O associacionismo juvenil na experiência de Dom Bosco (parte 5)

 

Introdução
Continuando nossa reflexão sobre o associacionismo juvenil, façamos memória de São João Bosco (1815-1888). Na carta “Centesimo Exeunte”, por ocasião da conclusão do primeiro centenário da morte de Dom Bosco (31 de janeiro de 1989), São João Paulo II não hesitou chamar Dom Bosco de “Pai e Mestre da juventude”.
Na Carta IuvenumPatris, de janeiro de 1988, João Paulo II que, desde jovem, conheceu o carisma salesiano na paróquia Santo Estanislau em Cracóvia, ressaltou diversos aspectos da sensibilidade juvenil de Dom Bosco como bom pastor e educador dos jovens.

A experiência pedagógica de Dom Bosco será sempre uma referência para a pastoral juvenil por diversos motivos: por sua intuição pastoral capaz de compreender a inseparável relação entre evangelizar e educar e vice-versa, por sua sensibilidade metodológica e estratégica na educação, por sua percepção da condição existencial dos jovens, por sua inteligência pastoral, criatividade equilibrada, paixão preventiva, capacidade de acompanhamento dos jovens, compromisso de despertar e educar para a formação do “bom cristão e do honesto cidadão” etc.
No universo metodológico da evangelização e educação dos jovens, Dom Bosco foi um grande promotor do associacionismo. É sobre essa sua experiência que queremos refletir. A experiência do associacionismo por parte de Dom Bosco, padre diocesano de Turim, profundamente encarnado na realidade do seu povo, é muito significativa e inspiradora para a pastoral juvenil nos nossos dias.

1. Dom Bosco promotor do associacionismo juvenil
João Bosco ainda estava em formação inicial quando teve a primeira intuição sobre a importância da formação de grupos dentro do seminário com o objetivo de contribuir com a promoção do clima formativo no seminário. Dessa forma, com muita boa intenção, fundou a “Sociedade da Alegria” em 1833 com um grupo de colegas.
João Bosco, sensível e crítico, analisava seus colegas de seminário e identificava três grupos de rapazes: aqueles que eram bons e bem-intencionados, aqueles que eram indiferentes e os maus. Mas para Bosco não foi suficiente essa reflexão analítica categorizando seus colegas, era necessário estimular os bons para potencializar suas virtudes, animar positivamente os indiferentes e fazer todo o possível para que os maus não contaminassem os demais. É nesse contexto preventivo que nasceu assim a sociedade da alegria.

2. A Sociedade da Alegria
A sociedade da alegria era composta por bons jovens, virtuosos, piedosos e tinha basicamente como objetivos a animação dos colegas, procurando estimular no seminário um clima de alegria, bem-estar, evitando toda e qualquer peso de tristeza e melancolia, fofoca, desobediência, blasfêmias; incentivar o bom comprimento dos deveres religiosos e escolares, bem como, apoiar tudo aquilo que pudesse favorecer o cumprimento da vontade de Deus. Dessa forma, a Sociedade da Alegria incentivava o protagonismo juvenil e se tornava um instrumento promotor da formação, auxiliando os formadores.
Essa experiência de João Bosco durante o tempo do seminário foi profundamente marcante e educativa, não só do ponto de vista afetivo, mas por diversos outros motivos, como por exemplo, pelo enriquecimento humano, desenvolvimento de habilidades, pelo fortalecimento do bem e das virtudes dos colegas, pela força preventiva contra a atuação dos maus colegas, pela ajuda aos pais e formadores; foi na verdade um laboratório inicial de um poderoso instrumento pedagógico que, depois como sacerdote, o Padre João Bosco vai promover ao longo da sua vida com jovens, a formação de grupos juvenis. Vejamos outros exemplos de experiências associativas juvenis promovidas por Dom Bosco ao longo do seu serviço educativo-pastoral em meio aos jovens de Turim.

3. A Companhia de São Luís Gonzaga
Recordando a positiva experiência do seminário, já como sacerdote, Dom Bosco fundou a companhia de São Luís (1847) entre os adolescentes que frequentavam o seu Oratório. Essa Companhia era basicamente formada por jovens piedosos que se inspiravam nas virtudes de São Luís.
Os objetivos dela estavam relacionados ao dinamismo da vida e dos ideais do seu santo protetor, como por exemplo, estimular a sensibilidade para com os compromissos religiosos, fomentar o clima de piedade, evitar tudo aquilo que pudesse contrariar a boa moralidade, incentivar os oratorianos em todos os contextos, à reflexão sobre a importância da busca da santidade.

4. A Companhia da Imaculada Conceição
Outro grupo de grande relevância no oratório de Dom Bosco foi a companhia da Imaculada Conceição (1856). Esse foi um dos grupos mais importantes do dinamismo educativo do oratório de Dom Bosco que contou com a presença e o dinamismo da liderança de São Domingos Sávio (1842-1857). Essa companhia tinha como finalidade a promoção do Amor à Nossa Senhora, pedindo a sua especial proteção.
A promoção da devoção à Nossa Senhora da Imaculada Conceição tinha como objetivo estimular nos jovens e adolescentes não só o amor a Maria, mas também a imitação das suas virtudes. Os componentes da Companhia da Imaculada estavam profundamente comprometidos com o bom comportamento, a atenção solidária e delicada para com os companheiros, a virtude da prudência e a seriedade nos compromissos. Os membros da Companhia da Imaculada assumiam o compromisso de serem os “anjos da guarda” daqueles indisciplinados. Era uma forma significativa de promoção do protagonismo juvenil estimulando os jovens virtuosos a cuidar daqueles que mais precisavam de acompanhamento e auxílio; eram jovens evangelizando jovens, apesar de terem praticamente as mesmas idades. Os membros da Companhia da Imaculada também deveriam ficar atentos aos calouros que chegavam no oratório, ajudando-os a se inserirem progressivamente no ritmo da Comunidade.

5. Outras Companhias
Em 1857 foi fundada a Companhia do Santíssimo Sacramento. Ela tinha como objetivo central a promoção do zelo para com a Eucaristia, a adoração e a devida devoção para com esse sacramento.
Outro grupo promovido por Dom Bosco, a chamada Conferência Juvenil de São Vicente de Paulo(1857), tinha como objetivo estimular entre os alunos o serviço da caridade, a prática da solidariedade, a prestação de socorro a quem necessitava de especiais cuidados. Com esse grupo Dom Bosco tinha em mente favorecer entre os jovens o desenvolvimento da sensibilidade para com os mais pobres ou que passavam por situações difíceis, capacitando-os à prática da caridade.

Em 1858 foi fundada a Companhia do pequeno Clero, eram assim chamados os coroinhas. Tinha como missão e promoção do decoro das sagradas funções litúrgicas, bem como a exatidão das práticas de piedade e o crescimento na fé e no Amor às atividades religiosas. Nas solenidades o pequeno clero entrava em evidência.
Enfim, em1959, o santo dos jovens, funda mais um grupo, dessa vez foi a Companhia de São José. Era a associação daqueles jovens que tinham um grande amor ao trabalho e desejavam ser bons profissionais católicos. Os membros dessa Companhia, estando sob a proteção de São José, buscavam imitá-lo através da santificação do trabalho, da promoção da justiça, do respeito para com os familiares e sendo instrumentos de solidariedade.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1. O que você admira em Dom Bosco no seu cuidado pastoral para com jovens?
2. O que podemos fazer para estimular o nascimento de múltiplas associações juvenis?
3. Qual das Companhias mais lhe chamou a atenção e por quê?

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