Celebramos com grande alegria, fruto do Espírito, a Solenidade de Pentecostes. Nossa Igreja olha para frente e para o alto, como desejamos meditar e rezar na Grande Vigília, preparada com carinho por tantas pessoas que a ela se dedicaram. No Pentecostes, a Igreja saiu à vida pública, começando pelas ruas e praças de Jerusalém, destinando-se a alcançar os confins da terra, segundo o mandato do Senhor.
A Igreja parte do Cenáculo, onde se encontra em oração, meditação e louvor constante, como nos faz cantar “Pelas estradas da vida”, na certeza de que Santa Maria, Mãe de Jesus, Nossa Senhora de Pentecostes, vai conosco, para sair por todos os caminhos do mundo, lutando por um mundo novo de unidade e paz, mesmo que digam os homens que nada pode mudar. Ainda que os homens caminhem sem se conhecer, a Igreja e os cristãos não negam sua mão a quem encontrarem pela estrada. Com coragem, mesmo quando a vida parece inútil caminhar, sabemos todos que abrimos caminho e outros nos seguirão!

Tamanha coragem só se torna possível com a ação do Espírito Santo prometido e derramado sobre a Igreja. Para fazer navegar a Barca da Igreja pelas águas revoltas do mundo, ou voar em meio a ventos contrários, é necessário que se renove a acolhida do dom maior, o Espírito Santo, que faz as velas desse barco singrarem as águas e suscita voos cada vez mais audazes e corajosos. Recordemos que todos fomos feitos morada de Deus, e em nós habita seu Espírito Santo, desde a graça da Iniciação Cristã, Batismo, Crisma e Eucaristia, quando fomos inseridos de forma indestrutível no Corpo Místico de Cristo.
Condição para participarmos desta Obra magnífica de Deus é a docilidade, prontidão para ouvir o sopro do Espírito que age em nossa consciência. Ouvir sempre aquela voz que nunca se cala. Jamais agir contra esta voz! Navegar e voar em silêncio, sabendo que Deus não nega estas inspirações, mesmo a quem porventura se ache distante das estruturas visíveis da Igreja, pois o Espírito sopra onde quer! E faz brotar no coração o desejo da conversão, mudança profunda de vida, como fez com São Paulo e tantas outras pessoas na história da Igreja. Do pecador e perseguidor, fez surgir ardoroso apóstolo! E ele continua a realizar tais maravilhas! Podemos clamar com coração aberto, em nome próprio e de muita gente: “Vem Espírito Santo!”

Deixar-se conduzir pelas asas do Espírito suscita na Igreja e nos corações o desejo da perfeição e da santidade, na superação da mediocridade. Aqui, os santos foram e são os mais ousados! Há poucos dias, o Santo Padre reconheceu as virtudes heroicas no caminho da santidade de duas figuras brasileiras emblemáticas. De Três Pontas – MG, a Serva de Deus Irmã Tereza Margarida do Coração de Maria, Carmelita Descalça, irmã de Dom João Resende Costa, o Arcebispo que me concedeu desde a Crisma até o Episcopado. Em seguida, o Servo de Deus Guido Vidal França Schäffer, seminarista, nascido em Volta Redonda e falecido em 2009 no Rio de Janeiro, aos trinta e cinco anos, cuja foto como surfista corre o mundo, apelo à santidade da juventude! Não há uma vocação mais bonita do que as outras, pois todas são caminhos suscitados pelo Espírito Santo na estrada da perfeição. Num hábito de Carmelita, na Medicina, no Seminário, ou surfando nos mares e na vida, existem muitos e às vezes escondidos santos “de calça jeans” necessários para o nosso tempo! Que o Espírito Santo nos faça desejosos da perfeição e da santidade!

Caminhar nas asas do Espírito significa permitir que cresça em todos nós uma sensibilidade especial pelos carismas por ele suscitados, respostas de Deus para cada tempo. Surgem iniciativas pastorais, missionárias e caritativas, grupos de pessoas que se aventuram em serviços missionários itinerantes, pregadores e pregadoras do Evangelho presentes nos lugares mais desafiadores, pessoas com a graça especial do acompanhamento e aconselhamento dos outros, obras educativas e formativas. Carisma é um dom concedido a uma pessoa ou um grupo de pessoas para os outros e para o bem da Igreja e da humanidade. Estamos em tempo de abertura para as novidades que o Espírito faz nascer. É hora de estar atentos ao que o Espírito diz às Igrejas! (Ap 2,1­3,22) Ele é sempre novo e desafiador!

Nas asas do Espírito, haveremos de voar aos espaços mais distantes, o coração e a realidade dos mais pobres, quando a sensibilidade para a caridade nos faz sair do acomodamento e despojar-nos nas zonas de conforto em que possamos nos instalar. Louvemos a Deus porque nascem pessoas e instituições capazes de partir e repartir o pão e outros alimentos, as roupas, casas, apoio! Não é difícil perceber a onda de solidariedade que se espalha também diante de catástrofes naturais ou geradas pelas ações humanas, apontando para o amor-caridade, e ali está o dom perfeito. Assim aprendemos: “Vou mostrar-vos um caminho incomparavelmente superior. Se eu falasse as línguas dos homens e as dos anjos, mas não tivesse amor, eu seria como um bronze que soa ou um címbalo que retine. Se eu tivesse o dom da profecia, se conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, se tivesse toda a fé, a ponto de remover montanhas, mas não tivesse amor, eu nada seria. Se eu gastasse todos os meus bens no sustento dos pobres e até me entregasse como escravo, para me gloriar, mas não tivesse amor, de nada me aproveitaria. O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza, não leva em conta o mal sofrido; não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo. 8 O amor jamais acabará (1 Cor 12,31-13,7). Vem, Espírito de Amor!

Num mundo que vive a chamada “mudança de época”, é essencial indicar ainda os frutos do Espírito Santo, que desejamos testemunhar e espalhar: “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5,22-23). Mas brota em nossos corações o anseio de que a “Pomba da Paz” traga justamente este fruto, a Paz, diante dos muitos e diversificados dilúvios de nosso tempo. E que ele pouse sobre Jesus, nas águas do Jordão, o lugar onde se desce para beber água, para fazer-nos reconhecer, lavados nas águas e professando a fé, aquele que é o Príncipe da Paz! Venha do Céu, nas asas do Espírito, um vento forte, que encha toda a casa comum em que nos encontramos. Apareçam línguas de fogo que se repartam e pousem sobre nós, para que todos fiquemos cheios do Espírito Santo (Cf. At 2,1-4).

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