A) Texto: Mc 7,31-37
31Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. 32Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. 33Jesus afastou-se com o homem para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e, com a saliva, tocou a língua dele. 34Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer “abre-te!” 35Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. 36Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. 37Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.
B) Comentário
Este é o relato da cura do “surdo mudo”. É uma cura dupla, pelo fato do deficiente padecer duas deficiências; que por sinal estão relacionadas entre si, pois em geral os surdos falam gritando. O texto é um dos poucos episódios exclusivos do evangelista Marcos, similar ao narrado por ele em 8,22-26.
A descrição aqui é muito rica em gestos praticados por Jesus até chegar à conclusão da cura. Há um procedimento longo: Primeiro os habitantes se unem e prestam um serviço caridoso, levando o deficiente junto a Jesus. Depois o mestre certamente com a equipe caritativa – pois recomenda que não contassem a ninguém, sobre a cura – conduz o homem para fora da multidão (v 33). Logo fica frente a frente com o deficiente; coloca seus dedos nos olhos dele; cospe, e com a saliva toca-lhe a língua: contatos e gestos combinados que se tornam como uma “sinfonia de atenções”. Após o trato meticuloso com o homem, observam-se em Jesus, posturas cadenciadas:1) eleva os olhos, 2) respira e 3) pronuncia uma palavra. É maravilhoso perceber a paciência e delicadeza de Jesus! O modo carinhoso de tratar um deficiente, já é a primeira medicina que atua na cura dele. Qual é meu comportamento diante do deficiente com quem convivo ou atendo? A sua melhora ou cura, muita das vezes depende da ação efetiva e mais ainda afetiva do assistente.
“pediram que Jesus lhe impusesse a mão” (v 32). Era crença de que o contato físico fosse indispensável para obter a cura (Mc 5,23; 6,5; 8,234).
“com a saliva, tocou a língua dele” (v 33). A saliva era tida como remédio, tanto pelos hebreus como pelos pagãos. Jesus usava também esse procedimento (Mc 8,23; Jo 9,6).
“Olhando para o céu” (v 34). Elevar os olhos, é um modo que acompanhava a oração (Mc 6,41; Jo 11,41; 17,1).
“suspirou”. O suspiro manifesta o sentido de compaixão, sintonia e comoção que Jesus experimenta diante do infeliz.
“Efatá!” é termo aramaico, e que Mc tem o cuidado de explicar aos leitores (Mc 5,41; 7,11). A ordem é dirigida não ao órgão e sim ao deficiente.
“Imediatamente” (v 35). Verifica-se o efeito repentino e potencial da palavra de Jesus. Assim como é eficiente a palavra de Deus Pai na criação (Gn 1, 3.6.9.11…), o é a palavra do Filho Jesus, na salvação e recuperação da saúde, seja ela qual for.