Carismas, vocações e ministérios

 

O Documento de trabalho para a etapa continental – ALARGA A TUA TENDA – em preparação para o Sínodo 2021-2024 traz uma síntese da fase de escuta que aconteceu em todas as regiões do mundo, através das conferências. Continuo, ainda nesta semana, apresentando aqui trechos selecionados, recomendando a todos que busquem o texto completo para uma leitura mais aprofundada.
O número 63 apresenta a contribuição dos Institutos de Vida Consagrada: “Nos processos de decisão e na linguagem da Igreja, o sexismo está muito difuso […]. Consequentemente, às mulheres são barrados papéis significativos na vida da Igreja e sofrem discriminações pois não recebem um salário igual para as funções e serviços que desempenham. As religiosas são muitas vezes consideradas como mão de obra barata”.

O número 64 considera a questão da plena e igual participação das mulheres: “O crescente reconhecimento da importância das mulheres na vida da Igreja abre possibilidades de maior participação, ainda que limitada, nas estruturas eclesiais e nas esferas de tomada de decisões” (CE Brasil). Contudo, não concordam quanto a uma resposta única e exaustiva à questão da vocação, da inclusão e da valorização das mulheres na Igreja e na sociedade”. E em seguida, número 65, vem em relevo: “Há sementes de sinodalidade onde se abre um novo terreno de solidariedade: ocorre assegurar um futuro de justiça racial e étnica e de paz para as irmãs e os irmãos negros, mestiços, asiáticos e nativos americanos (Estados Unidos); relacionar-se em profundidade com as irmãs e os irmãos indígenas e nativos (Américas); abrir novos caminhos de presença das religiosas nos diversos movimentos; aliar-se com grupos que partilham a mesma orientação para enfrentar questões sociais fundamentais (como as mudanças climáticas, o problema dos refugiados e requerentes de asilo, dos sem-abrigo), ou relativos a países específicos” (USG/UISG). Nestes contextos, as mulheres procuram colaboradores e podem ser mestras de sinodalidade dentro de processos eclesiais mais amplos”.

O número 66 afirma que a responsabilidade pela vida sinodal da Igreja não pode ser delegada, mas deve ser partilhada por todos em resposta aos dons que o Espírito Santo concede aos fiéis: “Um grupo da Diocese de Lae expressou-se assim sobre a sinodalidade na sua paróquia: «Nas reuniões do conselho pastoral paroquial, fazemos de modo a tomar em consideração as opiniões e as sugestões de todos os presentes, inclusive das mulheres, antes de tomar decisões que terão impacto sobre a vida de todos na paróquia». Uma outra paróquia assim comentou: «Quando queremos fazer qualquer coisa na nossa paróquia, reunimos, ouvimos as sugestões de todos na comunidade, decidimos em conjunto e em conjunto levamos para a frente as decisões tomadas»” (CE Papua, Nova Guiné e Ilhas Salomão). Não falta, contudo, a expressão de uma certa fadiga em praticar efetivamente a corresponsabilidade: “Como bispos reconhecemos que a «teologia batismal» promovida pelo Concílio Vaticano II, base da corresponsabilidade na missão, não foi suficientemente desenvolvida e assim a maioria dos batizados não sente uma plena identificação com a Igreja e ainda menos uma corresponsabilidade missionária. Além disso, a liderança das atuais estruturas pastorais, assim como a mentalidade de muitos sacerdotes, não favorecem esta corresponsabilidade. Do mesmo modo, os religiosos e as religiosas, assim como os movimentos apostólicos laicais, muitas vezes permanecem sutil ou abertamente nas margens das dinâmicas diocesanas. Assim, os chamados «leigos empenhados» nas paróquias (que são os menos numerosos) acabam por ficar sobrecarregados de responsabilidades intra-eclesiais que superam as suas forças e esgotam o seu tempo” (CE México).

E continua o documento tratando deste mesmo assunto no número 67 afirmando que “este desejo de corresponsabilidade exercita-se antes de tudo na chave do serviço à missão comum, isto é, com a linguagem da ministerialidade: “A experiência feita […] ajudou a redescobrir a corresponsabilidade que vem da dignidade batismal e deixou emergir a possibilidade de superar uma visão de Igreja construída à volta do ministério ordenado para ir em direção a uma Igreja «toda ministerial», que é comunhão de carismas e ministérios diversos” (CE Itália). Da consulta ao Povo de Deus emerge o tema do ministério como central para a vida da Igreja e a exigência de conciliar a unidade da missão com a pluralidade dos ministérios: reconhecer tal exigência e promovê-la “não é um fim em si mesmo, mas uma valorização de serviço da missão: atrizes e atores diversos, iguais em dignidade, complementares para serem sinal, para tornar credível uma Igreja que seja sacramento do Reino” (CE Bélgica)”.

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