Por Padre Romeu Ferreira
A) Texto: Jo 18,33-37
33Pilatos chamou Jesus e perguntou-lhe: “Tu és o rei dos judeus?” 34Jesus respondeu “Estás dizendo isso por ti mesmo ou outros te disseram isso de mim?” 35Pilatos falou: “Por acaso, sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?” 36Jesus respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui”. 37Pilatos disse a Jesus: “Então tu és rei?” Jesus respondeu: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.
B) Comentário
Eis a solenidade de Cristo, Rei do Universo. Logo, o tema é o da realeza de Jesus Cristo, com sua origem e natureza. No texto destaca-se o colóquio de Pilatos com Jesus, como centro teológico do processo que o conduzirá à morte, como último degrau para a Ressurreição. Assim sendo, desponta a questão sobre “quem é Jesus?” Quem é ele? Pilatos indaga: “Tu és o rei dos judeus?” (v 33). Ele responde perguntando, e deixa o procurador romano em apuros: “Estás dizendo isso por ti mesmo ou outros te disseram isso de mim?” (v 34). A reação faz lembrar que Jesus sempre requer respostas e atitudes pessoais, pois a verdade, a conversão, é elaborada no mais íntimo de cada pessoa, e não tanto do que vem de fora: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16,15). Ora, “rei” é um conceito que implica na dimensão política, e neste caso um Messias político, esperado para as transformações de mando externo. É estranho, pois, constatar que são os próprios judeus que eliminam Jesus. Eles assassinam a própria esperança no mais radical dela: ter o Messias. É doloroso verificar que às vezes a pessoa destrói seu futuro ou sonhos, só com base no que outros dizem e não na própria convicção ou experiência diária. Jesus responde em modo solene e rítmico: “O meu reino não é deste mundo… o meu reino não é daqui” (v 36). Ele indica a origem de sua realeza: não deste mundo, mas do outro; não daqui, mas de lá; ou seja, de Deus vem a sua natureza real. O mestre exclui, a mundana e política de seu poderio, pois seu reino transcende o tempo. A evidência de que o reino de Cristo não é deste mundo é o fato dele não ter exército terreno, com armas para defender o seu reinado (v 36). Pilatos quer saber qual foi o delito cometido pelo prisioneiro que o faz ser conduzido a juízo. Para os judeus, as pretensões de Jesus parecem ser altas demais: “Nós temos uma Lei, e, conforme a Lei, ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus” (Jo 19,7). E assim, Jesus é condenado. O procurador romano retoma e Jesus confirma: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade” (v 37). Por conseguinte, é da verdade quem escuta (shemá) a voz de Jesus, na acolhida de sua palavra, no seguimento do bom pastor (Jo 10,3). O pastor representava também o chefe, o rei. A realeza de Cristo se identifica, portanto, com sua missão reveladora e salvífica, a favor de seu povo; da humanidade.