Entre o cansar e o delegar

Você já ouviu, ou falou frases do tipo: “todo mundo acha que eu sou de ferro”, “estou cansado de tudo”, “se eu não fizer ninguém faz”, “será que só sirvo pra isso”? Então, vamos pensar um pouco sobre o que pode estar motivando tudo isso, destacando dois pontos: o perfeccionismo e a dificuldade para delegar.

Buscar a excelência naquilo que se faz não tem nenhum problema, mas, quando esta exigência começa a trazer danos para a própria vida ou para a vida de outras pessoas, principalmente relacionados à saúde mental, aí vale preocupar-se. Vamos entender três tipos de perfeccionistas: o auto orientado, o socialmente prescrito e o orientado para os outros.

O Perfeccionista autoorientado tem a ver com esforço pela excelência e perfeição com padrões pessoais excessivamente altos, uma elevada exigência de si mesmo. Há desconforto quanto aos erros, mesmo que pequenos, podendo desenvolver processos de autocrítica e autopunição, além de altos níveis de estresse, ansiedade, insônia. O Perfeccionista socialmente prescrito necessita ser perfeito para agradar às outras pessoas, como forma de se sentir aceito, amado, admirado, preocupando-se, excessivamente, com a avaliação das outras pessoas, do que elas vão pensar a seu respeito e, dessa forma, tem dificuldades em se sentir satisfeito com suas próprias realizações, na dependência da aprovação dos outros, orientando-se pelo medo do fracasso. A necessidade de atender as expectativas dos outros, pode afetar a percepção do seu autovalor, além de, pelo cansaço do esforço excessivo para agradar e corresponder, pode gerar elevação do estresse, com registros de sintomas de ansiedade e até depressão. O Perfeccionista orientado para outros, cobra a perfeição de outras pessoas com quem convive ou trabalha, estabelecendo um nível de exigência tão alto que as pessoas ao seu redor não podem alcançar e, assim, levando a ocorrência de conflitos e desgastes nas relações, tanto familiares quanto profissionais.

Então, o perfeccionismo pode ser o motivador da concentração de atividades e de responsabilidades. Ora, se só eu sei fazer, se do jeito que eu faço é o melhor, como então vou “entregar para o outro”? Se não entrego, absorvo, concentro e, sim, uma hora chegará o cansaço. Delegar pressupõe entender que o outro também é capaz de fazer o que eu faço, do jeito dele, no ritmo dele… Pressupõe, por vezes, parar um pouco e orientar, ensinar, conduzir o outro para que ele se sinta mais confiante e possa levar a tarefa adiante… Pressupõe não ter medo de perder o controle e dar tudo errado (aí, mais trabalho pra mim…) e, principalmente, medo de perder a importância, de ser o destaque, caso, a outra pessoa, de repente, comece a fazer o que eu fazia de um jeito melhor que o meu! De qualquer forma, o excesso de exigências, de expectativas e de auto cobrança, pode ser um “veneno” que vamos tomando aos poucos…

Ao final dessas reflexões, gostaria de convidar você a reconhecer-se imperfeito e, portanto, falho; a reconhecer-se um constante aprendiz, sempre em desenvolvimento; a reconhecer que o outro também é falho, imperfeito e em desenvolvimento. E, ainda, convido a um exercício: escolha duas atividades que você entende que poderiam ser feitas por outra pessoa; escreva num papel as atividades e as pessoas que poderiam fazê-las e com mais um pouco de coragem, entregue, delegue essas atividades. Confio que você terá ótimos resultados e se sentirá mais leve! Até a próxima!

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