Comunhão, participação e corresponsabilidade

 

O Documento de trabalho para a etapa continental – ALARGA A TUA TENDA – em preparação para o Sínodo 2021-2024 traz uma síntese da fase de escuta que aconteceu em todas as regiões do mundo, através das conferências. Apresento aqui trechos selecionados, recomendando a todos que busquem o texto completo para uma leitura mais aprofundada.
O número 57 do documento afirma: “A missão da Igreja realiza-se através da vida de todos os batizados”. Esta afirmação reconhece “a dignidade comum como base de renovação da vida e dos ministérios da Igreja” e confirma assim “o valor de todas as vocações na Igreja, e sobretudo convida-se a seguir Jesus, regressando ao seu estilo e ao seu modo de exercitar o poder e a autoridade como instrumento para oferecer cura, reconciliação e libertação. No número 58 fica claro que, neste momento da história da Igreja, é necessário ir “para além do clericalismo”, pois é de capital importância “libertar a Igreja do clericalismo, de modo que todos os seus membros, tanto sacerdotes como leigos, possam realizar a missão comum. O clericalismo é visto como uma forma de empobrecimento espiritual, uma privação dos verdadeiros bens do ministério ordenado e uma cultura que isola o clero e prejudica os leigos. Esta cultura separa da experiência viva de Deus e prejudica as relações fraternas, produzindo rigidez, apego ao poder em sentido legalista e um exercício da autoridade que é mais poder do que serviço. O clericalismo pode ser uma tentação, tanto para os clérigos como para os leigos, como sublinha a síntese da República Centro Africana: “alguns párocos comportam-se como «dispensadores de ordens», impondo a sua vontade sem ouvir ninguém. Os cristãos leigos na se sentem membros do Povo de Deus. As iniciativas demasiado «clericais» devem ser reprovadas. Alguns agentes pastorais, clérigos e leigos, por vezes preferem rodear-se dos que partilham as suas opiniões e ficar longe daqueles que têm convicções que lhes são hostis e deles discordam”.

O número 59 esclarece que mesmo se existe o problema do clericalismo, as sínteses “não estão privadas de esperança. Exprimem um desejo profundo e enérgico de formas de exercício da liderança – episcopal, sacerdotal, religiosa e laical – que sejam relacionais e colaborativas, e de formas de autoridade capazes de gerar solidariedade e corresponsabilidade” … “Leigos, religiosos e clérigos desejam pôr os próprios talentos e capacidades à disposição da Igreja e para fazê-lo pedem um exercício da liderança que os torne livres. As sínteses exprimem gratidão pelos líderes que já exercitam o próprio papel com esta modalidade”.

Os números 60, 61 e 62 consideram que é preciso “instaurar uma nova cultura, com novas práticas, estruturas e hábitos. Isto diz respeito, antes de mais, ao papel das mulheres e à sua vocação, enraizada na sua dignidade batismal comum, para participar plenamente na vida da Igreja. Este é um ponto crítico no qual existe uma consciência crescente em todas as partes do mundo. … “É quase unânime a afirmação que as mulheres amam profundamente a Igreja, mas muitas sentem tristeza porque a sua vida não é bem compreendida, enquanto o seu contributo e os seus carismas não são sempre valorizados”. … “Numa Igreja em que quase todos os que tomam decisões são homens, há poucos espaços nos quais as mulheres possam fazer ouvir a própria voz. E constituem, contudo, a espinha dorsal das comunidades eclesiais, quer porque representam a maioria dos praticantes, quer porque são dos mais ativos membros da Igreja”. … “A Igreja encontra-se a enfrentar dois desafios relacionados entre si: as mulheres permanecem a maioria dos que frequentam a liturgia e participam nas atividades, sendo os homens uma minoria; contudo, a maior parte dos papéis de decisão e de governo são desempenhados por homens. É claro que a Igreja deve encontrar o modo de atrair os homens a uma pertença mais ativa na Igreja e permitir às mulheres participar mais plenamente em todos os níveis da vida da Igreja”. … “Quantos participaram nos processos sinodais desejam que a Igreja e a sociedade sejam para as mulheres um lugar de crescimento, participação ativa e sã pertença. Algumas sínteses notam que as culturas dos seus países fizeram progressos na inclusão e na participação das mulheres e que estes progressos poderiam servir de modelo para a Igreja. “A falta de igualdade para as mulheres dentro da Igreja é vista como um obstáculo para a Igreja no mundo moderno” (CE Nova Zelândia).

Colunistas