Introdução
Continuando a catequese sobre a Comunhão Eclesial, reflitamos sobre uma das mais significativas metáforas usadas por São Paulo, aquela em que ele compara a Igreja como um corpo. Vale a pena recordarmos o que diz o apóstolo. “Num só corpo há muitos membros, e esses membros não têm todos a mesma função. O mesmo acontece conosco: embora sendo muitos, formamos um só corpo em Cristo, e, cada um por sua vez, é membro dos outros” (Rm 12, 4-5).
A imagem do corpo para representar a Igreja é muito forte em São Paulo, por isso aborda o mesmo tema em outras cartas (cf. 1Cor 10, 17; 12, 12-25; Ef 4, 12.16; 5,23; Cl 1,8; 2,19; 3,15). Nelas deseja realçar a convicção de que a Igreja é uma realidade compacta, visível na sua unidade e, ao mesmo tempo, rica em diversidade, coesa na comunhão e na obediência.
Na abordagem da teologia do corpo eclesial São Paulo dá especial ênfase não somente à importância de cada membro, mas, sobretudo, à íntima relação de todos entre si, vinculados e obedientes à cabeça. É a conexão de cada membro com a cabeça que promove a harmonia do dinamismo do corpo. Cristo é a cabeça da Igreja que dá unidade e harmonia a tudo. Faltando essa convicção de fé, tudo desmorona.
1 – O chamado à comunhão na comunidade
Chamando à atenção de cada comunidade, o apóstolo dá uma lição para toda a Igreja. Seu discurso transcende a contingência histórica e passa a ter validade universal e permanente para toda a Igreja. Esta é uma comunidade, formada pela diversidade de membros, atividades, ministérios e carismas, mas todos estão unidos no mesmo amor e seguindo a Cristo, que é a cabeça e, assim, todos lhe devem obediência.
Aos Coríntios, Paulo faz um profundo discurso sobre a importância da comunhão na vida da comunidade em resposta aos problemas de rixas e brigas que lá existiam. Por isso os exortou a viverem unidos na fé, mantendo-se de acordo uns com os outros e evitando toda espécie de divisões (cf. 1Cor 1, 10-11).
O apóstolo compara a comunidade como um corpo que, apesar de ter muitos membros, todos estão em comunhão e se ajudam mutuamente. Assim deve ser a vida da Igreja: somos muitos, todos diferentes, com dons específicos, serviços variados (cf. 1Cor 12, 27-20), mas formamos um só corpo (cf. 1Cor 12,12-13). Trata-se de um corpo misterioso porque somos unidos pela fé. Por isso, sem vida espiritual, não há comunhão.
A força dinamizadora dessa comunhão é o sacramento do batismo, a partir do qual todos passamos a beber da mesma fonte (cf. 1Cor 12, 13) para adquirirmos o mesmo pensamento e a mesma sensibilidade que vem do Espírito Santo (cf. 1Cor 1, 11-12; 2Cor 13,11; Fl 2,5).
Paulo, com muita franqueza e exemplos concretos, reflete com a comunidade dividida sobre a necessidade da comunhão na diversidade das pessoas e suas atividades, assim como cada membro do corpo tem sua função específica, deve ser valorizado e cuidado.
Cada membro é importante. Por isso nenhum se julgue mais importante do que os outros; da mesma forma deve ser na comunidade eclesial (cf. 1Cor 12, 14-20). Nenhum membro deve dizer ao outro: “não preciso de você” (1Cor 12, 21). Na diversidade de funções e formas de agir, os membros se ajudam, se complementam, são solidários entre si e se cuidam, reciprocamente. Uma vez que nem todos os membros têm a mesma consistência, mas todos são importantes para o corpo, é necessário que cada membro participe dos sofrimentos, das honras e das alegrias de cada um (cf.1Cor 12, 26).
2 – Diversidade e comunhão
Não podemos falar de corpo, sem a diversidade de membros. E para que o corpo tenha vida e harmonia é preciso que haja convergência e vínculo de todos os membros com a cabeça. Portanto, falar de corpo é afirmar a importância da diversidade e da comunhão. Para o Apóstolo Paulo a diversidade não deve promover a adversidade entre as pessoas, mas o enriquecimento, pois “somos muitos, mas formamos um só corpo!”.
A diversidade sem comunhão é consequência da ausência de vínculo de um membro com a cabeça (cf. Cl 1, 18; 2,19), e sem relação de amor o resultado é a sua morte! Isso pode acontecer nos grupos, movimentos, ministérios, novas comunidades, nas pastorais, com os líderes…; quando na Igreja há ausência do sentido de Igreja e, tudo se enfraquece. Dessa forma se torna vulnerável e, aos poucos, vai se autodestruindo por conflitos, divisão, disputas, rixas, concorrência, inveja, separação, ciúmes, frieza, etc. Quando falta o senso de fé, não há espaço para o amor que a todos convoca para a unidade.
3 – As lições do corpo com seus membros
A imagem dos muitos membros que formam um só corpo e todos unidos à cabeça, nos ensina muitas lições. Na Igreja todos os membros, sujeitos eclesiais, são importantes. Mas um membro isolado não forma o corpo! Quando o orgulho nos domina, depreciamos o outro com sua riqueza natural e enaltecemos o que temos e pensamos ser. Assim, caímos no mal da autorreferencialidade, da vaidade, do voluntarismo e do subjetivismo. O orgulho nega a beleza da diversidade e, por isso, rejeita a comunhão, contrariando o Reino de Deus!
Somos convidados a nos treinarmos na busca da aceitação do outro com seus limites e dons, na capacidade de colaboração, de sinergia, de sinodalidade, ou seja, no caminhar juntos, evitando o paralelismo pastoral. São Paulo nos estimula a prática do diálogo como experiência de confronto e, ao mesmo tempo, de caminho de enriquecimento conjunto, graças à diversidade que brota da razão (pensar) e do coração (sentir). A individualidade, dinamicamente acolhida e respeitada, gera a riqueza comunitária.
A ideia da cabeça que vincula todos os membros entre si, nos acena para a necessidade de um critério absoluto de referência, de confronto, de obediência e de submissão. Sem isso, cada um se impõe a seu modo. Por isso, não há comunhão sem o reconhecimento da hierarquia, da absoluta autoridade de Cristo e obediência aos seus autênticos representantes. Afirma o apóstolo: “vivendo amor autêntico, cresceremos sob todos os aspectos em direção a Cristo, que é a Cabeça. Ele organiza e dá coesão ao corpo inteiro, através de uma rede de articulações, que são os membros, cada um com sua atividade própria, para que o corpo cresça e construa a si próprio no amor” (Ef 4, 14-16).
A autenticidade dos “carismas” depende da obediência ao dinamismo do Espírito para fortalecer a missão da Igreja. Ninguém deve, em nome do Espírito Santo, apelar para os próprios carismas rompendo com a comunhão eclesial, porque os dons são para a unidade e riqueza da Igreja (cf. 1Cor 12, 11). Se Deus é a fonte dos Dons, o uso dos mesmos deve ser disciplinado e unicamente voltado para o Bem da comunidade eclesial. “Deus que realiza tudo em todos” (cf. 1Cor 12, 4.11). Por isso, o modo como cada um manifesta o dom que recebeu deve sempre ser orientado pela Caridade e estar submisso à comunhão eclesial.
A imagem do corpo com a riqueza de membros unidos à cabeça, nos fala da necessidade do cultivo da coesão, da promoção da consciência de interdependência, da experiência da solidariedade e do envolvimento de todos em tudo. Esse ícone também nos convida à promoção da corresponsabilidade, a crescermos no sentido de pertença eclesial, a reforçar vínculos, a fomentar a partilha fraterna, à cooperação pastoral, a reconhecer o fato de que na Igreja deve haver participação, ordem, harmonia e hierarquia.
Enfim, a imagem do corpo eclesial nos convida a combater o tácito mal do isolamento pastoral, da indiferença às orientações do magistério da Igreja, bem como, segundo as conveniências, o espírito democrático orientado para justificar a própria vontade de quem quer fazer o que deseja. Isso é uma chaga no concreto da vida pastoral da Igreja em muitos contextos e níveis. A teologia do corpo tem muitas lições e, por isso, nos estimula, continuamente, a pensar na nossa identidade de Igreja una, íntegra, integrada e sinodal.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1 – Por que a comunhão pressupõe a diversidade?
2 – O que representa a cabeça no Corpo Eclesial e por quê?
3 – O que ofende a teologia do corpo eclesial?