Alegrias e esperanças, tristezas e angústias

 

Desejamos concluir em reflexão, oração e ação de graças o ano de 2022, com palavras que certamente nos acompanharão no Ano Novo, dedicado, por convocação do Papa Francisco, à redescoberta e valorização do Concílio Vaticano II, como parte da preparação do Grande Jubileu do ano de 2025: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história”. (Constituição Gaudium et Spes, 1). Com o Papa Francisco, estamos conscientes, diante do mundo, que – “Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da covid-19 para traçar sendas de paz”.

O tempo corre veloz! No início do ano, como fazemos sempre, dissemos que se tratava do ano da graça do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. E este foi, realmente, um ano da graça, com tudo o que o Senhor nos concedeu. Entretanto, foram também abundantes as surpresas oferecidas pelas muitas curvas da vida. A modo de revisão de vida e com a disposição para olhar para frente e para o alto, queremos elencar algumas das alegrias e esperanças, tristezas e as angústias, para filtrar tudo isso no mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo.

Vamos lá! As alegrias! Foram abundantes aquelas que nos envolveram, como fruto da ação do Espírito Santo em nós e entre nós! A Igreja vive a alegria do pontificado do Papa Francisco, uma voz que sempre é ouvida, inclusive por muitas pessoas ou grupos que não acolhem a Igreja, mas sempre querem saber o que pensa e diz o Papa. Um “jovem ancião” de oitenta e sete anos, uma boa parte do tempo numa cadeira de rodas, o que ajuda a valorizar os enfermos e debilitados! Há poucos dias afirmou de novo que a Igreja é governada com a cabeça e não com os joelhos, referindo-se ao problema físico que o incomoda! Uma verdadeira enxurrada de homilias, cartas, exortações e preces, muitas vezes carregadas de emoção, como aconteceu, recentemente, na Solenidade da Imaculada Conceição. Aqui, em nossa Igreja de Belém, a alegria da realização do Primeiro Sínodo Arquidiocesano e o novo Plano Arquidiocesano de Pastoral, que está no prelo, para ser lançado no início do ano. A alegria das muitas vocações para o serviço da Igreja, as ordenações diaconais e sacerdotais, as Paróquias e Áreas Missionárias criadas, a volta dos fiéis para a vida de Igreja, depois das dores suscitadas pela pandemia. Não nos esqueçamos do Círio de Nazaré, vivido com multidão de pessoas e de piedade, conduzidos que fomos por Maria, Mãe e Mestra! E a vida das Paróquias, Comunidades, Pastorais, Movimentos e Serviços! Houve muito mais alegrias e motivos de ação de graças do que problemas!

As Esperanças! A virtude da Esperança é a certeza de que nossa vida nesta terra tem rumo e que Jesus Cristo é Senhor, Alfa e Ômega, princípio e fim. Sabemos que esta Esperança é filha de nossa Fé! Por isso não desanimamos, mesmo quando os problemas se avolumam. Quem espera e confia num mundo melhor, mais justo e fraterno, pode saber com clareza que a Igreja Católica compartilha este sonho e ajuda a construí-lo, recolhendo o que existe de positivo nos corações das pessoas, nas famílias muitas vezes fragilizadas, nos pequenos e pobres que dela aguardam presença, solidariedade e compromisso.

As tristezas e as angústias! Depois da pandemia, houve muito luto e choro em nossas famílias e nossa sociedade. Dentre tantas e profundas tristezas do ano que vivemos, cumpro o dever de salientar a fragmentação gerada nos meses que nos antecedem em nosso país. Com liberdade, diante de opções sociais ou políticas, temos a lamentar, além dos graves problemas da sociedade, as divisões nas famílias e comunidades, o ódio e a agressão que tantas vezes tomou conta de muitos corações, levando a atitudes pesadas e radicais. A Igreja quer assumir com todos os irmãos e irmãs a responsabilidade de trabalhar pela restauração dos laços de amizade e de fraternidade, a fim de que descubramos que há muito mais coisas que nos umem do que as que nos dividem. Lembremo-nos da palavra do Senhor: “Que todos sejam um, para que o mundo creia!” (Jo 17,21)

Diante dos muitos desafios, a Igreja, através da Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz – “Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da covid-19 para traçar sendas de paz”, a Igreja quer abraçar tudo o que é humano e dar a sua contribuição: “Enfim, o que podemos fazer? Antes de tudo, deixarmos mudar o coração pela emergência vivida, permitir que, neste momento histórico, Deus transforme os nossos critérios habituais de interpretação do mundo e da realidade. Não podemos continuar a pensar apenas em salvaguardar o espaço dos nossos interesses pessoais ou nacionais, mas devemos repensar-nos à luz do bem comum, com um sentido comunitário, como um nós aberto à fraternidade universal. Não podemos ter em vista apenas a nossa proteção, mas é hora de nos comprometermos todos em prol da cura da nossa sociedade e do nosso planeta, criando as bases para um mundo mais justo e pacífico, seriamente empenhado na busca de um bem que seja verdadeiramente comum. Para fazer isto e viver melhor, não se pode ignorar um dado fundamental: as crises morais, sociais, políticas e econômicas que vivemos são todas interligadas, e os problemas que consideramos como singulares, na realidade um é causa ou consequência do outro. E assim somos chamados a enfrentar, com responsabilidade e compaixão, os desafios do nosso mundo. Devemos repassar o tema da garantia da saúde pública para todos; promover ações de paz para acabar com os conflitos e as guerras que continuam a gerar vítimas e pobreza; cuidar da nossa casa comum e implementar medidas claras e eficazes para fazer face às alterações climáticas; combater o vírus das desigualdades e garantir o alimento e um trabalho digno para todos, apoiando quem não tem sequer um salário-mínimo e passa por grandes dificuldades. Fere-nos o escândalo dos povos famintos.

Precisamos desenvolver, com políticas adequadas, o acolhimento e a integração, especialmente em favor dos migrantes e daqueles que vivem como descartados nas nossas sociedades. Somente despendendo-nos nestas situações, com um desejo altruísta inspirado no amor infinito e misericordioso de Deus, é que poderemos construir um mundo novo e contribuir para edificar o Reino de Deus, que é reino de amor, justiça e paz. Compartilho estas reflexões com a esperança de que, no novo ano, possamos caminhar juntos valorizando tudo o que a história nos pode ensinar. Formulo votos de todo o bem aos Chefes de Estado e de Governo, aos Responsáveis das Organizações Internacionais, aos líderes das várias religiões. Desejo a todos os homens e mulheres de boa vontade que possam, como artesãos de paz, construir dia após dia um ano feliz! Maria Imaculada, Mãe de Jesus e Rainha da Paz, interceda por nós e pelo mundo inteiro”. (Cf. Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz).

Colunistas