O Documento de trabalho para a etapa continental – ALARGA A TUA TENDA – em preparação para o Sínodo 2021-2024 traz uma síntese da fase de escuta que aconteceu em todas as regiões do mundo, através das conferências. Continuo, ainda nesta semana, apresentando aqui trechos selecionados, recomendando a todos que busquem o texto completo para uma leitura mais aprofundada.

O número 71 afirma que diante das tensões, explicitadas pelos relatórios das dioceses, “não devemos ter medo, mas articulá-las num processo de constante discernimento em comum, de modo a aproveitá-las como fonte de energia, sem que se tornem destrutivas: só assim será possível continuar a caminhar juntos, em vez de andar cada um pelo seu caminho. Por isso, a Igreja tem necessidade de dar uma forma e um modo de proceder sinodal também às próprias instituições e estruturas, particularmente de governo. Caberá ao direito canônico acompanhar este processo de renovação das estruturas, também através das necessárias modificações das ordens atualmente em vigor”. E o número 72 ressalta que “esta nova visão terá necessidade de ser apoiada por uma espiritualidade que apresente instrumentos para enfrentar os desafios da sinodalidade sem os reduzir a questões técnico-organizativas, mas vivendo o caminhar juntos ao serviço da missão comum, como ocasião de encontro com o Senhor e de escuta do Espírito. A fim de que haja sinodalidade, é necessária a presença do Espírito e não há Espírito sem oração”.

O número 74 trata das estruturas e instituições da Igreja e lembra que a dinâmica da sinodalidade interpela a Cúria Romana, as conferências episcopais, e todas as demais instâncias da Igreja. E o número 76 fala que “a Etapa Continental, pela proposta de realizar assembleias eclesiais e episcopais, oferecerá ocasião de experimentar concretamente como articular sinodalidade eclesial e colegialidade episcopal, além de refletir sobre como melhorar a sintonia entre modalidades ordinárias do exercício do ministério episcopal e a assunção de um estilo plenamente sinodal, ponto sobre o qual algumas sínteses notam certa fadiga. A releitura da experiência amadurecida durante a Etapa Continental ajudará a discernir como proceder com maior fluidez”.

O número 77 considera que “as Igrejas Orientais oferecem uma ampla riqueza de estruturas sinodais, chamadas hoje a renovar-se. Em seguida, o número 78 lembra que em “nível local discutiu-se sobre a necessidade de ter estruturas e organismos que reflitam autenticamente um espírito de sinodalidade”. Acima de tudo, trata-se dos conselhos pastorais, chamados a ser sempre mais lugares institucionais de inclusão, diálogo, transparência, discernimento, avaliação e responsabilização de todos. No nosso tempo são indispensáveis. Vão depois acrescentados os conselhos econômicos, diocesanos e paroquiais, sem esquecer os conselhos episcopais e presbiterais junto do bispo. De não poucas sínteses emerge a exigência de que estes organismos não sejam só consultivos, mas lugares em que se tomam decisões com base em processos de discernimento comunitário e não segundo o princípio de maioria tal como é utilizado nos regimes democráticos”.

O número 79 aborda um aspecto de grandíssima importância nos tempos atuais: a questão da transparência. “A Igreja católica deve tornar-se mais aberta e transparente: tudo é feito em segredo. Nunca são tornadas públicas as ordens do dia e os verbais do conselho paroquial, nem se discutem as decisões do conselho dos assuntos econômicos e os orçamentos não são tornados públicos”. … A transparência impulsionará uma verdadeira prestação de contas de todos os processos de decisão, incluídos os critérios usados para o discernimento. Um estilo de liderança ancorado num modo de proceder sinodal produzirá confiança e credibilidade: “Sobre algumas questões, o exercício da autoridade é efetivamente colegial, através da consulta dos organismos inseridos nas diversas estruturas de administração, gestão e animação pastoral […]. Mas é por vezes triste constatar que na nossa Igreja Católica há bispos, padres, catequistas, responsáveis de comunidade… muito autoritários. […] Em vez de servir a comunidade, alguns servem-se a si mesmos com decisões unilaterais, e isto é um obstáculo no nosso caminho sinodal”. Além disso, muitas sínteses reclamam a exigência de comprometer pessoas que possuam adequadas competências profissionais na gestão das competências econômicas e de governo”.

Colunistas