Considerado o difícil momento que ora vivo, com o falecimento recente de minha esposa, pessoas amigas recomendam que eu não deixe de escrever.
Diante de tal recomendação, que me parece sensata, aqui estou. Como no mês passado, o presente texto chega ao leitor, sem o aval de minha esposa, minha primeira leitora. Seus estudos foram até a conclusão do hoje denominado ensino médio no Colégio Gentil Bittencourt. No entanto, merecia minha confiança para verificar o que eu escrevia. Ela não só apontava os eventuais erros grosseiros, mas, sobretudo, os termos da abordagem feita, a conveniência, ou não, de encaminhar para publicação.
Nesta oportunidade, permita-me o leitor, partilhar lembranças, legado de minha esposa. A propósito, uma de nossas filhas encontrou em seus ‘arquivos’, umas anotações à mão livre, intitulada ‘Os dez mandamentos do casal’. Tais anotações não trazem requinte acadêmico, no entanto, refletem a autoridade de quem soube manter seu matrimônio até o fim, ao longo de 62 anos. Segue a transcrição:
1º) Nunca se irritar os dois ao mesmo tempo;
2º) Nunca gritar com o outro;
3º) Se alguém deve ganhar na discussão, deixe que o outro ganhe. O casal não deve discutir, mas sim dialogar;
4º) Se for inevitável ter que chamar atenção do outro, antes, indique duas qualidades positivas do outro;
5º) Nunca jogar no outro os erros do passado. A pessoa não gosta de ser olhada pelos seus erros;
6º) A displicência ou relaxamento com qualquer pessoa é tolerável, menos com o seu cônjuge;
7º) Nunca ir dormir sem entrar em acordo;
8º) Pelo menos uma vez por dia dizer ao outro uma frase de ternura. Ex: ‘Eu te amo’ ‘Me perdoa’;
9º) Cometendo um erro, saiba admitir e pedir desculpas;
10º) Quando um não quer, dois não brigam.
Além de esposa, ela derramou também sobre mim, sua vocação materna. Nos últimos dias que estivemos juntos, em casa, eu desejava-lhe boa noite com um beijo na sua testa, enquanto ela respondia com um terno sorriso, dizendo: Deus te abençoe!