O “dia do trabalhador” começou a ser comemorado como reivindicação dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. Inicialmente o pedido foi: “Eight hour day with no cut in pay” (Oito horas por dia sem redução de salário), isto é, os operários das indústrias americanas buscavam uma redução na jornada de trabalho que chegava por vezes à 17 horas por dia. Depois de muitas lutas, algumas conquistas dos trabalhadores foram se consolidando em muitos países e entraram como normas legais para se poder contratar operários e, quem veio depois, talvez não saiba o quanto custou para seus antecessores na profissão para que agora, anos depois, as condições de trabalho estejam mais humanizadas. É bem verdadeira esta constatação: “Nenhum evento influenciou a história do trabalho no mundo do que a Revolta de Haymarket. Ela pode ter começado em 4 de maio de 1886, mas seus efeitos ainda estão presentes hoje em dia. Apesar de a história ser contada nos livros de história, poucas pessoas reconhecem sua importância”. (William J. Adelman, historiador do trabalho e professor da Universidade de Illinois no prefácio de sua obra ‘Haymarket Revisitada’).
No Brasil, mesmo se o processo de industrialização aconteceu tardiamente se olhado no contexto mundial, as conquistas dos trabalhadores se devem, em grande parte, graças à atuação dos sindicatos de trabalhadores. Igualmente é bem verdadeira a afirmação presente numa das canções que se canta nas comunidades cristãs: “Uma só varinha é tão fácil de quebrar. Mas ajunte um feixe… você pode até suar. É um exemplo da força da união”. E nas estrofes seguintes a música lembra outros exemplos de união, como o das formigas no formigueiro, que são capazes de desfolhar uma mata inteira; ou ainda uma gota d’água que o mormaço seca rapidamente, mas se ela se ajunta a outras milhares, formam o rio e enchem o mar. E a última estrofe chama a atenção para todos nós seres humanos: “Melhorar o mundo, ninguém vai se for sozinho. Há de transformar se a união for o caminho. Eis nossa força que está na união”.
Nas mudanças de nosso tempo, ou com mais precisão: neste tempo de mudanças, também no âmbito eclesial, é preciso que tomemos consciência que “ninguém se salva sozinho”. Foi o que nos lembrou o Papa Francisco naquele marcante dia 27 de março de 2020, quando ele, sozinho, na Praça S. Pedro rezou e comentou: “Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos”.
Neste tempo em que manter um trabalho não está fácil; neste tempo em que muitos precisaram, forçadamente, ir para a informalidade no trabalho, para poder sobreviver e sustentar suas famílias; neste tempo em que muitos perderam seus empregos, e estão sofrendo fome e estão sem esperança, sem ver a luz do fim do túnel; neste tempo de grande dificuldade econômica e política, quase soam fora de tom palavras de incentivo aos trabalhadores, mas, pensando em Jesus Ressuscitado, cujo tempo litúrgico continuamos a viver, com Ele podemos repetir a todos: “No mundo tereis tribulações; mas coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33).