Celebramos com alegria a Solenidade de São Pedro e São Paulo, ainda que as devoções do presente período nos tenham conduzido a Santo Antônio, São João Batista e São Pedro. Pedro e Paulo caminharam juntos, por estradas diferentes, mas unidos na mesma fé e na grandeza do martírio, um pela Cruz e outro pela espada. O seguimento de Jesus exigiu dos dois e exige de todos os discípulos a disposição de radicalidade, ao abraçar a Cruz com Jesus e seguir os seus passos. Abraçar e não arrastar com má vontade, dispor-se a transformar todas as eventuais dores, incômodos e sofrimentos em amor a Deus e ao próximo, para assim estar crucificado com Cristo e ressuscitar com ele, também em cada gesto de entrega e de oferta, pois pela Cruz chegamos à Luz que não se apaga.

A Cruz! Simão Pedro foi um dos primeiros no seguimento de Jesus. Pescador de peixes veio a se tornar pescador de homens. Tendo seu nome mudado pelo próprio Senhor, teve que percorrer uma verdadeira escola, pontuada por crises, dúvidas, insegurança e medo. (“Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos!” – Lc 22,32). Precisou ouvir várias vezes os anúncios da paixão, declarou-se disposto a seguir o Senhor até às últimas consequências, por três vezes negou conhecê-lo, recebeu o dom das lágrimas no arrependimento pelo malfeito, viu Cristo após a Ressurreição por algumas vezes e, muito humano, parecido conosco, foi posto à frente da Igreja e veio a ser crucificado em Roma como o seu Senhor, depois das muitas aventuras vividas pela jovem Igreja. “O primeiro a professar a fé fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel” (Cf. Prefácio da Solenidade de São Pedro e São Paulo). Reza uma tradição que foi posto numa cruz de cabeça para baixo, ao afirmar não ser digno de morrer como o seu Senhor.

As chaves! As representações iconográficas de São Pedro no-lo mostram com as chaves, correspondendo à palavra dita por Jesus a seu respeito: “Jesus então declarou: ‘Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus’” (Mt 16,17-19). E a devoção popular o vê nas portas do Céu, com as chaves nas mãos, para receber os que a ele acorrem! Podemos chamar de ousadia, quando vemos apenas com os critérios superficiais o poder das chaves! Podemos chamar de graça imensa a misericórdia de Deus colocada à disposição da humanidade através de meios tão humanos, como aconteceu com Pedro e, no correr da história, todos os ministros da reconciliação enviados pela Igreja, eles mesmos carentes do perdão de Deus, por compartilharem com a humanidade a mesma condição de pecadores e chamados à conversão. Não se trata de “fazer de conta”, nem mesmo de autoritarismo, mas do serviço do perdão e da misericórdia.

A espada! O Apóstolo São Paulo foi decapitado em Roma, na mesma perseguição na qual Simão Pedro foi crucificado. No entanto foi a Cruz sua honra e dignidade: “Com Cristo, eu fui pregado na cruz. Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim. Minha vida atual na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gl 2,19-20). Ao final da Carta aos Gálatas, com que força afirma suas convicções: “Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz do nosso Senhor, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo” (Gl 6,14).E na Carta aos Efésios, escreve Paulo: “Ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6,17). No Apocalipse o Filho do homem é visto assim: “Na mão direita, tinha sete estrelas, de sua boca saía uma espada afiada, de dois gumes, e seu rosto era como o sol no seu brilho mais forte” (Ap 1,16). Uma espada na boca! A espada nas representações de São Paulo é a da Palavra de Deus. “Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação” (Prefácio da Solenidade de São Pedro e São Paulo)
Anunciar a Salvação em Jesus Cristo, pregar sua Morte e Ressurreição, abrir as portas do Reino com as chaves da misericórdia e do perdão, suscitar a vida em Igreja, na busca da plena comunhão! Eis a missão confiada aos dois Apóstolos que, “por diferentes meios, congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração” (Prefácio da Solenidade de São Pedro e São Paulo), como também a nós, cada um na missão e graça recebida, diferente, mas complementar;
Nesta Solenidade, toda a Igreja volta seus olhos para aquele que é hoje sucessor do Apóstolo Pedro, ao qual estamos unidos por estreitos laços de comunhão, o Papa Francisco. Maravilha das maravilhas é a certeza de que Deus tem, para cada tempo, misteriosamente escolhido, aquele que tem como missão ser o ponto de unidade, à frente da Igreja de Roma, com a tarefa presidir a caridade. É tempo de agradecer a Deus pelo Papa Francisco. Há grupos que querem vê-lo como um revolucionário, outros se impressionam por posições consideradas conservadoras. Entretanto, nós cremos e sabemos que o Papa, homem como todos os homens, tem sobre si a graça que o sustenta para manter unido o rebanho de Cristo. Ele não é conservador ou progressista, mas Papa, Pai, Sucessor de Pedro, sobre a rocha angular inabalável que é o próprio Cristo. Perder ou desperdiçar a unidade com o Papa faz desabar o edifício de nossas convicções de fé! Ao celebrar o dia do Papa, ao rezar por ele e participar da caridade do Papa, gesto concreto do presente final de semana, voltamos de novo à fonte!

Na Cruz, a nossa glória! Na espada da Palavra de Deus que é anunciada, nossa segurança! Naquele que hoje detém o poder das chaves, nossa referência de unidade inabalável! Podemos recordar e cantar com a conclusão do Hino Pontifício: “Salve, salve Roma! o teu sol não tem poente, vence, refulgente, todo erro e todo mal! Salve, Santo Padre, vivas tanto mais que Pedro! Desça, qual mel do rochedo, a bênção paternal!”

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