As duas faces da solidão

Consultando-se o ‘Aurélio’ encontramos logo no primeiro verbete o significado de solidão: ‘Estado de que se encontra ou vive só; isolamento’. É a realidade que ora vivemos, diante da pandemia que assola a Humanidade.

Na condição de idosos, minha esposa e eu, somos atingidos pelas restrições decorrentes do isolamento social de forma mais incisiva, na medida em que perdemos a companhia presencial de familiares e amigos. O isolamento vem nos privando da convivência quase diária, que tínhamos com o nosso netinho caçula, que durante seus primeiros nove anos, nos fazia companhia desde a hora do almoço, permanecendo conosco o resto da tarde, enquanto seus pais trabalhavam. Nos dias de hoje, estamos limitados a ouvir sua voz tênue, de criança, ao telefone, deixando-nos saudosos da sua alegria, das traquinagens que por último vinha ‘aprontando’. Para muitos, tal isolamento vem se constituindo como o ‘pano de fundo’ em que o medo é o principal ator, que se manifesta agressivo, diante da perda de amigos e de pessoas conhecidas. Esta é a face dolorosa da solidão, que entristece, maltrata.

No entanto, por paradoxal que seja, a outra face da solidão pode oferecer o gozo que enleva, que afaga nossos corações, nos levando a meditar sobre a vida. Assim é que, o mesmo casal que ora é vítima do medo e da tristeza, já deixou-se encantar pela face gozosa da solidão. Ora recordo os momentos de enlevo vividos, ao chegarmos no topo de uma montanha, com cerca de 1.600 metros de altitude, na região sul das Minas Gerais. Cheguei a dizer para minha esposa: escute, o ‘silêncio’ da montanha, enquanto descortinávamos o terreno ondulado a nossa volta, com linhas sinuosas, obra da Criação a nos encantar. Não estávamos a sós!

No final deste mês de março, do ano dedicado ao Patrono Universal da Igreja, peçamos: São José, rogai por nós, pelas famílias do mundo inteiro.

 

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