O Círio de Nazaré é a maior festa Mariana Católica do mundo, concentrada num só dia. Talvez não seja a maior festa religiosa do mundo, haja vista a grandeza dos eventos hindus na Índia e islâmicos na Arábia Saudita que mobilizam milhões de fiéis. Mas o Círio reúne mais de dois milhões de pessoas todos os anos.
O Círio de Nazaré, por sua grandeza, força atrativa e mobilizadora de oportunidades, gera um grande impacto no dinamismo da sociedade. A sua realização não nos deixa indiferentes por sua expressividade em muitas dimensões da vida das pessoas, famílias e instituições.
O Círio de Nazaré, sem dúvida, é patrimônio histórico, imaterial e sacramental da Igreja Católica, gerido e animado por ela, mas ao mesmo tempo, nela não está confinado. Essa verdade é observável no aspecto congregacional do Círio, onde vemos muitas formas e níveis de envolvimentos de milhares de pessoas de outras sensibilidades espirituais e religiosas. Nas famílias, do almoço do Círio todos comem e os que enchem as arquibancadas e hotéis, também não são todos católicos.
O Círio tem muitas dimensões: afetiva, administrativa, econômica, política, cultural, técnica, lúdica, moral, etc. Mas essencialmente é uma festa religiosa católica, recheada de manifestações da piedade popular. O Círio existe por causa da fé católica envolvendo fiéis de todos os status sociais e econômicos, mas também congrega fraternalmente milhares de outros irmãos solidários. O coração do Círio é uma realidade intangível, transcendente, misteriosa: a fé do povo que, através de uma imagem se conecta com a mãe celeste que intercede pelos discípulos de Cristo. A fé transcende a imagem!
Para os católicos o Círio deve ser uma excelente ocasião para a renovação do vigor da fé, o aprofundamento da identidade de Maria, a meditação sobre a íntima relação entre Jesus e sua mãe, o sentido de pertença e o amor à Igreja Católica; deve ser oportunidade para o exercício da ação missionária. O Círio continua confirmando a profecia mariana: “todas as gerações me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48).
Por causa do seu caráter religioso católico, a autoridade maior do Círio não é o governador do Estado, nem o prefeito municipal, mas é o arcebispo metropolitano de Belém. Todavia, o caráter vinculante do Círio com a sociedade, na sua pluralidade de aspectos, convoca à necessária parceria. Por outro lado, considerando a significatividade civil oficial do Círio e da Imagem de Nossa Senhora de Nazaré, já reconhecidos por leis, a harmonia das autoridades e o apoio das instituições é imprescindível. Um governo fundamentalista provocaria confusão e atos de violência simbólica e religiosa. Por isso, Deus nos livre do fundamentalismo religioso!
A força social e mobilizadora do Círio exige uma enorme articulação de lideranças, programação especial, ação conjunta e interação entre os governos estadual, municipal e a Arquidiocese de Belém. O devido apoio das instituições governamentais e não governamentais torna o Círio um espetáculo mais bonito, vivo, seguro, harmonioso, amplo, festivo, interativo, dinâmico. Essa ação conjunta em nada diminui a catolicidade da natureza dessa festa! Preservemos a ação conjunta, respeitando a natureza das coisas e a devida competência dos seus líderes!