Deus é amor, e quem ama permanece em Deus

Deus é Amor, e quem ama permanece em Deus - Arquidiocese de Belém

Somos convidados a acolher com plena disposição a palavra de Deus! A primeira Carta de São João nos provoca: “Nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco. Deus é amor. E ele amou primeiro. Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele (1 Jo 4,16). E tais palavras refletem o que o próprio Senhor nos propõe: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35). Com a luz do Evangelho, tocamos no coração de Deus e no mais íntimo de seu projeto para a humanidade, que pede pronta e renovada resposta de cada pessoa que se dispõe a seguir o Senhor no discipulado missionário, isto é, todos nós!

No Antigo Testamento, o amor a Deus com todo o coração, a alma e o entendimento passa na frente de todo o resto. Amar o próximo vem em segundo lugar. Quando vem Jesus, o Salvador prometido e esperado, diz que o segundo mandamento é semelhante ao primeiro (Mt 22,34-40). Perguntado sobre o amor ao próximo (Lc 10,15-34), propõe a figura do Bom Samaritano, que é ele mesmo, aquele que toma a iniciativa e se aproxima dos outros. Mais adiante, proclama que o “seu” mandamento é o amor mútuo e recíproco “como” ele mesmo ama, o que significa trazer a esta terra a torrente de amor nascida na Santíssima Trindade. Mais do que um lago a ser preenchido com o amor, ele quer que esta verdadeira voragem de amor nos envolva e transborde. Parece-nos ver realizada a profecia: “Alegrai-vos com Jerusalém, e nela exultai, todos vós que a amais! Regozijai-vos com ela, todos os que por ela estáveis de luto, pois sereis amamentados e saciados pelo seu seio consolador, pois sugareis e vos deleitareis no seu peito fecundo. Com efeito, assim diz o Senhor: Eis que trarei a paz como um rio e a glória das nações qual torrente a transbordar” (Is 66,10-12).

Se entendermos bem a resposta de Jesus sobre o maior mandamento da lei, reconheceremos sua força verdadeiramente revolucionária, pois com ela o Senhor unifica toda a nossa prática cristã. Se antes nossa vida era fragmentada em tantos momentos e setores de atividade, separados entre si, como o trabalho, a vida familiar, a Missa Dominical e a participação na Igreja, a cultura, o lazer, ou tantas outras coisas, agora Jesus une tudo! (Cf. “Seguendo Gesù con Matteo, Gino Rocca, Città Nuova, 2004, pág. 180). Deus amado e servido em cada irmão que passa ao nosso lado, com o mesmo amor que vem de Deus, qual torrente a transbordar. Com Jesus, tudo se ilumina, tudo renasce, tudo se renova, vem à tona um novo relacionamento com as pessoas e uma vida nova em comunidade. Entretanto, esta compreensão do amor que vem de Deus deve ser ampliada, para incluir outras pessoas e situações desafiadoras. Sabemos que o Espírito Santo age no mundo e no coração de todos.

Ninguém foi criado para o mal, o ódio e o egoísmo, e mesmo as pessoas mergulhadas nos abismos do vício, do crime e da violência, se formos de buscar uma brecha em seus corações, lá encontraremos a semente do bem e a capacidade de amar a Deus e ao próximo.
Tenhamos atenção para a gradualidade, possibilidade de crescimento no amor. Certamente, muitas pessoas já viram, por exemplo, nos lavatórios de aeronaves, uma recomendação de “gentileza”, sugerindo contribuir para o cuidado com o espaço. Pois bem, alguém pode começar com gentileza, outros o farão como gesto de boa educação ou civilidade. Poderá existir uma pessoa que trata bem apenas os que são conhecidos, ou que se identificam com um grupo fechado, baseado na simpatia ou na amizade. Não será raro encontrar “panelinhas” fechadas de relacionamento, dificultando o trato com quem é diferente. É ainda patente a existência de preconceitos e generalizações pesadas e negativas sobre tanta gente, por motivos raciais, ideológicos ou religiosos! Podemos partir do aparentemente negativo para fazer crescer o relacionamento. Encontraremos pessoas fechadas que se abrem, pouco a pouco. Afinal, é também verdadeira a afirmação da Escritura: “O amor é forte como a morte!” (Ct 8,5).

E aqui está a chave! “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Há alguém, o Cristo Senhor, que amou até o fim, morrendo por nós e para a nossa salvação. E quando a morte o matou, ela foi vencida! De fato, ele ressuscitou e nos deu a plenitude da vida. Vale recordar a palavra e a experiência de Santa Madre Teresa de Calcutá, santa de nossos dias: “O amor, para ser verdadeiro, tem de doer. Não basta dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até que isso nos machuque”.

Para tanto, o amor verdadeiro toma a iniciativa, ama por primeiro. Assim como fez o Eterno Pai, que mandou Jesus para morrer por nós quando ainda éramos pecadores. Depois, amar sempre a todos, vendo a presença de Jesus no próximo, sem acepção de pessoas. Há ainda algumas medidas para este amor: O outro sou eu, eu sou o outro, porque devo amá-lo como a mim mesmo, fazer a ele o bem que faria a mim. Quando é verdadeiro, quem ama sabe fazer-se um com os outros, o que significa viver o que o outro vive, não um amor sentimental, mas feito de fatos concretos. E chegamos a uma grande exigência: o verdadeiro amor cristão ama também o inimigo, faz o bem e reza por ele. Se assim nos exercitamos e nos unimos ao próximo, colocaremos em prática o amor recíproco, próprio da vida da Santíssima Trindade. Mas só chegaremos a amadurecer este amor passando pela Cruz, com Cristo e em Cristo. O resultado será uma alegria transbordante! (Cf. Chiara Lubich, trechos de um discurso sobre a Arte de Amar, 26.01.1997).

Aí entenderemos que “a missão da Igreja, empenhar-se no anúncio do Evangelho aos homens do nosso tempo, animados pela esperança, mas ao mesmo tempo torturados muitas vezes pelo medo e pela angústia, é, sem dúvida alguma, um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade. O sentido da vida cristã, seu rosto mais reluzente, encontra-se assim na caridade. A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. Ao mesmo tempo, quanto mais o homem fizer o bem, mais livre se torna. Não há verdadeira liberdade senão no serviço do bem e da justiça. O testemunho profético através da caridade e o serviço é a marca inseparável da missão da Igreja de portas abertas, em saída ao encontro do outro, e disposta a acolher quem chega, pois, considerando-se que, quando amado, o pobre é estimado como de alto valor, isto diferencia a autêntica opção pelos pobres de qualquer ideologia, de qualquer tentativa de utilizar os pobres ao serviço de interesses pessoais ou políticos”. (Cf. Plano Arquidiocesano de Pastoral, Páginas 12 e 13).

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