A) Texto: Lc 3,1-6.

1 No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes administrava a Galileia, seu irmão Filipe, as regiões da Itureia e Traconítide, e Lisânias a Abilene; 2 quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho de Zacarias, no deserto. 3 E ele percorreu toda a região do Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, 4 como está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: “Esta é a voz daquele que grita no deserto: ‘preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas. 5 Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os caminhos acidentados serão aplainados. 6 E todas as pessoas verão a salvação de Deus’”.

B) Comentário

Celebramos o 2º Domingo do Advento em que Lucas apresenta três fatos históricos (pregação de João Batista; batismo de Jesus; e tentação de Jesus no deserto) que constituem a base oral do material para os escritos evangélicos.

Lucas mostra a comparação de Jesus e João Batista indicando as diferenças de um e de outro. O final da ação do Batista inicia a de Jesus (Lc 16,16); eles estão interligados.

“Quando… a palavra de Deus foi dirigida a João,… no deserto” (v 2). Esta expressão é como um espelho que reflete o mistério do encontro do homem com Deus, através da palavra “humano-divina” em que João se torna arauto. Ela é uma palavra libertadora, redentora e salvífica, nos conformes com o profeta (Is 40,3-5), em que Deus libertador se posiciona na caminhada diante de seu povo rumo à terra prometida, como se fosse um novo Êxodo: saída de situações piores, para melhores.

“… pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados” (v 3). A frase índica o teor da ação de João, que é pregador e propõe um batismo de conversão, volta a Deus, pois todos pecaram, abandonaram Deus e estão sujeitos a ir a julgamento. O pregador não apresenta um elenco de leis e sim uma conversão para o perdão dos pecados.

Isaías (40,3-5 /em hebraico, é sem pontuação) permite duas linhas de interpretações: 1ª) “Esta é a voz daquele que grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor…” e a 2ª) “Esta é a voz daquele que grita: No deserto preparai o caminho do Senhor…”. A 1ª) destaca a “voz”, o brado, o chamando à preparação; e a 2ª) destaca o local de preparação “no deserto”, situação; na aridez, nas provações da vida.

O foco aqui é: “preparar o caminho do Senhor” (v 4). E qual é este caminho?

Desde que Deus escolheu vir ao mundo como humano em seu Filho (Gl 4,4), somos o caminho predileto para Deus.

Jesus se proclama “o caminho” (Jo 14,6). O discípulo pede que Jesus mostre o Pai, e ele responde: “Há tanto tempo estou convosco e tu não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,8s). O ser humano surge como imagem e semelhante a Deus (Gn 1,26).

Será se já vivemos intensamente em Deus de modo a revelá-Lo em nós aos demais? Se ainda não somos, comecemos a preparar o caminho, que é a minha, a sua vida, para que as pessoas cheguem a Deus em nós e por nós.

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