Medo de sair de casa?

A nossa espécie surgiu há aproximadamente 200 mil anos e, dentre tantos aprendizados, descobrimos que nós, hominídeos, realizávamos ações de maior sucesso quando em grupo (exemplo, a caça). Nosso instinto de sobrevivência passou a reconhecer a proximidade com outros membros de nossa espécie como benéfica e necessária, levando-nos a nos organizar em grupos para buscarmos alimentos e nos defender de predadores. Assim, nos tornamos gregários, seres de relacionamento. Ou seja, por instinto, somos de reunir pessoas, de juntar, de aglomerar. Em tempos de pandemia, então, tivemos (ainda temos!) que lutar contra o nosso instinto gregário e nos isolar.

Há quase dois anos vivendo a experiência do isolamento, com o avanço da vacinação contra a covid-19 e o número de mortes caindo, voltar à rotina de encontros sociais (igrejas, cinemas, etc) ainda não é uma situação confortável para algumas pessoas, gerando uma ansiedade exacerbada. Muitos desenvolveram o medo de sair e interagir socialmente e hoje temos ouvido sobre reflexos da chamada Síndrome da Cabana(da Gaiola ou da Caverna), como situações caracterizadas pelo medo excessivo de sair de casa. Essa Síndrome está diretamente ligada à experiência do ser humano ficar longos períodos de tempo em isolamento social, podendo também ser desencadeada por traumas vividos na pandemia, como a morte de parentes e amigos, a internação pela doença ou outros eventos associados ao Coronavírus.

Embora não seja classificada como uma doença, a Síndrome da Cabana é um fenômeno que provoca um medo intenso de interação com as pessoas e, se o medo e desconforto causarem prejuízos no dia a dia, necessita haver avaliação e orientação por um profissional do comportamento humano. Uma das formas de se perceber é comparar o comportamento antigo com o atual: no passado era mais extrovertida, gostava de sair e não tinha problemas com isso e hoje está introspectiva e com dificuldade em se relacionar com outros.

Vale observar alguns sintomas da Síndrome, como: sensação de “não quero estar aqui”; dores; sofrimento; taquicardia, dificuldade para respirar, parecidos como crises de ansiedade, estresse, pânico e ansiedade social. É muito comum, ainda, alteração nos ciclos de sono e de vigília, aumento no gosto por alimentos mais gordurosos, com bastante carboidrato. Observa-se, dentre os sintomas, a preferência para se relacionar com animais e plantas. Óbvio que não há nada de errado com os bichos e as plantas, mas o humano é o único ser que precisa de outro igual a ele para sobreviver e para definir a sua identidade. Então, a preferência pelo relacionamento com não humanos pode ser sinal de que algo não está bem.

Criar uma rotina, mesmo que dentro de casa, como se fosse sair para o trabalho ou outras atividades sociais; rever amigos ou pessoas próximas; praticar atividade física, de preferência pela manhã, aproveitando os benefícios do sol e participar de outras atividades que permitam normalizar o convívio social de forma leve e natural, eis alguns passos para ajudar na superação da Síndrome. Fique bem, usando álcool em gel e máscaras e, ainda, evitando grandes aglomerações.

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