Em direção a uma Igreja sinodal missionária

Este é o título do terceiro capítulo do Documento de trabalho para a Etapa Continental em preparação para o Sínodo sobre a sinodalidade 2021-2024. Eis aqui as partes mais significativas:

O n. 30 apresenta a importância das contribuições vindas de todas as partes: “Os contributos recebidos são encorajadores porque evitam duas das principais tentações que se apresentam à Igreja perante a diversidade e as tensões que essa gera. A primeira é a de permanecer prisioneiros no conflito: os horizontes restringem-se, perde-se o sentido do conjunto e fragmenta-se em sub-identidades. É a experiência de Babel e não de Pentecostes, bem clara em muitos setores do nosso mundo. A segunda tentação é a de distanciar-se espiritualmente e desinteressar-se das tensões que estão em jogo, continuando a percorrer a própria estrada sem se comprometer com quem está perto no caminho. Mas “a chamada é para viver melhor a tensão entre verdade e misericórdia, como fez Jesus […]. O sonho é de uma Igreja que viva mais plenamente o paradoxo cristológico: proclamar com coragem o próprio ensinamento autêntico e ao mesmo tempo oferecer um testemunho de inclusão e aceitação radical por meio de um acompanhamento pastoral baseado no discernimento” (CE Inglaterra e Gales)”.

O n. 31 apresenta a novidade que o estilo de uma Igreja sinodal, segundo os ensinamentos de Jesus, contém: “Em vez de nos comportarmos como guardas que procuram excluir os outros da mesa, devemos esforçar-nos mais para estarmos certos que as pessoas saibam que todos podem encontrar aqui um lugar e uma casa” (observação de um grupo paroquial dos Estados Unidos). Somos chamados para irmos a todo o lugar, especialmente para além dos territórios mais familiares, “saindo da posição cômoda daqueles que dão hospitalidade para deixar-se acolher na existência dos que são nossos companheiros no caminho da humanidade” (CE Alemanha)”.

O número 32, por sua vez, considera a importância da escuta que faz acolhimento como característica própria de uma igreja sinodal: “Igrejas caíram na conta de que o caminho para uma maior inclusão – a tenda alargada – se realiza de modo gradual. Inicia com a escuta e exige uma mais ampla e profunda conversão das atitudes e das estruturas e também de novos modos de acompanhamento pastoral e a disponibilidade de reconhecer que as periferias podem ser o lugar em que ecoa um apelo à conversão e a pôr decididamente em prática o Evangelho. A escuta exige reconhecer o outro como sujeito do seu próprio caminho. Quando conseguimos fazê-lo, os outros sentem-se acolhidos, não julgados, livres para partilhar o seu caminho espiritual. Isto foi experimentado em muitos contextos e, para alguns, isto foi o aspecto mais transformador de todo o processo: a experiência sinodal pode ser lida como um percurso de reconhecimento para aqueles que não se sentem suficientemente reconhecidos na Igreja. Isto é particularmente verdadeiro para os leigos e leigas, diáconos, consagrados e consagradas que antes tinham a sensação de que a Igreja institucional não se interessava pela sua experiência de fé ou pelas suas opiniões”.

O n. 33 reflete sobre as dificuldades de escutar profundamente e de aceitar ser transformados por esta escuta. “Permanecem obstáculos estruturais, entre os quais: estruturas hierárquicas que favorecem tendências autocráticas; uma cultura clerical individualista que isola as pessoas e fragmenta as relações entre sacerdotes e leigos; disparidades socioculturais e econômicas que privilegiam as pessoas ricas e instruídas; a ausência de espaços «intermédios» que favoreçam o encontro entre os membros de grupos separados. A síntese da Polônia afirma: “Não escutar leva à incompreensão, à exclusão, à marginalização. Como ulterior consequência, cria-se o fechamento, o simplismo, a falta de confiança e medos que destroem a comunidade. Quando os sacerdotes não querem ouvir, encontram desculpas como o grande número de atividades, ou quando as perguntas ficam sem resposta, no coração dos fiéis leigos nasce um sentido de estranheza e tristeza. Sem escuta, as respostas às dificuldades dos fiéis são tiradas do contexto e não dizem respeito à essência dos problemas que estão a viver, tornando-se moralismos vazios. Os leigos consideram que a fuga da escuta sincera deriva do medo de dever comprometer-se pastoralmente. Uma sensação semelhante cresce quando os bispos não têm tempo para falar e ouvir os fiéis”.

Nota-se grande sinceridade nas respostas que chegaram à comissão central do sínodo. Continuamos pedindo que o Espírito Santo ilumine os corações de todos nós para sempre mais entrarmos em sintonia com o projeto de Deus a respeito de sua Igreja.

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