A urgência da crise climática nos confronta com uma realidade inegável: o futuro do nosso planeta e, consequentemente, da humanidade, depende das ações que tomarmos hoje. Neste cenário complexo, o papel dos meios de comunicação transcende a mera transmissão de informações; ele se torna um pilar fundamental na formação da consciência coletiva e na mobilização para a ação. É tempo de refletir sobre a ética da comunicação frente à maior crise de nossa era.
A responsabilidade dos meios de comunicação é imensa, pois estes devem informar, educar e inspirar, guiando a sociedade para um engajamento cívico construtivo. Reportar a crise climática exige precisão científica, rigor ético e uma capacidade mobilizadora que evite os extremos do negacionismo, que ignora a ciência e adia soluções, e do alarmismo paralisante, que pode gerar desesperança e inércia. A busca pelo equilíbrio é desafiadora, mas essencial e imprescindível. Neste percurso, a Doutrina Social da Igreja (DSI) oferece princípios valiosos. A ética da verdade exige que a informação seja baseada em fatos verificáveis, sem distorções ou sensacionalismos. A responsabilidade na comunicação social implica reconhecer o impacto das palavras e imagens na formação da opinião pública, promovendo o bem comum. A DSI nos convida à solidariedade, amplificando as vozes dos mais vulneráveis e afetados pela crise, e à subsidiariedade, valorizando as iniciativas locais e comunitárias.
O Personalismo cristão complementa essa visão, focando na dignidade da pessoa humana e em sua dimensão relacional – não apenas entre si, mas com toda a criação. Uma comunicação personalista sobre a crise climática promove o diálogo, a esperança e o engajamento, reconhecendo que cada indivíduo é um agente de transformação, capaz de escolhas conscientes e ações significativas. Não se trata de impor uma visão, mas de convidar à reflexão e à corresponsabilidade.
Os desafios são muitos. A mídia tem o dever de desmascarar essas desinformações, cultivando o pensamento crítico e a capacidade de discernimento do público. Isso exige investigação aprofundada, transparência e um compromisso inabalável com a verdade. Felizmente, exemplos de jornalismo climático construtivo e engajado têm surgido, mostrando que é possível ir além da mera notificação de eventos extremos. Reportagens que exploram soluções inovadoras, que dão voz a cientistas e comunidades locais, que conectam a crise climática a questões de justiça social e econômica, e que traduzem dados complexos em narrativas compreensíveis, são fundamentais. Elas não só informam, mas também empoderam e motivam à ação.
Nesse contexto, a Igreja Católica desempenha um papel profético e amplificador. Ao ecoar as preocupações do Papa Francisco na LaudatoSì, a Igreja amplifica as vozes das comunidades indígenas, dos povos ribeirinhos, dos agricultores familiares – aqueles que estão na linha de frente dos impactos climáticos. Sua capilaridade e sua autoridade moral são inestimáveis para sensibilizar corações e mentes, especialmente em vista de eventos como a COP30, que será sediada em Belém do Pará, no coração da Amazônia. A COP30 representa uma oportunidade ímpar para o Brasil e o mundo discutirem e definirem rumos, e a mídia terá um papel crucial em traduzir essa complexa agenda para a sociedade.
Para que a comunicação seja verdadeiramente eficaz, é imperativa a cooperação de todos os meios: grandes conglomerados de mídia, veículos médios e pequenos jornais comunitários, rádios locais e plataformas digitais independentes. Cada um, à sua maneira, possui um alcance e uma linguagem específicos que podem tocar diferentes públicos. A sinergia entre eles, na partilha de informações verificadas, na promoção de debates qualificados e na difusão de boas práticas, é vital para construir uma narrativa coesa e poderosa sobre a crise climática. Não basta um ou outro; precisamos de uma orquestra completa, afinada e comprometida.A comunicação sobre a crise climática é uma exigência ética de nosso tempo; é a ponte entre o conhecimento científico e a ação coletiva, entre a urgência do problema e a esperança de soluções. Ao abraçar sua responsabilidade com verdade, ética e um espírito mobilizador, a mídia pode, e deve, ser uma força motriz na construção de um futuro mais justo, sustentável e fraterno para nossa Casa Comum. O engajamento de cada veículo, grande ou pequeno, é a semente de uma transformação que nos convoca a todos.
Pe. Helio Fronczak
Professor de Filosofia na Faculdade Católica de Belém