Muitas vezes, o amor mão é amor

Vivemos em um tempo marcado por profundas polarizações: nas questões da economia mundial, na política dos países, e até mesmo em questões religiosas surgem visões contrastantes que não admitem pensamentos outros, e consideram as pessoas e grupos que pensam diferente do seu próprio grupo como “inimigos”. Esquecem-se ou simplesmente não levam em consideração o mandamento cristão do amor ao próximo (que, inclusive, abrange o amor ao inimigo) e abrem-se assim críticas ferrenhas de uns para com os outros.

É neste contexto que a meditação de Chiara Lubich com este título “Muitas vezes o Amor não é amor”, no seu livro Meditações, publicado pela editora Cidade Nova, SP, 2005, ilumina e esclarece como pensar e agir. Eis aqui alguns trechos significativos: “Porque muitas vezes o amor não é amor no mundo, vale para ele o ditado: “O amor é cego”. Mas, se uma alma começa a amar como Deus ensina – Deus que é Amor – vê logo que o amor é luz. De resto, Jesus o disse: “E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu o amarei e a ele me manifestarei” (Jo 14,21).

Um turbilhão de vozes, de procedências as mais variadas, inunda com frequência a nossa alma, sobretudo quando ela não sabe bem o que seja amar a Deus. São vozes insonoras, mas fortes: vozes do coração, vozes do intelecto, vozes de remorso, vozes de saudade, vozes das paixões… E nós seguimos ora uma, ora outra, preenchendo o nosso dia com atos que concretizam aquelas vozes ou ao menos são, de algum modo, determinados por elas.

Por isso, às vezes, a vida, ainda que vivida na graça de Deus, tem somente breves réstias de sol; e tudo o mais fica imerso em um tédio, que uma voz, mais forte do que as outras, levanta-se amiúde para condenar, como a dizer que aquela não é a verdadeira vida, a vida plena. Se, ao contrário, a alma se volta para Deus e começa a amá-lo, e seu amor é verdadeiro, é concreto, é de cada instante, de vez em quando percebe uma voz, entre as muitas que acompanham a vida. Mais do que voz, é uma luz que se infiltra suavemente no intrincado concerto da alma. É um pensamento quase imperceptível que a ela se oferece, mais delicado talvez do que os outros, mais sutil. Esta é, às vezes, a voz de Deus. Então, a alma que se decidiu pelo Senhor, que com Ele não regateia, mas a Ele tudo quer dar, extrai do pântano aquele repuxo límpido e sereno; é uma safira em meio a tantos seixos; é como o ouro em meio ao pó. …

Tudo isto é sumamente desejável, até que o nosso coração seja imerso o dia inteiro só em pensamentos de Céu, a ponto de transbordar; e a nossa vida, alimentada pelos sacramentos, seja por eles deificada.

É somente vivendo assim que o nosso coração se alarga e supera as polarizações.

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