A) Texto: Mt 10,26-33
Disse Jesus: 26“Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado e nada há de escondido que não seja conhecido. 27O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados! 28Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma! Pelo contrário, temei aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno! 29Não se vendem dois pardais por algumas moedas? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do vosso Pai. 30Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. 31Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais. 32Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus. 33Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus”.
B) Comentário
“Não tenhais medo dos homens…” (v 26). Assim adverte Jesus aos discípulos a “não ter medo”. E esta advertência é didática divina muito frequente no Antigo Testamento, brotada dos lábios dos profetas, como segurança da assistência de Deus ao seu povo; é o “al tirá” hebraico, o “não tenhas medo”! E assim observamos: “Não temas, porque eu estou contigo, não fiques apavorado, pois eu sou o teu Deus” (Is 37,6; 41,10.14; 43,5; 44,2.8; 54,4); “Não temas, meu servo Jacó, não te atemorizes, Israel! Porque eis-me aqui para livrar-te…” (Jr 10,5; 46,27); o mesmo fala para a terra, ou para os animais (Jl 2,21.22); e ocorre até com a cidade santa, Jerusalém: “Não temas Sião!… o teu Deus está no meio de ti, um herói que te salva!” (Sf 3,16s).
No Novo Testamento, o maior de todos os anúncios, o de “Deus presente no mundo”, vem precedido com a saudação do ‘não ter medo’, de não temer: “Não temas, Zacarias…”; “Não temas, Maria…” (Lc 1,13.30). É tão bonito, nos conforta ou nos deixa serenos, saber que não estamos sozinhos na missão pelo Reino! É bom lembrar isso, e que nos deixemos conduzir por esta convicção. “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma!” (v 28). Este é um pensamento dedicado a qualquer pessoa que atua pelo Reino.
“Não se vendem dois pardais por algumas moedas?” … “Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais” (v 29.31). Ou seja, “estais, estamos nas mãos de Deus!”.
Ora, a moeda expressa o valor da pessoa, como a “José do Egito”: “Venderam José aos ismaelitas por vinte ciclos de prata” (Gn 37,28); como também a “Jesus Cristo”: “Fixaram-lhe, então a quantia de trinta moedas de prata” (Mt 26,15).
Dois pardais é pouco, como algumas moedas é símbolo de pouco (v 29). Muitos pardais é valor de muitas moedas. Nós valemos muito mais ainda, diz Jesus (v 31), pois somos amados por Deus! E o gesto de amor pode se expressar num beijo, num abraço ou num “cafuné”: o carinho nos cabelos da cabeça, contando os cabelos. Isto é expressão do gesto do amor de Deus por nós: “Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados” (v 30). Somos acariciados, somos amados, não há que temer!