O Papa Francisco tem percorrido todo o mundo nas visitas apostólicas, com as quais leva a boa nova do Evangelho, coloca-se à disposição de pessoas, de grupos e de governos para mediar o diálogo e ações efetivas em busca do bem comum e do desenvolvimento sustentável, que leve em conta os direitos humanos, com a dignidade inalienável de todas as pessoas. O mundo inteiro se volta para aquele que acolheu o chamado de Deus e o realiza construindo pontes entre os povos. Afinal, ele é “Pontífice”! E nós, cristãos, damos graças a Deus por esta magnífica estação de evangelização planetária, com gestos e palavras que tocam os corações das pessoas e abrem as portas dos povos à verdade do Evangelho. Dizem alguns que um dos maiores milagres realizados pela Providência Divina é oferecer a cada época o Papa adequado para as situações existentes no mundo e na Igreja. Sim, porque o Papa tem, pela vocação que lhe é própria, uma missão de serviço universal, que se estende a todos os homens e mulheres de boa vontade, dialogando com todos, valorizando o que é bom em todos os ambientes.
O espectro que se abre diante do Papa Francisco é muito amplo. Quem vai a Roma e participa da Oração do Angelus, nos domingos, ao ver e ouvir o Papa, pode olhar em torno e verificar a variedade das pessoas presentes, quanto à cultura, raça, cor, convicção religiosa. A Basílica de São Pedro é repleta de turistas vindos de todas as partes. Certamente, as milhares de pessoas que ali entram não são sempre católicos e nem mesmo cristãos. São pessoas destinadas à salvação, que nos é merecida pelo sacrifício de Jesus Cristo, mas tantas nem acolheram diretamente o apelo da evangelização. Para muitas, será a arte e a beleza o caminho para ouvirem falar de Jesus Cristo. Muita gente trará em sua bagagem interior o bem que é capaz de fazer, sobretudo no serviço aos pobres, o que tem muito valor aos olhos de Deus. Para outras, tenho a certeza, será o sorriso aberto do Papa Francisco que abrirá as vias para o conhecimento de Jesus Cristo e da Igreja.
Com certa frequência a religião se torna motivo de discussão e mesmo de disputa de espaço ou, ainda mais grave, razão para agressão recíproca no meio da sociedade. No entanto, é sua tarefa justamente “religar” as pessoas com Deus e umas com as outras. Já Moisés teve que ensinar ao seu jovem ajudante Josué, que não era necessário impedir pessoas de profetizarem (Cf. Nm 11, 25-29). E Jesus explicou a João (Cf. Mc 9, 38-48) e aos seus outros discípulos a lição até hoje aberta a todos: “Quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9, 40). O cristão não é contra ninguém, mas contra a maldade e o pecado e a favor de todas as pessoas humanas.
No mundo pluralista em que vivemos, não se trata de criar cavalos de batalha para combater quem quer que seja, mas lançar cordas de amor capazes de alcançar as outras margens, como faz o Senhor com seu povo: “Eu os lacei com laços de amizade, eu os amarrei com cordas de amor; fazia com eles como quem pega uma criança ao colo e a traz até junto ao rosto. Para dar-lhes de comer eu me abaixava até eles” (Os 11, 4). Alcançando outras margens, trata-se de construir pontes com pessoas e grupos existentes na sociedade, superando barreiras que antes pareciam intransponíveis. Aliás, vale apena dizer que, dentro de poucos dias, Belém espalhará sua corda do Círio de Nazaré, com a qual Nossa Senhora une com cordas em amor, em nome de seu Filho, pessoas muitas vezes indiferentes e distantes.
De fato, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história… Já que por todos morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido” (Gaudium et Spes 1. 22).
Se esta é a nossa vocação, nascem algumas exigências irrenunciáveis para a vida cristã. Olhar ao redor é verificar o bem que as pessoas fazem, ajudando a afofar a terra do coração humano, para que cresça este bem. Descobrir a bondade existente nas pessoas afastadas, nos que estão presos, nos que se encontram mergulhados no mundo da droga, naquelas pessoas para as quais a sociedade não acende uma luz de esperança. Depois, fazer sempre o bem, evitando o olhar e as atitudes de suspeita, diante de quem é diferente ou pensa e age de forma diversa. Vale o dito popular de “fazer o bem sem olhar a quem”. Tanto é verdade que Jesus valoriza até um copo d’água dado por amor (Cf. Mc 8, 41). Outra exigência é prestar atenção nas sementes de verdade que se encontram na cabeça e nas palavras de pessoas que se fazem indiferentes ou até agressivas a nosso respeito. Certamente muitos de nós poderão tomar a dianteira, com iniciativas corajosas de diálogo com quem é diferente.
Entretanto, o relacionamento e o diálogo com o mundo e as pessoas diferentes não significam relaxamento de nossa parte, quanto às convicções e práticas de vida. De fato, dos discípulos que empreenderam o caminho de seu seguimento, o Senhor pede radicalidade. Não escandalizar quem quer que seja, viver com coerência o Evangelho, não ceder à mediocridade (Cf. Mc 9, 42-47). Um princípio cheio de sabedoria afirma que “comigo, o máximo de exigência, com os outros, o máximo de misericórdia”. Estar prontos à radicalidade, cortar radicalmente a prática da maldade, escolher o caminho da verdade e da justiça, pois sabemos que “àqueles que, perseverando na prática do bem, buscam a glória, a honra e a incorruptibilidade, Deus dará a vida eterna. Para aqueles, porém, que por rebeldia desobedecem à verdade e se submetem à iniquidade, estão reservadas a ira e a indignação. Tribulação e angústia para todo aquele que faz o mal, primeiro para o judeu, mas também para o grego, glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu, mas também para o grego, pois Deus não faz acepção de pessoas” (Rm 2, 5-9).
Peçamos a Deus esta mudança de vida: “Ó Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia, derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais. Amém”