“Peregrinos da Esperança” é o tema proposto pelo Papa Francisco para o Jubileu de dois mil e vinte e cinco, levando em conta que os desafios do tempo presente podem suscitar este terrível desânimo diante de tantos problemas existentes. Cabe à Igreja dar uma verdadeira injeção de Esperança a este mundo e ao nosso tempo! E como a Esperança é filha de nossa Fé, justamente pela proposta do Papa, o ano que estamos vivendo, dois mil e vinte e quatro, é dedicado à Oração, para que sejamos iluminados e animados pelo Pai Nosso, a Oração que o Senhor nos ensinou. Assim, já “mudamos de andar”, enxergando as coisas com o olhar de Deus, com a certeza de sua infalível paternidade!
O profeta Jeremias, em tempos de crise na história do Povo de Deus, acendeu a luz da Esperança, anunciando, em nome do Senhor, uma Nova Aliança (Cf. Jr 31,31-34), e nós acolhemos a promessa e sua realização a cada dia, quando se diz, na celebração da Eucaristia: “Tomai, todos, e bebei: Este é o Cálice da Nova e Eterna Aliança, que será derramado por vós e por todos para Remissão os Pecados, Fazei isto em memória de mim!”. A Nova e Eterna Aliança acontece, e é definitiva, no Mistério da Morte e Ressurreição ao Senhor! Por isso o cristão nunca se desespera diante dos problemas existentes na sociedade e no mundo!
Tal certeza é fonte de uma visão positiva da história da humanidade e de nosso tempo, chamados que somos a caminhar contra a corrente de negativismo existente. No Evangelho de São João, várias vezes o “mundo” é visto como expressão do mistério do pecado e da maldade. Outras vezes, o “mundo” é o campo de missão e o espaço por onde há de se espalhar a força do Evangelho, como nas palavras do Senhor que se seguem: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem come deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne, entregue pela vida do mundo” (Jo 6,51). É o que ouvimos há poucos dias na Liturgia Quaresmal: “De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17). Podemos até arriscar-nos a dizer que a Igreja vai em busca dos grandes problemas do mundo e das pessoas para iluminar e introduzir em todos os ambientes o amor de Deus, e o faz preferindo as coisas mais difíceis!
No Quinto Domingo da Quaresma, a Liturgia nos faz conhecer algumas pessoas chegadas de longe do ambiente judaico de Jerusalém, gregos que querem ver Jesus (Jo 12,20-33). Os Apóstolos Filipe e André foram falar com Jesus. Hoje queremos ampliar a dupla de discípulos do Senhor, para envolver a todos nós. Há muitas pessoas querendo ver Jesus de forma sincera e autêntica, desafiando-nos a conduzi-las ao Senhor. E devemos fazê-lo mostrando a face de Cristo de modo autêntico, sem radicalismo de qualquer lado que se possa pensar, mas com a clareza do Evangelho. Ninguém há de ser enganado, pois todos têm direito de conhecer Jesus Cristo!
E a resposta de Jesus àqueles que desejavam conhecê-lo não é enganosa, pois ali mesmo anuncia a “lei do grão de trigo”, que morre para frutificar. Para ele, era tempo de profetizar o que viveu alguns dias depois, sua Morte e Ressurreição. Para nós, é tempo de reconhecer que só pela Cruz se chega à Luz e à Vida verdadeira. Para todos, esta é a ocasião de superar uma visão, quem sabe, adocicada do Senhor em quem acreditamos. Sim, seria um engano destruidor negar a Cruz e o sofrimento, afirmar que nada nos faz mal, ou anunciar um otimismo ingênuo que não tem nada de cristão! Ser cristão é acreditar naquele que deu sua vida por nós, amou-nos até o fim, e aceitar imolar-nos com ele, por ele e por todos os nossos irmãos, identificando-nos com sua entrega, para que o mundo e todos tenham vida, e vida em abundância.
Entretanto, nosso horizonte de fé pode abrir-se ainda à necessidade de construir uma sociedade justa e fraterna, num mundo em que não somos todos católicos ou cristãos. A diversidade e o pluralismo existente podem causar medo! Só que há muitas sementes do Verbo de Deus presentes no coração e na vida de muitas pessoas diferentes ou até estranhas ao nosso modo de pensar e viver. A Igreja no Brasil nos propôs, durante esta Quaresma, o tema da amizade social, a possibilidade de compartilhar a busca do bem comum, do bem viver e a sede da verdade com tantas pessoas, grupos e instituições, o que não significa renunciar à nossa fé e às nossas convicções. Aliás, diálogo e partilha de ideias e ações que expressem tal amizade social só podem existir quando as pessoas estiverem maduras justamente em tais convicções, respeitando o diferente, buscando o que existe em comum, sem compactuar com o pecado e a maldade, olhando para frente e para o alto!
A Nova Aliança realizada no Sangue de Jesus Cristo faz com que se derrame a torrente da graça, para alcançar, de acordo com o plano de Deus, todos os homens e mulheres, até o fim dos tempos! E nossa contribuição será acolher as pessoas, escutá-las, construir pontes entre pessoas que se opõem, superar julgamentos precipitados, valorizar o bem que existe! Para ajudar a transformar nossa realidade e nosso mundo, algumas propostas: Agir como bons samaritanos que sentem compaixão de todos os feridos e fazem tudo o que estiver ao seu alcance, olhando cada pessoa com amor, seja quem for. É hora de abrir-nos à diversidade existente, superar o medo de tudo o que é contraditório e estabelecer linhas de comunicação com o que é bom. Caminhos prontos para começar podem ser os encontros interpessoais com amor e respeito, pensando, por exemplo, nos contatos com vizinhos que não combinam uns com os outros, podendo, de nossa parte, ser presença de reconciliação e mediação de conflitos. E muitos de nós podem se capacitar para enfrentar e responder com caridade e competência a discursos de ódio, racismo, discriminação e preconceitos existentes em nossa época. Enfim, ao final da Quaresma, participar com generosidade do gesto concreto da Campanha da Fraternidade, na Coleta do Domingo de Ramos que, em nossa Arquidiocese, será destinada à capacitação e ações em prol dos surdos-mudos. A Nova Aliança, no Sangue de Cristo, gera vida nova para a vida do mundo também em atitudes e gestos bem simples!