Introdução

A prática de atitudes que contribuem para a promoção da comunhão eclesial só é possível através de um sério investimento formativo.

Para que a nossa fé possa ser testemunhada necessita que seja amadurecida através de um processo de formação. Todo conteúdo que não é assimilado também não poderá ser traduzido em comportamento.

Por isso não podemos descartar a necessidade da formação da fé. A fé precisa ser educada. Isso significa concebê-la como uma realidade portadora de um potencial que deve ser processado pela razão para ser aplicado concretamente. Caso contrário, caímos no fideismo vazio ou no espiritualismo estéril. Isso acontece quando a fé não desenvolve a sua dimensão moral.

Nesta reflexão consideremos alguns investimentos formativos importantes para a prática de atitudes de comunhão. Recordemos o que nos diz o Documento de Aparecida sobre a importância da formação do discípulo de Jesus: “O caminho de formação do seguidor de Jesus lança suas raízes na natureza dinâmica da pessoa e no convite pessoal de Jesus Cristo, que chama os seus pelo nome e estes o seguem porque lhe conhecem a voz. O Senhor despertava as aspirações profundas de seus discípulos e os atraía a si, maravilhados. O seguimento é fruto de uma fascinação que responde ao desejo de realização humana, ao desejo de vida plena. O discípulo é alguém apaixonado por Cristo, a quem reconhece como o mestre que o conduz e acompanha” (Doc. AP, 212).

  1. Fortalecer a relação entre Fé e Vida

O processo de formação da fé, que pode acontecer de diversas formas como através da catequese, deve considerar deste os primeiros passos da evangelização, a inseparabilidade entre fé e vida.

Isso significa que a evangelização não deve ser concebida como uma espécie de transmissão de doutrina que simplesmente compromete a memória do fiel, mas não desperta para a mudança de atitudes de vida.

Fé e vida caminham juntas, são interdependentes. A fé compromete ou gera impacto na dinâmica da vida, bem como a vida é promovida pelos conteúdos da fé.

  1. Promover o amor a Deus e ao próximo

Assimilada a inseparabilidade entre fé e vida, o fiel, paulatinamente, será chamado à prática do Amor a Deus e ao próximo. Essa exigência, deste o início foi muito refletida nas comunidades primitivas, por isso, São João com muita firmeza afirmou para as suas comunidades: “Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus. E todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,7-8); “Quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: «Eu amo a Deus», e no entanto odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. (1Jo 4,19-20).

A comunhão eclesial deve ser visível, vivida por cada fiel, é a tradução do amor em dupla relação, para com Deus e com o próximo. O amor ao próximo visibiliza o nosso amor a Deus.

Quanto menos consciência da necessidade do amor fraterno, menos sinais de comunhão haverá numa comunidade. É nesse contexto de prática do Amor que deve-se apresentar o ideal da santidade cristã.

  1. A dimensão moral da catequese

Ao final da parábola do semeador, Jesus afirma que as sementes que produziram frutos foram aquelas que compreenderam a palavra acolhida (cf. Mt 9). Isso quer dizer que a catequese tem uma dimensão moral, ou seja, deve facilitar o processo de compreensão de suas exigências, estimular compromissos, incentivar o exercício de virtudes.

Quando a dimensão moral da catequese é negligenciada tudo se reduz a ideias as serem decoradas. A catequese ao apresentar aos catequizandos os mistérios da fé, deve também oportunizar o crescimento no amor aos outros. Por isso, não basta apresentar a pessoa de Jesus, é preciso que sejam estimulados a amá-lo, admirá-lo, segui-lo, imitá-lo! Não basta que conheçam a Igreja, é necessário que a amem, estejam comprometidos com ela e tenham por ela um profundo sentido de pertença, convictos de que a Igreja são pessoas, é uma comunidade, uma família reunida pela fé em Jesus Cristo.

Em geral quem, amadureceu o seu sentido de pertença à Igreja vai amá-la promovendo tudo o que estiver ao seu alcance para que ela se torne mais forte, cresça, seja dinâmica e significativa.

  1. Promover estruturas de comunhão

A estrutura organizacional da Igreja, com a diversidade de seus organismos internos, está a serviço da promoção da comunhão e isso deve sempre ser recordado e aprofundado. Estamos nos referindo ao serviço da autoridade do papa, do bispo, do pároco, do coordenador de comunidade em nível local, bem como, de qualquer outro coordenador de pastoral, grupo, movimento, associação, serviços. Todos devem contribuir com a comunhão da Igreja e, por isso, sem exceção, no seu nível de atuação específica, devem capacitar seus liderados para a comunhão fraterna na Igreja.

Especial atenção devemos dar às instâncias de reflexão, discernimento e decisão, como são os conselhos. Os conselhos, respeitados seus âmbitos de atuação, são instrumentos de promoção do senso da colegialidade eclesial em vista do fortalecimento da Igreja e sua solidez na comunhão. Mas é bom recordar que não existe comunhão sem vida fraterna.

Muitas vezes as rupturas nas comunidades ou conflitos que enfraquecem a unidade fraterna são consequências da má gestão dos conflitos ou desafios. O envolvimento dos outros, como discernimento comunitário, é muito importante como fizeram os primeiros apóstolos no incidente de Antioquia (cf. At 15).

A promoção da cultura da avaliação deve ser um compromisso desses instrumentos porque, quando atuam corretamente, fortalecem a fraternidade e alimentam a harmonia da Igreja. O bom costume da avaliação constante promove o senso de corresponsabilidade na Igreja que por sua vez contribui para a comunhão da mesma.

  1. Fortalecer a Vida Espiritual

Outro compromisso que contribui decisivamente para a promoção da comunhão eclesial em nossas comunidades é o fortalecimento da vida espiritual das comunidades. A qualidade das nossas atitudes depende do teor da nossa vida espiritual. Recordemos as palavras de Jesus quando disse: “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Lc 6,45); “é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15,19).

O fortalecimento da vida espiritual de uma comunidade passa por experiências bem concretas como, por exemplo, a oração pessoal, a prática da leitura orante da Palavra de Deus, a participação em retiros espirituais, a frequente e consciente participação aos sacramentos, etc.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Quais são as consequências da fé sem relação com a vida?
  2. Porque as estruturas da organização pastoral da Igreja são importantes para a promoção da comunhão?
  3. Quais atividades podem nos ajudar no fortalecimento da vida espiritual?

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