Introdução
A comunhão da Igreja é dom de Deus e, ao mesmo tempo, é responsabilidade de cada fiel. A experiência da comunhão, portanto, pressupõe não somente a graça da fé, mas também um profundo comprometimento do sujeito, pois sem o esforço pessoal não será possível a vivência da convergência, da sinergia, nem da colaboração.
A fé nos educa e, por isso, nos compromete a estarmos, continuamente, num sério e permanente processo de cuidado conosco mesmos, dando especial atenção à nossa impulsividade e, de modo geral, a tudo aquilo que tem potencial ofensivo à comunhão fraterna. Isso significa a necessidade da nossa fé gerar consequências morais, ou seja, promover a qualidade das nossas atitudes. Sem isso, movidos por nossas fragilidades que, com frequência se manifestam através dos pecados capitais, somos levados a entrar em contínuo conflito com os outros, negá-los, ou de diversos modos, rejeitá-los e agredi-los.
1 – A necessidade do esforço
A comunhão exige esforço pessoal. É assim, porque ela é um fruto da Caridade. Sendo tal, nos compromete por inteiro, porque o amor ao próximo é exigente, provocante, desafiador. O próprio Jesus apresentou o seu seguimento como experiência de esforço. “Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo tome a sua cruz e me siga” (Lc 9,23); «Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão” (Lc 13, 24). A vida cristã exige esforço! Também os apóstolos São Paulo, São Pedro, São João, São Tiago em diversas ocasiões, falaram da necessidade do esforço para que cada fiel possa demonstrar a qualidade da sua fé através da vida fraterna.
Escrevendo aos Romanos, Paulo pede-lhes que façam todos os esforços para poderem viver em paz uns com os outros (cf. Rm 12, 18); “esforcemo-nos em promover tudo quanto conduz à paz, seu aperfeiçoamento mútuo” (Rm 14, 19). Na Segunda Carta aos Coríntios estimula os fiéis a se esforçarem para agir com maturidade, conservando bom ânimo, encorajando-se mutuamente, cultivando um só pensamento para viverem em harmonia (cf. 2Cor 13, 11).
Aos Efésios o mesmo apóstolo diz: “procurem, cuidadosamente, manter a unidade do Espírito no vínculo da Paz” (Ef 4, 3). Muitas atitudes de agressividade emergem através das nossas palavras, por isso, recomenda-lhes que nenhuma palavra inconveniente seja pronunciada e que se afastem da aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto e todo tipo de maldade (cf. Ef 4, 23-31).
Para São Pedro esse esforço para testemunhar nossa fé no seguimento de Jesus Cristo deve ser manifestado através das virtudes; somos chamados a cultivar uma fé virtuosa, por isso, afirma o apóstolo: “façam esforço para pôr mais virtude na fé, mais conhecimento na virtude, mais autodomínio no conhecimento, mais perseverança no autodomínio, mais piedade na perseverança, mais fraternidade na piedade e mais amor na fraternidade. De fato, se vocês tiverem essas virtudes em abundância, elas não permitirão que vocês se tornem inúteis ou infrutíferos no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas quem não tem essas virtudes é cego e míope, pois se esqueceu da purificação de seus pecados antigos. Por isso mesmo, irmãos, procurem com mais cuidado firmar o chamado que escolheu vocês. Agindo desse modo, nunca tropeçarão” (2Pd 1, 5-11).
2 – Os pecados
capitais impedem a comunhão
Pecados capitais, são assim chamados, aqueles vícios que nos levam a produzir outros males. Trata-se de males que trazem consigo um forte potencial destrutivo, tanto em nível pessoal como comunitário.
Os pecados capitais, por causa das suas potencialidades maléficas, constituem uma grande barreira que dificulta a experiência da promoção da comunhão fraterna na vida da Igreja. Aliás, não só na vida da Igreja, mas também nos nossos relacionamentos interpessoais em geral, na família, no clube, no exercício da vida profissional, etc. Os sete pecados capitais são: soberba, avareza, luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. Onde se enraízam os pecados capitais, ali não haverá espaço para a experiência da comunhão.
1. Soberba: trata-se do conceito exagerado de si mesmo presumindo senso de superioridade. Como consequência o soberbo cai na vaidade, no narcisismo, na arrogância, no orgulho, na prepotência, na desobediência, na negação de limites, etc. Para quem assume essa postura, não existe experiência de comunhão porque ela pressupõe a aceitação do outro como ele é. A experiência da comunhão requer o exercício da humildade.
2. Avareza: o pecado capital da avareza nos leva ao apego excessivo aos bens materiais e a tudo aquilo que é visto como propriedade privada. Como consequência, esse pecado capital nos leva à ganância, à mesquinhez, ao fechamento; o avarento não partilha, não doa, é cego, insensível; somente acumula e retém para si; mas para a vivência da comunhão é preciso a abertura às necessidades dos outros e à prática da generosidade. O avarento fecha-se nas próprias riquezas e dons pessoais.
3. Luxúria: é o desejo extremo e egoísta pelo prazer, lazer, diversão, vida mansa, orgias, devassidão… Essa obsessão pelo prazer e luxo, leva o sujeito a viver a experiência da dominação, da possessividade, da coisificação das pessoas e, consequentemente, a negação de toda e qualquer experiência de sacrifício em prol dos outros. Ora, sem sacrifício e renúncia, não é possível a comunhão.
4. Ira: é a atitude que manifesta sentimentos de raiva, ódio e cólera por alguma coisa, por alguém ou grupo de pessoas. A ira ou ódio gera dramáticas consequências como o desprezo, a violência, o descontrole, a injustiça, o homicídio. Tais atitudes atentam profundamente contra a comunhão que exige o exercício da reflexão, da mansidão, paciência, discernimento, prudência, calma.
5. Gula: este pecado nos leva à satisfação egoísta das nossas necessidades de comer e beber além do equilíbrio. A gula é referência de excessos, descontroles, vícios, desequilíbrios, intemperança, desperdício. A experiência da comunhão pressupõe o justo equilíbrio na distribuição dos bens, de acordo com a necessidade de cada um. Não há verdadeira comunhão onde uns tem tudo e outros sofrem de fome e sede.
6. Inveja: é a manifestação de descontentamento com o bem e o sucesso alheio… O pecado da inveja nos leva a nos alegrar com o mal do outro; na verdade, deveríamos sempre só nos alegrar com o seu bem; na experiência da comunhão fraterna há sempre admiração pelo outro e o reconhecimento das riquezas, virtudes e talentos de cada um. O invejoso vê na riqueza do outro uma ameaça a si mesmo.
7. Preguiça: a preguiça é a atitude de falta de ânimo para o trabalho, para com a promoção do outro, da vida comunitária, do bem comum; a preguiça se manifesta através da postura de desleixo, de desinteresse, de moleza, indiferença diante das necessidades alheias; a preguiça é negação do sentido de pertença e do cuidado para com o outro. São atitudes que depõem profundamente contra a comunhão porque esta, implica o zelo de cada um para com todos. Onde impera a preguiça não há senso de comunhão.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1Por que a fé nos educa?
2Por que a fé é dom e responsabilidade?
3Qual dos pecados capitais tem maior potencial destrutivo da comunhão e por quê?