1Logo pela manhã, os sumos sacerdotes, com os anciãos, e os mestres da lei e todo o sinédrio,… tomaram uma decisão. Levaram Jesus amarrado e o entregaram a Pilatos. 2-15Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus e o entregou para ser crucificado…21-22Levaram Jesus para o lugar chamado…“calvário”…24-26 Com Jesus foram crucificados dois ladrões, um à direita e outro à esquerda…29-32Os que foram crucificados com ele também o insultavam. 33Quando chegou ao meio-dia, houve escuridão sobre toda a terra, até as três horas da tarde. 34Pelas três da tarde, Jesus gritou com voz forte: Eloi, Eloi, lamàsabactàni? Que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” 35…Vejam, ele está chamando por Elias!…37Então Jesus deu um forte grito e expirou. 38Nesse momento a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes. 39Quando o oficial do exército, … viu como Jesus havia expirado, disse: Na verdade, este homem era Filho de Deus!

B) Comentário

Os grupos responsáveis na sociedade perante os romanos entregaram Jesus a Pilatos (v 1). Naquele tempo os judeus não podiam ditar “sentença capital” (Jo 18,31); ela deveria ser reconhecida ou autorizada pelo legado romano.
Os evangelistas usam o mesmo verbo “entregar” (paradidomi), como apresentação legal de alguém a juízo. Entregaram Jesus, mas ele é dono de sua vida (Jo 10,18), e “entrega” a si mesmo: “Sabendo Jesus tudo o que lhe aconteceria, adiantou-se e lhes disse: ‘A quem procurais?’ Responderam: ‘Jesus, o Nazareu’. Disse-lhes: ‘Sou eu’ (Jo 18, 4-8)”.
A injustiça está na inversão de valores: troca-se o bem pelo mal; o bem é condenado e o mal é libertado (Jesus/Barrabás) (v 15).
“Jesus não respondeu mais nada, de modo que Pilatos ficou admirado” (v 5). Diante da injúria, o melhor é o silêncio: “injuriarumremedium est oblivium” (para a injúria; a indiferença).
O sorteio das vestes (v 24), e o brado a Deus (v 34), alude ao Salmo 22, onde Mt 27,46 usa o hebraico “Eli” do Sl 22, e Mc usa a forma vigente, aramaica, “Eloi”: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” O salmista expõe a Deus sua situação e suplica ajuda contra os inimigos e oferece gratidão plena. Suas primeiras palavras não eclodem como grito desesperado e sim amargura de não ver outra saída a não ser a intervenção de Deus.
No evangelho, Jesus o faz como oração pessoal diante do momento em que parece que os inimigos prevalecem em seus intentos: a vitória. É exatamente esta humilhação de Cristo, a via necessária para o triunfo sobre o mal. Deus age diferente do homem; Ele não necessita impor-se, nem destruir o inimigo; Ele não tem medo de ninguém. Eis a principal mensagem da Paixão de Jesus.
É lamentável que Jesus na desventura, o justo sofredor, não encontre solidariedade na humanidade, nem entre os que padecem com ele (v 32).
O grito final de Jesus (v 37) impressiona; é sua decisão voluntária e livre de morrer. Moisés não morreu de velho (Dt 34,7); Jesus tem energia, não morreu de fraco e sim no cumprimento da vontade do Pai.

 

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