Jesus nasceu em Belém em vista de uma entrega de vida pela nossa salvação. Belém aconteceu em vista de Jerusalém. Na Liturgia da Igreja, tudo o que se celebra acontece em torno do Mistério da Morte e Ressurreição de Cristo. Participar da Missa de Natal é celebrar a Páscoa de Cristo, sempre presente, luz definitiva para todos os acontecimentos, para passarmos da morte para a vida, sinal de esperança para toda a humanidade. A “Casa do Pão” por excelência é a Mesa Eucarística!

Tomamos a liberdade de relembrar um canto magnífico, por sinal, de Semana Santa, que reza assim; “Abra a porta povo, que ele vem Jesus, ele vem cansado com o peso da Cruz… Que Jesus é meu, e eu sou de Jesus, Jesus vai comigo, e eu vou com Jesus”. À luz do Mistério de Morte e Ressurreição de Cristo, queremos fazer do presente Natal uma festa de portas abertas, num tempo em que muitos se afastaram do presépio, tantos perderam o rumo da estrela de Belém, e o fantasma da indiferença se espalha como rastilho de pólvora, suscitando generalizada perda de sentido, gritando por compromisso missionário, a fim de que portas se abram e todos venham a experimentar-se unidos a Jesus.

A porta do Presépio está aberta, sem limites para qualquer pessoa. Da parte de Deus, não há exclusões programadas. É importante anunciar esta verdade por toda parte. Podemos até dar desculpas! Um pensa ser muito pequeno para estar diante de Deus, outra pessoa tem uma “ficha suja” de dar vergonha! Pode haver gente que se sinta julgada pelos conceitos que se espalharam, com as etiquetas que criamos uns para os outros! O convite do Natal é correr atrás da porta aberta, descobrir a estrada que conduz a Belém, sem medo de quem quer que seja!

Vale olhar um pouco para as pessoas que acorreram primeiro para conhecer Jesus. Os pastores, homens simples e pobres que cuidavam de seus rebanhos. Seu lugar eram as periferias de Belém e foram os primeiros a receber o anúncio vindo do Céu. Outro grupo, estrangeiros que chamamos de Reis Magos, pessoas cujas normas religiosas vigentes seriam consideradas rejeitadas e excluídas. No entanto, a estrela que os conduziu era sinal da busca ansiosa pela verdade, e sabemos que verdade tem nome, é Jesus Cristo.

Se partimos de Belém de Judá e percorrermos as estradas da Judeia e da Galileia, e Galileia era sinônimo de vizinhança com o paganismo, encontraremos uma leva de gente machucada, coxos, aleijados, cegos, paralíticos, surdos e mudos, publicanos, pecadores de todo tipo, prostitutas, estrangeiros. A marca da presença de Jesus, cujo nome quer dizer “Deus salva”, é acolher a todos, sem julgamentos. Grande alegria pode brotar dentro do coração, reforçando o fato de que Deus quer salvar a todos!

Passo seguinte é descobrir os caminhos para que o Natal e toda a história de nossa salvação escrita pelo Senhor Salvador, cheguem a todas as pessoas que ainda não têm conhecimento dele e de seu amor. Comecemos com o nosso coração. Celebrar o Natal signifique vencer preconceitos e julgamentos em relação a todas as pessoas e situações humanas. Não significa dizer que tudo o que se diz ou se faz é certo ou correto, mas quer dizer que a valorização do bem existente em pessoas que seriamos levados a condenar será com certeza mais eficaz para que as pessoas se conscientizem e sejam conduzidas a uma vida nova. Um sorriso aberto, mãos estendidas, abraço sincero! Gestos que se tornam questionadores por si mesmos, sem palavras condenatórias.

No ambiente antes lembrado de indiferentismo que se espalha por toda parte, só o amor e a capacidade de ouvir poderá abrir horizontes de diálogo e relacionamento. Acreditar que Jesus, o Jesus do Natal e do Mistério Pascal está presente quando as pessoas se querem bem, esta é a estrada! Nada é mais forte do amor, com o qual se vai ao encontro de qualquer pessoa! A primeira porta que se abre sou eu mesmo!

Natal é ainda apelo à missão, pois a abertura das portas depende do ferrolho que só se encontra dentro do coração de cada pessoa. Entrar no Presépio pede ainda a capacidade de sair para levar aos outros a mensagem das portas abertas, com a qual o amor eterno de Deus veio ao encontro da humanidade. E aqui um gesto que é verdadeira arte: dar o primeiro passo! Cumprimentar os vizinhos é missão! Participar de campanhas de partilha e caridade é missão. Ser o primeiro a dar resposta quando a Paróquia pede um serviço é missão. Perdoar e ir ao encontro da pessoa que tem algo contra nós é missão! Fazer a experiência do amor recíproco, em que aprendemos a dar e receber atenções, também isso é missão!

Vale recordar que as portas da Igreja devem estar sempre abertas, superando burocracia, cara fechada, má vontade! Quantas pessoas simples e desejosas de acolhimento podem estar receosas de se aproximarem de nossas igrejas, Paróquias e Comunidades. A pastoral da acolhida e a pastoral a visitação têm sido uma experiência preciosa.

Uma Igreja de portas abertas é também o espaço para as vocações, e isso também é Natal! Se nossas famílias forem acolhedoras com os mais pobres, se desde pequenas as crianças aprenderem a sensibilidade para a caridade e o serviço, teremos terreno fértil para Deus chamar especialmente os jovens ao seu serviço. O Natal se irradia envolvendo a todos, fazendo cada pessoa descobrir o seu lugar e seu modo de fazer o bem. Acrescente-se a isso a superação dos julgamentos, pois Deus tem um olhar único para cada pessoa. Ninguém considere menos importante o caminho percorrido pelos outros dentro da Igreja, pois há lugar para todos. Aliás, o próprio Senhor disse que na Casa do Pai há muitas moradas (Cf. Jo 14,2). Podemos começar aqui!

Não é difícil entender que o Natal da Igreja é muito mais abrangente do que qualquer outra manifestação festiva existente. Assim é que nossa Igreja, sem desprezar as legítimas expressões emocionais e afetivas, deseja ampliar o horizonte, com as condições necessárias a um ano novo diferente, marcado pela força do Evangelho. Desejamos que dois espaços sejam valorizados no Natal, com as propostas que fazemos, a participação na celebrações litúrgicas e a família!

Santo e feliz Natal!

 

 

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