O chamado missionário e as diversas missões

A Igreja começou na casa! No Cenáculo, o andar de cima de uma residência foi o lugar da Última Ceia, com o Mandamento Novo, o Lava-Pés, os Discursos de Despedida e a Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial. Tudo indica que foi o mesmo lugar em que Jesus se manifestou aos seus Apóstolos e também o espaço da novena de orações que realizaram, tendo Maria como Coração da Pequena Comunidade, preparando-se ao Pentecostes. Após a efusão do Espírito Santo, a primeira de muitas, saíram à vida pública. Adquiriram a ousadia e a coragem de pregar pelas ruas e praças, com o ardor missionário que acompanha a Igreja até hoje e vai conduzi-la até o final dos tempos, enquanto clama cada dia, na Eucaristia: “Vem, Senhor Jesus!”

Com a conversão de Paulo, ajuntada também providencialmente a perseguição, dispersou-se a primeira comunidade, formaram-se outras e a mesma Igreja se faz presente por toda parte. Da casa para as ruas e praças, pelas estradas e caminhos que conduzem aos confins da terra, sempre retornando à Casa da Palavra e da Eucaristia, sustento para o ardor missionário! E Igreja passa também a ser nome da Comunidade Cristã e do templo, que chamamos igreja! Da Missa nasce a missão, e para a Missa retornamos, trazendo os frutos da presença do testemunho e da ação missionária!

E nasce a riqueza dos Carismas, Ministérios e Serviços, multiplicados pela ação do próprio Espírito Santo. Dentre outros textos, trazemos o que São Paulo escreveu aos Romanos sobre os vários serviços na Igreja: “Eu vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso verdadeiro culto. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito. Pela graça que me foi dada, recomendo a cada um de vós: ninguém faça de si uma ideia muito elevada, mas tenha de si uma justa estima, de acordo com o bom senso e conforme a medida da fé que Deus deu a cada um. Como, num só corpo, temos muitos membros, cada qual com uma função diferente, assim nós,  embora muitos, somos em Cristo um só corpo e, cada um de nós, membros uns dos outros. Temos dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada. É o dom de profecia? Profetizemos em proporção com a fé recebida. É o dom do serviço? Prestemos esse serviço. É o dom de ensinar? Dediquemo-nos ao ensino. É o dom de exortar? Exortemos. Quem distribui donativos, faça-o com simplicidade; quem preside, presida com solicitude; quem se dedica a obras de misericórdia, faça-o com alegria (Rm 12,1-8)”. Ninguém excluído, todos voltados à unidade, conduzidos pelo Espírito!

Identificamos uma grande variedade de métodos de trabalho apostólico, suscitados pelo Espírito Santo, assim como formas de vida, consagração a Deus e Testemunho de santidade. Não é menos importante ou heroico o casal que constitui uma família, refletindo os dons que se encontram na Trindade  do que as pessoas chamadas a alguma especial consagração, no Sacramento da Ordem, na Vida Religiosa ou outras formas de dedicação a Deus. Deparei-me de novo com algumas afirmações do Documento de Puebla (Números 202 a 219), nos quais encontrei uma magnífica síntese que nos ajuda na construção de uma vida em comunhão com as diferentes expressões de vida de Igreja, métodos pastorais e desafios do tempo presente, ajudando-nos a viver a unidade na sadia diversidade.

De fato, “o Espírito Santo unifica na comunhão e no ministério e provê sua Igreja com diversos dons hierárquicos e carismáticos através dos tempos, vivificando, como se fosse sua alma, as instituições eclesiásticas” (Ad Gentes 4). Portanto, longe de serem um obstáculo para a evangelização, a hierarquia e as instituições são instrumentos do Espírito e da graça. Os carismas nunca estiveram ausentes da Igreja. São Paulo  VI expressou sua complacência para com a renovação espiritual que aparece nos meios e lugares mais diversos e que leva à oração de alegria, à união íntima com Deus, à fidelidade ao Senhor e a uma profunda comunhão de almas” (Puebla 206-207).

“Cristo nos revela que a vida divina, é comunhão trinitária. Pai, Filho e Espírito vivem, em perfeita intercomunhão de amor, o mistério supremo da unidade. Daqui procede todo amor e toda comunhão, para a grandeza e dignidade da existência humana. Por Cristo, único Mediador, participa a humanidade da vida trinitária. Cristo hoje sobretudo por sua atividade pascal, nos leva a participar do mistério de Deus. Por sua solidariedade conosco, nos torna capazes de vivificar pelo amor nossa atividade e transformar nosso trabalho e nossa história em gesto litúrgico, isto é, de sermos protagonistas com ele da construção da convivência e das dinâmicas humanas que refletem o mistério de Deus e constituem sua glória viva. Por Cristo, com ele e nele, passamos a participar da comunhão de Deus. Não há outro caminho que leve ao Pai. Vivendo em Cristo, chegamos a ser seu corpo místico, seu povo, povo de irmãos, unidos pelo amor que derrama em nossos corações o Espírito. Esta é a comunhão à qual chama o Pai por Cristo e por seu Espírito. Para ela se orienta toda a história da salvação e nela se consuma o desígnio amoroso do Pai que nos criou” (Puebla, 212-214).

Nossa vida de Igreja se realiza na Comunidade estável em que nos encontramos, ouvindo a Palavra, celebrando os Sacramentos, principalmente a Eucaristia, e crescendo na caridade. Entretanto, o Espírito suscita muitas presenças transversais, nas quais as pessoas se envolvem e crescem, a partir de textos bíblicos, situações desafiadoras na Evangelização e a grande variedade de Carismas que identificamos. Ninguém se sinta maior ou melhor, mas admire, respeite e valorize os dons diferentes, desde que voltados a edificar a Comunhão e a Evangelizar! A Igreja Católica é provavelmente a única instituição cristã que abriga debaixo do mesmo “guarda-chuva” a unidade e a diversidade, na igual profissão de fé e na legítima diversidade de dons e carismas!

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