Desafios para a Pastoral Juvenil: Promover o encontro, o conhecimento e a amizade com Cristo (parte 4)


Introdução

Não há verdadeira evangelização, catequese e nem pastoral sem apresentação e envolvimento com a pessoa de Jesus Cristo. Mas isso exige o enfrentamento de sérios desafios. Cresce em nossa sociedade, cada vez mais, uma espécie de “visão sincrética” sobre Jesus Cristo que o reduz a um simples sábio, filósofo, profeta, etc. Também, para muitos, Jesus é um mero conceito moral como a paz, amor, esperança, justiça.

A ignorância sobre Jesus Cristo histórico esvazia a fé cristã. A experiência de um verdadeiro encontro e amizade com a sua pessoa é essencial para a pastoral juvenil. Mas só é possível esse encontro, a amizade e o envolvimento com Jesus Cristo, se ele não for reduzido a um mero valor moral. Jesus é uma pessoa! Do conhecimento e da experiência de amizade com Ele dependem a consciência do ser discípulo, a visão sobre a Igreja, as questões morais, o Reino de Deus, o sentido da vida.

1. Jesus é o Caminho
Na Exortação Apostólica “EvangeliumGadium”, o Papa Francisco inicia afirmando que “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (EG, 1). Essa alegria é consequência de um encontro histórico, concreto, com Ele, através dos Evangelhos, que narram sua vida (palavras, gestos, atitudes, opções). De fato, percebemos na leitura dos Evangelhos que quem se encontra com Jesus não sai indiferente! Os jovens são chamados, estimulados e educados a lerem os Evangelhos. A experiência da Leitura orante dos Evangelhos é profundamente educativa, gerando a visão da beleza da pessoa de Jesus.
Esse encontro leva ao conhecimento e à descoberta Dele como o Salvador, o Filho de Deus; assim, aqueles que “se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento” (EG,1). É, dessa forma, que a Igreja cresce: por atração ao Mestre e não por proselitismo (cf. EG,14). A Pastoral Juvenil deve provocar nos jovens essa atração por Jesus Cristo! Porém, é preciso promover um processo de conhecimento e amizade com a sua pessoa!

O Documento de Aparecida, fazendo opção pela formação do discípulo missionário de Jesus Cristo, constata que existe um imenso número de pessoas distanciadas da Igreja e tantos outros que não conhecem a Cristo (cf. DA, 173, 280). O referido Documento nos convida a tomarmos consciência da importância de Jesus Cristo para toda a humanidade. Cristo é a Esperança, o Deus verdadeiro, o único Salvador da humanidade. Jesus Cristo é único e insubstituível para a humanidade; “Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Sem a pessoa de Cristo, toda a realidade humana se torna um enigma indecifrável, sem perspectiva de vida e sem a Verdade (cf. DA, 19).

2. Grandes desafios pastorais
Constatamos muitos outros desafios para a Igreja no seu processo de apresentação da pessoa de Jesus Cristo aos jovens, como por exemplo, o crescimento do pluralismo religioso, a multiplicidade de teologias e de modelos de igrejas, a confusão doutrinal, a mobilidade religiosa, o intimismo, o doutrinalismo, o moralismo, a intolerância religiosa, o fundamentalismo religioso, o ateísmo. Por outro lado, também constatamos dentro da Igreja Católica, o apego a um modelo de espiritualidade sem vínculo com a vida de Jesus e distanciado da sua paixão pelo Reino de Deus.
Há, ainda, a tentação do retorno à tendência que o Apóstolo Paulo condenou na Carta aos Filipenses, quando falava dos inimigos da Cruz de Cristo; pessoas que discursavam sobre Jesus Cristo, mas na prática, estavam longe, porque eram profundamente materialistas (cf. Fl3,17-21). Em nossos dias os inimigos da Cruz de Cristo querem a todo custo uma vida cristã baseada, simplesmente, em gratificações, louvores, bênçãos, recompensa, sucesso, prosperidade, bem-estar, ignorando o Jesus histórico que promovia o Reino de Deus e cuidava da dignidade humana.

3. Jesus Cristo é sempre jovem
Na Exortação Apostólica Chistus Vivit, o Papa Francisco convida os jovens a olhar para a beleza do dinamismo da juventude de Jesus Cristo. “Ele é a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida.(…) Ele vive e quer-te vivo!” (CV,1). A Pastoral Juvenil está convidada não só a apresentar a pessoa de Jesus Cristo, mas de modo especial a explorar os muitos aspectos da sua jovialidade.
Afirma o Papa que o Cristo está nos jovens: “Está em ti, está contigo e jamais te deixa. Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança” (CV,2). A Pastoral Juvenil, sem cair em reducionismos, realça a figura de Jesus como o amigo e o companheiro dos jovens (cf. Lc 24, 13-35). Animados pela fé, os jovens podem fazer essa experiência que os motivará a viver com alegria, superando a tristeza, a solidão, a depressão, o vazio existencial, o desânimo, os desafios do dia-a-dia.

Na parábola do Pai Misericordioso (cf. Lc 15, 11-33), “Jesus louva mais o jovem pecador que retoma o bom caminho do que aquele que se julga fiel, mas não vive o espírito do amor e da misericórdia” (CV,12). Jesus Cristo, aquele que é eternamente jovem, quer dar-nos um coração sempre jovem (cf. CV 13). “Jesus não gostava que os adultos olhassem com desprezo para os mais jovens ou os mantivessem, despoticamente, ao seu serviço. Pelo contrário, pedia: «O que for maior entre vós seja como o menor» (Lc 22, 26). Para Ele, a idade não estabelecia privilégios; e o fato de alguém ter menos anos não significava que valesse menos ou tivesse menor dignidade” (CV,14).
Jesus Cristo não só constatou a beleza presente nos jovens, mas também reconheceu suas fragilidades: o apego aos bens materiais (cf. Mt 19,20-22), a libertinagem, irresponsabilidade e o desejo de autonomia absoluta (cf. Lc 15,11-33), a desilusão (cf. Lc 24,23-35); na parábola das dez virgens aparece a menção clara à distração e despreocupação em relação ao futuro (cf. Mt 25,1-13). Para todas as situações existenciais, valem as palavras de Jesus ao filho morto da viúva: «Jovem, Eu te ordeno: Levanta-te!» (Lc 7,14). Jesus resgata e anima a vida dos jovens!
Jesus é o jovem movido pelo Espírito Santo e, impulsionado por Ele, inicia sua missão (cf. Lc 4,1). Em plena juventude, começou a sua missão pública colocando sua vida a serviço da promoção do Reino de Deus. Jesus Cristo educa os jovens à sensibilidade para com os mais pobres através de sinais concretos: curando doentes, libertando oprimidos, dando esperança aos pobres (cf. Lc 4,1-19). A Pastoral Juvenil desafia os jovens no serviço missionário; não basta a experiência de campanhas missionárias esporádicas. Os jovens são chamados, permanentemente, a serem missionários de outros jovens no contexto em que vivem.

O conhecimento, a amizade e o envolvimento dos jovens com a pessoa de Jesus Cristo, renova a Igreja; é um elemento essencial da Pastoral Juvenil. Por isso, recomenda o Papa Francisco: “Estes aspetos da vida de Jesus podem servir de inspiração a todo o jovem que cresce e se prepara para cumprir a sua missão” (CV,30). Tudo isso causará impacto positivo em sua vida pessoal, familiar, comunitária, vocacional e profissional estimulando a serem virtuosos.
Para concluir, recordemos esta provocante prece do Papa Francisco: “Peçamos ao Senhor que liberte a Igreja daqueles que querem envelhecê-la, ancorá-la ao passado, travá-la, torná-la imóvel. Peçamos, também, que a livre doutra tentação: acreditar que é jovem porque cede a tudo o que o mundo lhe oferece, acreditar que se renova porque esconde a sua mensagem e mimetiza-se com os outros. Não! É jovem quando é ela mesma, quando recebe a força sempre nova da Palavra de Deus, da Eucaristia, da presença de Cristo e da força do seu Espírito em cada dia. É jovem quando consegue voltar, continuamente, à sua fonte” (CV,35).

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1. Quais desafios você percebe para a apresentação de Jesus Cristo aos jovens?
2. Porque muitas pessoas “se apegam” a Jesus Cristo, mas não abraçam sua missão?
3. Quais são as consequências da ignorância sobre Jesus Cristo para os jovens?

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