Introdução
Tendo celebrado o tempo pascal, a solenidade de Pentecostes, da Santíssima Trindade e, nesta semana, o mistério do Corpo e Sangue de Cristo, somos chamados a aprofundar a importância e a necessidade da comunhão na Vida da Igreja.
Os discípulos de Jesus Cristo devem ser apaixonados pela comunhão.
A Igreja nasce do mistério da Santíssima Trindade e, por isso, a mesma deve ser a sua referência absoluta, seu fundamento e a fonte promotora da autenticidade do clima fraterno eclesial.
Estamos vivendo num mundo profundamente marcado pela fragmentação, polarizações, dispersão, divisões, individualismo; tais males exercem sobre os discípulos de Jesus Cristo uma profunda influência; em determinados contextos, acabam influenciando negativamente e enfraquecendo a beleza da Igreja. Somos contaminados!
Na exortação Apostólica Evangelii Gaudium o Papa Francisco observou esse desafio dizendo: “o individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A ação pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais” (EG, 67). Por isso somos chamados a olhar para Jesus Cristo e aprofunda aquilo que deve nos distinguir sempre.
1 – O Amor é o nosso distintivo
A mais profunda e significativa exigência colocada por Jesus para os seus discípulos foi aquela da vivência do amor: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.» (Jo 13,25-26). É dessa experiência de amor que brota a comunhão.
O evangelista Marcos, antes de fazer a lista daqueles que foram chamados por Jesus, diz que ao constituir o grupo dos doze, os chamou para que estivessem com Ele e para enviá-los a pregar (cf. Mc 3,14-15). A comunhão, portanto, acontece antes de tudo, com o próprio Jesus; ele é o centro de unidade e convergência; nele nos encontramos e nos harmonizamos.
Não se pode estar com Ele, seguindo-o, sem vivermos em comunhão com os demais discípulos, irmãos de fé e na caminhada, seguidores do mesmo mestre e senhor. Contudo, sabemos que isso aconteceu com um dos doze, Judas Iscariotes. Suas atitudes serão sempre um sinal de alerta para todos nós. A Igreja, sem a experiência da comunhão, se transforma numa empresa prestadora de serviços filantrópicos.
2 – Jesus é o nosso modelo
Jesus desafia seus discípulos: “Um novo mandamento dou a vocês: amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros” (Jo 13,34). O ágape, é o amor com o qual Deus nos ama que supera toda e qualquer barreira.
Em Jesus de Nazaré temos o exemplo das atitudes e gestos da Caridade. Na parábola da videira e os ramos (cf. Jo 15,1-15), Jesus apresenta a seus discípulos as condições fundamentais para que eles possam amar como ele amou.
Os discípulos só poderão reproduzir o Amor de Jesus se forem capazes de estar em profunda comunhão com Ele. Para que o seu amor seja por nós, vivido, é naturalmente necessário que estejamos em profunda comunhão com Deus, sua fonte, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8). Jesus bebe do amor do Pai, por isso afirmou: “assim como o Pai me amou eu amei vocês”. Nós somos convidados a beber de Cristo, imitando-o no amor!
3 – Permanecer na Palavra
Recordemos estas insistentes palavras de Jesus: “Quem fica unido a mim, e eu a ele, dará muito fruto, porque sem mim vocês não podem fazer nada… Se vocês ficam unidos a mim e minhas palavras permanecem em vocês, peçam o que quiserem e será concedido a vocês. Assim como meu Pai me amou, eu também amei vocês: permaneçam no meu amor. Se vocês obedecem aos meus mandamentos, permanecerão no meu amor, assim como eu obedeci aos mandamentos do meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,5.7.9-11).
O verbo “permanecer” aparece diversas vezes ao longo desse trecho. “Permanecer”, mais que “continuar a ser ou estar”, quer dizer no contexto do evangelho de João, “estar unido”, assumindo os mesmos sentimentos e mentalidade de Jesus. Com a parábola da relação entre o tronco da videira e os ramos, Jesus quer alertar seus discípulos para uma série de questões muito importantes:
a) A tentação da autossuficiência:
Jesus é claro ao falar da necessidade da nossa dependência espiritual e moral por parte dos discípulos. Jesus é a fonte, o modelo a ser seguido, o espelho a ser mirado, o princípio a ser obedecido, a meta a ser buscada; Jesus é o tronco provedor da seiva que alimenta os ramos. A sensibilidade sociocultural de nossos dias, porque é profundamente subjetivista (tudo centrado na pessoa, no sujeito) e relativista (tudo depende das escolhas de cada um), em muito se distancia desse ideal proposto por Jesus. O discípulo de Jesus não pode ser autônomo, autossuficiente.
b) O reconhecimento da honesta dependência
A metáfora da videira, com seus ramos e frutos nos fala da importância da dependência do nosso agir em relação a uma segura fonte ética. O subjetivismo, gera o relativismo moral e, ambos proclamam a autossuficiência do indivíduo e, assim, a independência ética gera o fracasso do discípulo, uma vez que o verdadeiro discípulo de Jesus não é moralmente autônomo, ou seja, não é ele quem decide o que é bom e o que é ruim.
O ser humano quando age sem referências e não aceita nenhuma instância de confronto acaba se esvaziando e morrendo fechado em sua pobreza. Jesus Cristo é a verdade que liberta (cf. Jo 8,31). Por outro lado, reconhecer a própria insuficiência é um ato de honestidade para com a própria natureza frágil, enganosa, passageira.
c) A necessidade da Vida espiritual
A vida espiritual que brota do amor a Jesus é o dinamismo de deixar-se impulsionar pelo mesmo Espírito que animava Jesus Cristo (comunhão com o Pai) em sua missão e que se traduzia em compaixão efetiva para com os pecadores (cf.Lc 4). Essa comunhão de Jesus, com o Pai e o Espírito, o tornou implacável contra todas as forças do Malígno. Sem vida espiritual, nos enfraquecemos, ficamos sem forças, sem capacidade de resistência e acabamos sendo arrastados por toda forma de tentação (maldade).
Essa força espiritual fecunda a nossa vida e assim, produzimos bons frutos. Os discípulos devem ser o “sal da terra” e a “luz do mundo” (cf. Mt 5,13). Os discípulos de Jesus devem ter um comportamento positivamente diferenciado e é através do mandamento do Amor que deverão fazer a diferença. O amor e a fé sem obras, ou seja, sem consequências, são mortos.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1 – Quais são as maiores ameaças à comunhão da Família e da Igreja?
2 – Quais são as consequências do individualismo na Igreja?
3 – Por que o permanecer na Palavra promove a nossa fidelidade a Deus?