Esta afirmação – “O amor é comunhão” – pode ter diferentes interpretações; e dependendo do contexto poderão estas ser convergentes ou divergentes. No contexto cristão, ela significa o relacionamento entre as pessoas que seguem Jesus Cristo (donde vem o nome “cristãos”) iluminado pelo mandamento de Jesus que, explicitamente, na véspera de sua morte na cruz, na última ceia com seus amigos, disse: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Nisto reconhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13,34-35). O amor é comunhão significa também que as outras pessoas, porque também elas ligadas a Cristo, são parte integrante da comunidade, membros da mesma família, ovelhas do mesmo rebanho, ramos da mesma videira.
Das muitas metáforas para expressar a grandeza do amor, uma das que eu gosto muito, é a comparação do amor com a luz que, ao atravessar por um prisma, se reflete nas cores do arco-íris. O que acontece? A luz branca, atravessando o prisma se reflete em vermelho, alaranjado, amarelo, verde, azul, anil e violeta, formando assim aquela beleza única, típica do arco-íris. É a mesma luz que se reflete em cores diferentes; nenhuma delas se confunde com as outras, mas todas estão interligadas, pois nascem da mesma fonte. É o conjunto de todas elas que exprime a beleza da única luz branca. Pensando nesta imagem podemos entender a grandeza do amor: é único, contudo, se exprime em aspectos vários.
O primeiro aspecto do amor é a “comunhão dos bens”. Lemos que os primeiros cristãos, “perseveravam na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações; todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum” (Atos 2,42.44). Esta experiência da primeira comunidade cristã é característica dos seguidores de Cristo e continua a inspirar também em nosso tempo atual como somos chamados a viver o amor: com a comunhão dos bens.
Esta experiência da comunhão de bens, que inicialmente foi vivida de maneira revolucionária e radical, no decorrer da história, assumiu diferentes formas, e continua com sua força inspiradora, mas, não podemos negar, sofreu um certo arrefecimento do seu fervor inicial. Em nossos dias, a comunhão total dos bens, em geral, se vive nas comunidades religiosas. Quem ingressa numa comunidade religiosa assume o compromisso de colocar tudo em comum fazendo o voto de pobreza.
Como sabemos, para todos os cristãos, o modelo de vida é a comunhão das pessoas divinas, na Santíssima Trindade. E entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, vale a afirmação: “tudo o que é meu é teu” (Jo 17,10). Existe completa comunhão entre as pessoas divinas. Nós, idealmente buscamos espelhar-nos nesta comunhão divina para vivermos como discípulos/as de Jesus.
Concretamente, existem muitas experiências e diferentes níveis de vivência da comunhão de bens entre os cristãos. Todas as congregações religiosas, associações de fiéis e novas comunidades que foram surgindo nos tempos, se espelham na primeira comunidade dos cristãos de Jerusalém. Conheço bem de perto a experiência de comunhão de bens vivida ao interno do Movimentos dos Focolares: há aqueles que fazem completa comunhão dos bens: os focolarinos/as; há aqueles que fazem comunhão de bens do supérfluo: todos os outros membros. No início do movimento, a cada mês, se colocava em comum as disponibilidades e as necessidades; com o surgimento dos setores, estes a fazem entre seus membros.
Para o Movimento dos Focolares a primeira fonte de recursos é a “Providência de Deus”; pois é norma para os seus membros – assim como o é para todos os cristãos – “buscai acima de tudo o reino de Deus” (Mt 6, 33). A segunda fonte de recursos é o trabalho. Como Jesus em Nazaré trabalhou, assim também cada ser humano é chamado a trabalhar para continuar a obra da criação do mundo. Também porque só quem trabalha e ganha seu salário consegue compartilhar com quem precisa.
A Providência de Deus e o trabalho formam o “capital de Deus” do qual nós somos somente administradores. É da comunhão de bens vivida segundo o evangelho que decorre o espírito da pobreza. É evangélico viver a pobreza. É exigência do amor que é comunhão. É manifestação concreta do amor ao próximo. Os regulamentos dos setores do Movimento dão indicações concretas e pedem uma administração dos bens muito transparente e honesta. A pobreza é efeito da caridade: porque se se ama, se dá e se permanece pobres, somente com o que é necessário.
Tudo isto é vivido no âmbito interno, com pessoas cristãs, e quando esta experiência se abre como uma proposta para toda a sociedade, nasce um projeto global que inspira uma “economia de comunhão”, que teve início em 1981, no Brasil, e continua crescendo no mundo todo. Mas este é assunto para outra oportunidade.
Todos nós podemos viver a comunhão de bens tornando-nos dizimistas. A experiência do dízimo nas paróquias da Igreja no Brasil tem suas raízes na experiência de comunhão dos primeiros cristãos. Também este é assunto para outra oportunidade.