A educação católica no ensino superior (parte 19)

A Igreja é a mãe da universidade; ela nasceu do coração da Igreja, se insere na tradição eclesial (univesidade de Bologna)

Introdução
O perfil do Ensino Superior Católico está vinculado ao conceito de educação que a Igreja traz consigo, focado na dignidade da pessoa, na ciência em prol do desenvolvimento humano integral, inspirado nas palavras e atitudes de Jesus Cristo e enriquecido pela Tradição eclesial.

O Ensino Superior Católico está alicerçado numa sólida antropologia teológica, ou seja, na visão da pessoa humana a partir da fé cristã, em convicções éticas e nas necessidades dos contextos socioculturais.
O “depósito doutrinal católico” é bimilenar e dinâmico; nele há elementos passageiros e permanentes. Tudo isso enriquece a educação católica no ensino Superior. A Igreja Católica, perita em humanidade (cf. PP,18) ou seja, profundamente conhecedora da natureza humana com todos os seus autênticos anseios, fragilidades, problemas e potencialidades, enriquece profundamente o olhar científico; essa sensibilidade humanista promove a ciência, mostrando o seu sentido, alargando seus horizontes e lhe oferecendo parâmetros éticos irrenunciáveis.

No Ensino Superior Católico, Fé e Razão entram em harmonia como afirmou o Papa João Paulo II: elas “constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de O conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio” (Fidei et Ratio,1).

1 – Desafios do Ensino Superior
A Educação Católica, de modo especial no Ensino Superior, enfrenta grandes e fortes desafios internos e externos. Em âmbito interno temos desafios como a elaboração de um Plano de Desenvolvimento Institucional coerente com os princípios cristãos; a existência de um Projeto Pedagógico de cada Curso alicerçado no diálogo entre fé, ciência, cultura e dignidade humana (desafios concretos); a contratação criteriosa de professores e técnicos; a promoção da harmonia e convergência de uma Comunidade Educativa competente; a constituição de uma equipe de professores que falem a mesma linguagem com os estudantes (que não só sejam repassadores de conhecimentos) e tenham atitudes inspiradas na comunhão de princípios católicos, humanistas e éticos; uma gestão que concilie ternura e firmeza evitando o amadorismo administrativo etc.

O ensino superior católico também enfrenta sérios desafios externos, advindos da cultura contemporânea como, por exemplo, o suposto conflito entre fé e razão, a fragmentação do saber científico, a visão reducionista sobre o ser humano, o relativismo moral que destrói parâmetros éticos, a tentação do fundamentalismo científico (só vale o que vem que ciência), o niilismo (a descrença no ser humano), agnosticismo, o negacionismo, o tecnicismo profissional, a alienação dos reais problemas humanos e sociais etc.

2 – Algumas características do Ensino Superior Católico
A Igreja é a mãe da universidade; ela nasceu do coração da Igreja, se insere na tradição eclesial e é vista como centro incomparável de criatividade e de irradiação do saber para o bem da humanidade (cf. Ex Corde Ecclesiae, 1). Dessa forma a Igreja Católica tem uma contribuição milenar no Ensino Superior, porque a universidade surgiu com a Igreja Católica na Idade média (Sec. X-XII) e perdura até os dias de hoje. Alguns compromissos são permanentes:

2.1. Zelo pela própria identidade: numa era de tantos desafios antropológicos, culturais e religiosos, a Universidade Católica é chamada a renovar seus compromissos com a própria identidade. Cada ato oficial da Universidade católica deve estar de acordo com a sua identidade, seus princípios, sua missão na sociedade (cf. Ex Corde Ecclesiae, Normas, art. 2).

2.2. Inseparabilidade entre Fé, Ciência, Ética e Vida: a Igreja acredita na autonomia da razão e nas suas potencialidades científicas; mas também é ciente da sua fragilidade, podendo ser ideologizada e distorcida. A razão autêntica está sempre em busca da verdade que tem uma íntima relação com a ética e a defesa da Vida, buscando respostas legítimas para os problemas humanos (cf. Fides et Ratio, 15); quando razão e fé se separam, aquilo que é tecnicamente possível passa a ser moralmente justificado. O respeito à natureza do ser define o mapa ético a ser trilhado pela ciência;

2.3. Promoção da seriedade científica: a universidade Católica conta com uma comunidade acadêmica rigorosa e crítica que contribui para a salvaguarda e o desenvolvimento da dignidade humana e da herança cultural, através do ensino, da pesquisa e serviços (cf. Ex Corde Ecclesiae, 15);

2.4. Preservação da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade: trata-se de critérios fundamentais que qualificam a proposta acadêmica e proporcionam a unidade dos saberes na distinção e respeito pelas suas múltiplas, conexas e convergentes expressões (cf. VeritatisGaudium, 4c);

2.5. Zelo pela responsabilidade social: a Igreja vive uma íntima relação com o mundo e sua história, com suas “alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias” (GS, 1); por isso a Universidade Católica traz consigo a consciência do dever de contribuir para a transformação social, da promoção do progresso integral dos povos, do bem comum, da justiça e da paz, estimulando o fortalecimento da civilização do amor (cf. Ex Corde Ecclesiae, 30, 34, 45);

2.6. Abertura à transcendência: “não podemos esquecer que a verdadeira educação deve apresentar uma visão completa e transcendente da pessoa humana e educar a consciência das pessoas. Para isso são necessárias uma justa antropologia, filosofia, bioética, teologia” (ExcordeEcclesiae, 15); por isso a Universidade Católica contrariaria a sua vocação se se fechasse ao sentido do absoluto e do transcendente, cuja aspiração mais elevada é conhecer o Verdadeiro, o Bom, o Belo, e esperar num destino que o transcenda (cf. João Paulo II, Mensagem ao mundo Universitário, 1983);

2.7. Sintonia com o mundo do trabalho: o universo acadêmico deve acolher as demandas da sociedade e dar respostas concretas aos problemas do mundo do trabalho em todas as áreas, pois está comprometida com a formação de autênticos profissionais; com a formação humanista, ética e cristã a Igreja promove uma visão profunda do trabalho humano; “É preciso criar ocasiões que permitam que o mundo das empresas, das várias profissões e o mundo universitário se encontrem…” (A Educação Católica. InstrumentumLaboris, N. 2c.);

2.8. Acompanhamento da Comunidade Educativa: os educadores da Universidade Católica, seja qual for a sua categoria, devem distinguir-se por honestidade de vida, integridade de doutrina e constante dedicação ao desempenho do cargo que assumiram (cf. CIC, Cann. 810, 818; VG, Normas, art. 26).

Todos esses compromissos e, tantos outros, caracterizam a amplitude, a profundidade e a seriedade do Ensino Superior Católico. Trata-se de um compromisso de formação diferenciada de novos profissionais; a Igreja não só se sente empenhada na formação técnica e científica de novos sujeitos, mas quer sobretudo, capacitar pessoas para que sejam humanamente sensíveis, eticamente justas, tecnicamente competentes; homens de bem, promotores de um mundo mais justo e fraterno através da ciência aliada à vida e ao trabalho honesto.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1 – Quais são os maiores desafios internos do Ensino Superior Católico?
2 – Quais desafios da cultura contemporânea mais ameaçam a Educação Católica no Ensino Superior?
3 – Por que para o Ensino Superior Católico há uma inseparabilidade entre Fé, Ciência, Ética e Vida?

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