Enquanto esperamos a vossa vinda

Nascer, crescer, aproveitar a vida, sugar dela todos os prazeres e satisfações possíveis, aguentar os sofrimentos e enfermidades, ficar velho, esperar a morte chegar! Muito pouco e inadequado para as pessoas que foram feitas com a matriz da eternidade nela plantadas por Deus, que as pensou e criou para serem felizes nesta terra e na vida eterna a elas prometida. Nós fazemos parte, com todos os homens e mulheres que aqui vivem ou que aqui pisaram e virão. O tempo da vida humana nesta terra é uma magnífica oportunidade oferecida por Deus, com profusão de graças a serem aproveitadas. A graça de viver, conviver, partilhar os dons recebidos, olhar para frente e para o alto, melhorar sempre, fazer o bem e plantar a verdade e a justiça! Esta é vida humana, digna de quem a criou e de quem a recebeu de presente!

Neste tempo, ressoa a Palavra: “O Espírito e a Esposa dizem: Vem! Aquele que ouve também diga: Vem! Quem tem sede, venha, e quem quiser, receba de graça a água vivificante. Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Sim, eu venho em breve. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Cf. Ap 22, 17-20).

A Igreja, em sua sabedoria milenar, recolhe os ensinamentos da Escritura e os oferece, em crescente acompanhamento da vida da humanidade. Se formos fiéis a Deus e às propostas da Igreja, o Senhor nos encontra, como numa espiral que aponta para o alto, melhores do que no ano anterior. A Liturgia, com o novo ano que se inicia no primeiro domingo do Advento, irrompe de novo a rotina, preenche de sentido os eventuais balanços de vida e atividade que caracterizam estas semanas finais de 2021, oferece sentido e conteúdo para tantas pessoas que não querem vazias as confraternizações que se realizam no período, e dá as orientações para a riqueza da oração e da vivência cristã no tempo forte, que agora se inicia.

O Ano da Igreja começa e termina com o anúncio das últimas e definitivas realidades, para as quais caminha a humanidade. O Advento abre o horizonte para as vindas do Senhor, no final dos tempos, no tempo presente e no tempo, quando nasceu em Belém de Judá, como Senhor e Salvador, para aqui morrer, ressuscitar e subir de novo aos Céus, deixando-nos o penhor do cumprimento de suas promessas, o Espírito Santo sobre nós derramado. O Senhor é o Deus da promessa! Já Abraão, depois dele outros patriarcas e profetas (Cf. Jr 33, 14-16), foram pessoas que caminharam em busca do invisível, teimosos na fé e na esperança. Não tiveram medo de conjugar no futuro o verbo de suas vidas, sabedores da qualidade daquele que lhes havia assegurado a realização de seu plano de amor e salvação.

Temos o privilégio de compartilhar as esperanças e sua realização, pois, em Jesus Cristo, nosso Salvador, Deus cumpriu a sua Palavra, dando-nos tudo o que é necessário. Impressiona a força com que São João da Cruz (Tratado “A subida do Monte Carmelo”, de São João da Cruz, Livro 2, capítulo 22) nos alerta: “É este o sentido do texto em que a carta aos Hebreus busca persuadir seus destinatários a se afastarem daqueles primitivos modos de tratar com Deus, previstos na lei de Moisés, e a fixarem os olhos unicamente em Cristo, dizendo: Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio de seu Filho (Hb 1,1-2). Por estas palavras o Apóstolo dá a entender que Deus emudeceu, por assim dizer, e nada mais tem a falar, pois o que antes dizia em parte aos profetas, agora nos revelou no todo, dando-nos o Tudo, que é o seu Filho. Se agora, portanto, alguém quisesse interrogar a Deus, ou pedir-lhe alguma visão ou revelação, faria injúria a Deus não pondo os olhos totalmente em Cristo, sem querer outra coisa ou novidade alguma. Deus poderia responder-lhe deste modo: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o! (Mt 17,5). Já te disse todas as coisas em minha Palavra. Põe os olhos unicamente nele, pois nele tudo disse e revelei, e encontrarás ainda mais do que pedes e desejas. Desde o dia em que, no Tabor, desci com meu Espírito sobre ele, dizendo: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o!, aboli todas as antigas maneiras de ensinamento e resposta. Se falava antes, era para prometer o Cristo; se me interrogavam, eram perguntas relacionadas com o pedido e a esperança da vinda do Cristo, no qual haviam de encontrar todo o bem – como agora o demonstra toda a doutrina dos evangelhos e dos apóstolos.”

Agora estamos no tempo da esperança ativa (Cf. Lc 21, 25-36), no fecundo intervalo que vai da Ascensão do Senhor e Pentecostes até a vinda do Senhor, no fim dos tempos. Durante este tempo, há muito a fazer. São Paulo (Cf. 1 Ts 3,12?4,2) oferece indicações preciosas. O Senhor nos faça crescer abundantemente no amor de uns para com os outros e para com todos, à semelhança do amor que o próprio apóstolo teve com suas comunidades. Depois, aos tessalonicenses e a nós deseja que Deus confirme nossos corações numa santidade irrepreensível. É a condição para estarmos prontos, diante de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda do nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos. Depois, o Apóstolo pede e exorta, no Senhor Jesus, que progridamos sempre mais no modo de proceder para agradar a Deus.

Ele está convicto de que os fiéis sabem quais são as normas que dadas da parte do Senhor Jesus. Aqui está o desafio! Nós sabemos como viver no tempo que nos é dado. A proposta é aproveitá-lo bem, sem desperdiçar qualquer oportunidade para fazer o melhor de nós mesmos para edificar um mundo diferente, modelado pela esperança, e não pelas amarras do passado do pecado e da maldade. O Evangelho é nossa regra de vida, a ser descoberta cotidianamente, sem desperdiçar os encontros com as pessoas e os acontecimentos, todos prenhes de graças oferecidas por Deus.

Neste novo tempo, a Igreja põe em nossos lábios e nossos corações a oração: “Ó Deus todo-poderoso, concedei a vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que, acorrendo com as nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem, sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos. Amém!”.

 

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