa que em Deus nós haveremos não somente de ter em Deus o nosso último suspiro, mas que haveremos de reencontrar Nele toda a nossa história.