A Catequese em nosso tempo: a Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae” (parte 2)

Introdução:

O caminho que queremos percorrer refletindo sobre a catequese e suas exigências, nos convida a partir da Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae”, do Papa João Paulo II, do ano 1979, sobre a “catequese do nosso tempo”. O Concílio Ecumênico Vaticano II, uma vez que definiu processos de renovação da Igreja em seus múltiplos aspectos, também pediu da atividade catequética um forte redimensionamento.

A exortação é dirigida ao clero (bispos, padres e diáconos), a todos os fieis da Igreja e é   consequência da IV Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos celebrada em Roma, em 1977, que tratou da catequese em nosso tempo. Ao longo da Exortação o sumo Pontífice apresenta algumas convicções fundamentais que devem nutrir o dinamismo da Catequese na Igreja.

Queremos lhe apresentar neste artigo uma breve síntese desse documento ressaltando algumas ideais ou convicções mais importantes presentes ao longo dos nove capítulos desse maravilhoso documento para que lhe sirva de estímulo para lê-lo.

  1. A catequese é consequência do mandato missionário que Cristo deu aos seus discípulos de formar discípulo; é o “conjunto dos esforços envidados na Igreja para fazer discípulos, para ajudar os homens a acreditarem que Jesus é o Filho de Deus, a fim de que, mediante a fé, tenham a vida em Seu nome, para os educar e instruir quanto a esta vida e assim edificar o Corpo de Cristo. A Igreja nunca cessou de consagrar a tudo isto as suas energias” (1). 
  2. A Exortação Apostólica sendo dirigida a toda a Igreja, teve como objetivo confirmar a solidez da fé e da vida cristã, estimulando novo vigor a novas iniciativas catequéticas, provocando a criatividade, com a requerida prudência, contribuindo para difundir nas comunidades a alegria de levar ao mundo o mistério de Cristo (cf. 4).
  3. A figura de Jesus Cristo é o personagem central da catequese. “Deseja-se acentuar, antes de mais nada, que no centro da catequese encontramos essencialmente uma Pessoa: a Pessoa de Jesus de Nazaré, «Filho único do Pai, cheio de graça e de verdade» (Jo 1,14) que sofreu e morreu por nós, e que agora, ressuscitado, vive conosco para sempre. Este mesmo Jesus que é «o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6) e a vida cristã consiste em seguir a Cristo”. Portanto, “o objeto essencial e primordial da catequese, pois, para empregar uma expressão que São Paulo gosta de usar e que é frequente na teologia contemporânea, é «o Mistério de Cristo». Catequizar é, de certa maneira, levar alguém a perscrutar este Mistério em todas as suas dimensões: «expor à luz, diante de todos, qual seja a disposição divina, o Mistério” (5).
  4. A catequese é cristocêntrica. “A preocupação constante de todo o catequista, seja qual for o nível das suas responsabilidades na Igreja, deve ser a de fazer passar, através do seu ensino e do seu modo de comportar-se, a doutrina e a vida de Jesus Cristo”. Todos os catequistas deveriam poder aplicar a si próprios a misteriosa palavra de Jesus: «A minha doutrina não é minha, mas d’Aquele que me enviou» (Jo 7,16). Cristo é o único Mestre que nos ensina sempre, com seus silêncios, milagres, gestos, palavras, oração, atitudes para com os pobres e sofredores (cf. 8).
  5. A catequese está intimamente ligada a toda a vida e história da Igreja. O crescimento da Igreja depende da Catequese (cf. 13). Por isso foi sempre considerada “dever sagrado e um direito imprescritível”. O sacramento do batismo exige a formação necessária que permita ao batizado viver uma verdadeira vida cristã. Trata-se de um direito dos fieis (cf. 14) e, por isso, é uma tarefa prioritária que está em profunda conexão com a atividade missionária da Igreja (cf.15.18). Essa responsabilidade envolve muitos sujeitos: bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, pais, leigos catequistas, professores, comunicadores… (cf.16.62-66).
  6. Para que haja renovação da catequese é preciso certo alargamento do seu próprio conceito, uso de novos métodos, linguagem adaptada e técnica dos novos meios para a transmissão da mensagem cristã. Evite-se a improvisação, a repetição rotineira que leva à estagnação, à letargia, à paralisia. Tudo isso gera a confusão, desvios de toda espécie, ruptura (cf.17).
  7. A catequese segue o primeiro anúncio missionário, o Kerígma (cf. 18-20,25). A catequese, sendo experiência de aprofundamento das razões da nossa fé, tem algumas características específicas: deve ser sistemática; programada (não improvisada), completa (iniciação cristã integral), aberta a todas as outras componentes da vida cristã, aderente à vida, educativa (cf.21-22); estimula o engajamento na vida comunitária, no testemunho social, no dinamismo missionário (cf.24).
  8. A fonte da catequese é a Palavra de Deus, assimilada e transmitida através da Tradição. “Falar da Tradição e da Escritura como fonte da catequese é já acentuar que esta tem de ser impregnada e embebida de pensamento, espírito e atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um contacto assíduo com os próprios textos sagrados” (27). A catequese aprofunda o sentido do credo da Igreja. O «credo do povo de Deus» traz os elementos essenciais da fé católica.
  9. Há três elementos fundamentais que não devem ser negligenciados: o conteúdo essencial da Catequese que é o mistério de Jesus Cristo: «Aquele que vós adorais sem conhecer, eu vo-lo anuncio» (At 17,23), deve ser salvaguardada a integridade desse conteúdo; o segundo aspecto é o servir-se de métodos pedagógicos adaptados, linguagem adequada aos contextos e o terceiro é o cuidado com a dimensão ecumênica da catequese estimulando os fiéis a crescerem no senso de fraternidade, unidade, respeito pela diversidade (cf. 30-33).
  10. A catequese é para todos: crianças, adolescentes, jovens, adultos, deficientes, etc. A dinâmica e os meios didáticos a serem usados na catequese deve variar de acordo com a situação existencial de cada grupo de sujeitos (cf.35-45). Os meios que podem ser usados na catequese são os mais variados possíveis de acordo com a situação desde os encontros interpessoais até o uso de meios mais sofisticados (cf. 46-47), mas também a homilia, livros catequéticos e catecismos (cf. 48-50). A catequese deve ser encarnada na realidade (inculturada) para isso os catequistas devem conhecer a cultura dos catequizandos (cf. 53-54).
  11. Num mundo profundamente marcado pela incerteza, dúvidas, descrença, indiferentismo, ideologias, etc. a catequese é chamada a promover a alegria da Fé, firmando a identidade cristã; para isso é necessário usar uma linguagem adaptada ao serviço do Credo (cf. 56-60). Muitos podem ser os lugares de promoção da catequese: na paróquia, família, escola, nas associações e nos movimento e nos Institutos de formação (cf. 67-71).
  12. O formador dos corações e promotor do crescimento espiritual dos catequizandos não é o catequista, mas é o Espírito Santo, o Mestre interior. Recordemos as palavras de Cristo: «Ele ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que eu vos disse» (Jo 14,26). E acrescenta: «Quando vier o Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á por toda a verdade…, e anunciar-vos-á as coisas vindouras» (Jo 16,13). “A catequese, que é crescimento na fé e amadurecimento da vida cristã em ordem à sua plenitude é, por consequência, obra do Espírito Santo, obra que só Ele pode suscitar e manter na Igreja” (72).
  13. Maria “foi a primeira dos seus discípulos: primeira quanto ao tempo, porque já quando se dá o encontro no Templo Ela recebe do seu Filho adolescente lições que conserva no seu coração; e a primeira, sobretudo, em grau de profundidade porque ninguém foi assim «ensinado por Deus» (73). Maria foi, «Mãe e discípula ao mesmo tempo», dizia Santo Agostinho.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. O que significa “catequese cristocêntrica”?
  2. Quais desafios do mundo atual dificultam a catequese?
  3. Quais são as consequências da catequese inculturada?

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