Comunhão Eclesial: instrumentos que contribuem para a sinodalidade – parte 12

Introdução
Com este artigo queremos concluir esta série de catequeses sobre a importância da Comunhão na vida da Igreja. A comunhão gera a sinodalidade, ou seja, o testemunho do caminhar juntos, como estrada fraterna de missão promovendo o Reino de Deus. O caminhar juntos é um desafio e séria tarefa que cada líder deve abraçar por convicção.

A convicção de que a comunhão é fruto do Espírito Santo não nega a verdade de que também a mesma passa pela responsabilidade humana que requer zelo, visão estratégica, capacidade de liderança que estimule todos a caminharem juntos. Temos uma certeza: quem trabalha sozinho faz um mal tremendo à Igreja em todos os níveis. A seguir apresentamos uma série de instrumentos que podem muito contribuir para a promoção e manutenção do clima de comunhão fraterna e ação harmoniosa na Igreja em diversos níveis.

1 – Plano Pastoral: um plano pastoral apresenta as diretrizes a serem seguidas nas (arqui)dioceses, prelazias, paróquias, comunidades, organismos, pastorais…; o plano é um instrumento que tem como finalidade estimular a convergência, a sinergia, a ação conjunta na missão. Um plano pastoral define prioridades a serem seguidas, linhas de ação, pistas, estratégias de atuação pastoral. Trata-se de um instrumento que convoca e estimula todas as organizações católicas a caminharem em Comunhão num determinado contexto. Sem plano uma instituição está sem rumo, sem norte, sem compromissos predefinidos. Dessa forma se favorece rumos diferentes, conflitantes, posturas inadequadas e choques de mentalidades.

2 – Projeto Pastoral: um plano pastoral deve ser concretizado através de um projeto específico a partir da própria realidade local, por exemplo, das paróquias. Sem um projeto para concretizar um plano pastoral cada instituição se torna independente, isolada e, perdendo o senso de comunhão, corre o risco de se tornar um feudo. Na paróquia, o projeto pastoral compromete a comunidade local a lutar para por em prática determinadas metas da (arqui)diocese e estimula a convergência de intenção das lideranças.

3 – Critérios e Orientações Pastorais: as paróquias, em geral, são animadas por uma série de forças vivas, ou seja, de organizações internas; todas elas devem estar a serviço da Igreja e em comunhão com a mesma. Mas é necessário que haja critérios e orientações específicas para promover a clareza do serviço das lideranças. Nenhum líder, coordenador de comunidade, de grupo, pastoral ou movimento deve fazer como quer; mas servir em comunhão! Também o tempo do serviço de liderança deve ser definido. É importante que no âmbito paroquial o pároco seja capaz de dar orientações para que todos trabalhem em sinergia, de forma orgânica e em harmonia com a (arqui)diocese. Somos uma família. Quando isso não acontece os serviços pastorais ficam à deriva dos carismas e caprichos individuais.

4 – Os Conselhos: o pároco não deve trabalhar sozinho. Jesus chamou colaboradores para que o ajudassem. São Paulo fez o mesmo! Por isso, temos em nível Paroquial há dois importantes conselhos: o CPP (Conselho Pastoral Paroquial) e o COPAE (Conselho Pastoral para Assuntos Administrativos e Econômicos). Os conselheiros tem a responsabilidade de ajudar o pároco na gestão da vida pastoral da paróquia; esses conselhos não são opcionais, mas institucionais. Toda paróquia deve ter o seu CPP. É uma exigência do Direito Canônico; a colegialidade amplia a profundidade do discernimento nas decisões. Em nível comunitário deve haver o CPC (Conselho Pastoral Comunitário) que tem a missão de ajudar o Coordenador da Comunidade no exercício de animação e liderança da comunidade. Não é bom liderar sozinho, pois quando isso acontece facilmente há desvios por causa da vaidade.
5 Coordenação de Pastoral: a coordenação de pastoral é constituída por um grupo de leigos e ou religiosos, escolhidos pelo CPP, que tem a função de encaminhar as resoluções do mesmo, acompanhar as atividades pastorais da Paróquia e estimular a animação das pastorais, movimentos, grupos e serviços. Quando numa paróquia há uma boa coordenação de pastoral, em geral, as decisões e compromissos assumidos no Projeto Pastoral Paroquial não são esquecidos. Essa é uma forma do pároco compartilhar seu serviço de animação da vida pastoral da Paróquia.

6 – Agenda Paroquial: outro instrumento muito importante que ajuda na promoção da sinodalidade é a agenda da paróquia, das comunidades e forças vivas. A agenda paroquial deve integrar todas as ações. Trata-se de uma questão de ordem, de disciplina, de harmonia. Onde há desordem, não há comunhão. É preciso colocar-se de acordo para se definir onde e quando fazer as coisas da melhor forma possível, respeitando a hierarquia e os níveis das ações. Por isso é importante a agenda. Conflito de eventos é um problema; quando isso acontece, é sinal de paralelismo, de dispersão, de falta de unidade; dessa forma a instituição com atividades desconexas, se fragiliza.

7 – Programação e avaliação conjunta: para que uma instituição possa se consolidar na experiência da comunhão, é necessário projetar, acompanhar e avaliar conjuntamente as atividades. Onde acontece isso, em geral, se promove a participação, o senso de pertença, a corresponsabilidade, o envolvimento, a solidariedade… A instituição se robustece, se consolida, supera problemas e crises.

8 – Formação das lideranças: a formação faz a diferença na vida de uma pessoa, porque lhe ajuda na aquisição de sensibilidade da visão, contribui para a profundidade pensamento e qualidade de ação. A formação amplia a visão de mundo (realidade), gera firmeza de ânimo, segurança na gestão das responsabilidades, estimula a importância dos valores e a prática de virtudes. Merece especial atenção a promoção de retiro com os líderes para a formação espiritual.

9 – Assembleias: são importantes momentos de escuta, de estudo, de reflexão, de discernimento e de tomada de decisão colegiadamente em diversos níveis comunitariamente. Quando todos pensam, projetam, programam juntos, é mais fácil que juntos também trabalhem, assumam responsabilidades… assim se diminui os riscos e sofremos menos prejuízos.

10 – Mutirões e Campanhas: é uma dinâmica de atividades que valoriza a todos; todos se sentem no mesmo nível; todos são corresponsáveis. Somos todos membros do mesmo corpo que é a Igreja. O mutirão nos fala de envolvimento; de solidariedade, de alegria pelo sentido de pertença.

11 – As Celebrações: toda celebração, por causa do mistério da Santíssima Trindade, do mesmo batismo, da mesma Fé, Esperança e Caridade é sempre uma experiência sinodal; educa para a comunhão. Ao centro está por excelência, a celebração do Sacramento da Eucaristia; o presidente da celebração e os fiéis renovam o compromisso de comunhão todas as vezes que celebram. É uma grande incoerência, alguém participar da Eucaristia e não viver em comunhão consigo, com os outros, com os bispos, com o papa…

12 – A festividade do padroeiro: é uma fantástica ocasião para a promoção da comunhão em toda a comunidade paroquial; estimulando a participação de todos assumindo responsabilidades nas mais variadas atividades. É uma importante ocasião para se estimular a fé das pessoas, favorecendo a renovação da consciência eclesial, o sentido de pertença, a corresponsabilidade, o amor fraterno, o respeito e fidelidade à Igreja.

13 – O acompanhamento: o ordinário monitoramento das atividades pastorais e acompanhamento de líderes é uma das estratégias mais eficazes para a promoção e manutenção da comunhão eclesial em seus diversos níveis. A “cultura da sinodalidade” ou “mentalidade sinodal” não é fruto de intervenções extraordinárias por parte dos líderes em seus diversos níveis (papa, bispos, párocos, coordenadores), é sim, sobretudo, consequência do processo de acompanhamento do dinamismo da vida da Igreja no seu cotidiano (na Diocese, nas Paróquias, nas Comunidades…). Um dos instrumentos ordinários estratégicos que muito favorece a promoção da espiritualidade sinodal são as mais variadas reuniões que acontecem. Para isso é necessário que esses eventos não sejam reduzidos a uma “indústria de tarefas”; devem ser formativas, reflexiva, sensibilizadoras. Reuniões tarefeiras são cansativas; é preciso também reservar tempo para o estudo, reflexão e partilha. Por isso é importante que se favoreça o estudo, que se relembre compromissos e se exorte sempre sobre o dever da comunhão.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1 – Qual outro instrumento ou experiência formativa favorece a comunhão eclesial?
2  – O que podemos fazer para crescer no “caminhar juntos”?
3 – Quais são prejuízos do paralelismo pastoral (de ações independentes)? Por que há grupos que insistem em trabalhar isoladamente?

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