O desafio da Comunhão: o sentido de pertença à Igreja (8)

Introdução

Uma das atitudes mais significativas, carregada de consciência de comunhão, é o sentido de pertença à Igreja. Sem o sentido de pertença não haverá esforço em vista da comunhão.

Cada um de nós traz consigo certo senso de pertença a uma família, grupo, associação, etc. Há diversos critérios pelos quais participamos de uma realidade, por exemplo, a consanguineidade, uma adesão contratual, um vínculo afetivo, etc. No caso da Igreja, tudo se assenta sobre um dado de fé, do qual decorrem outros aspectos, como aquele afetivo.

Num mundo profundamente marcado pela fragmentação e enfraquecimento dos vínculos somos chamados, continuamente, a reavivar em nós a consciência de pertença e amor à Igreja e, assim, cuidar das nossas atitudes.

  1. O que é o sentido de pertença à Igreja?

O sentido de pertença é a consciência de um profundo vínculo, ligação ou laço íntimo com a Igreja. Trata-se de uma realidade que brota da consciência do batismo. Portanto, na sua origem, há uma realidade de fé que se faz relação afetiva.

Nós nos sentimos pertencentes a algo quando nos percebemos envolvidos por ela de modo que nos leva à consciência de sermos parte integrante da mesma. No caso da Igreja, não há só uma questão de fé, mas objetiva, afetiva, histórica. Algo semelhante também acontece com a consciência de pertença a nossa família. Dizemos “nossa família” porque temos muita coisa em comum e disso usufruímos. Por isso, o sentido de pertença é relacionamento, envolvimento, participação, comunicação, corresponsabilidade, cuidado do bem comum.

A consciência do sentido de pertença eclesial nos leva a dizer: “eu sou Igreja”, “a Igreja é minha”, “estou engajado”, “membro da Igreja e sujeito eclesial”, “amo a Igreja”! Por isso há uma profunda relação entre sentido de pertença e identidade individual.

  1. A origem do sentido de pertença à Igreja

A consciência de pertencimento tem uma história que marca a nossa memória e afetividade presente. Na base no sentido de pertença à Igreja está Jesus Cristo e a Igreja. Jesus formou uma comunidade de discípulos; então, ser discípulo, seguindo a Jesus, é participar da sua comunidade. Isso não foi uma realidade do passado acontecida com os Doze, mas é permanente. As atitudes de Jesus se prolongam na história pelos sacramentos. Dessa forma, o sentido de pertença eclesial deriva do sacramento do batismo e é alimentado pela fé.

Pelo batismo a pessoa é incorporada à Igreja, configurados com Cristo e constituída sujeito com os deveres e os direitos próprios dos discípulos de Jesus Cristo. Fomos batizados na Igreja (dimensão comunitária), pela Igreja (sujeito celebrante), para servir a Igreja (vivenciar o amor fraterno seguindo a Cristo), em vista da promoção do Reino de Deus.

É na Igreja que vivemos, na Igreja testemunhamos a nossa fé, fazemos a experiência de vida fraterna comunitária, seguimos a Jesus Cristo e damos continuidade à sua missão. Assim, como o útero biológico nos gerou, da mesma forma podemos dizer que há um útero espiritual e comunitário, que nos gerou para a vida cristã.

O senso de pertença eclesial vem da identidade da Igreja que é o Corpo místico de Cristo – e cada fiel é membro desse corpo, cada membro é parte viva do mesmo! Nenhum membro pode se imaginar fora do corpo! Dessa mesma forma nenhum de nós deve se imaginar fora dessa consciência de ser membro partícipe do Corpo de Cristo.  

  1. As manifestações do sentido de pertença eclesial

Assim como na família a profundidade do sentido de pertença de cada membro se expressa através de muitas formas, o mesmo acontece na Igreja. São as nossas atitudes que revelam o nível do pertencimento eclesial e nosso amor à mesma.

  • Antes de tudo, é preciso fé; não se trata de puro sentimento, mas consciência de pertença a uma comunidade concreta como sua família espiritual. A fé nos convoca, nos congrega, nos reúne para que, assim, possamos testemunhar as atitudes de Cristo no Amor fraterno. Somente juntos podemos fazer a experiência do perdão, da bondade, da solidariedade, da compaixão, etc. O isolamento é negação da consciência de pertença à Igreja.
  • A busca do conhecimento da Igreja: há uma íntima relação entre amor e conhecimento; por isso, o senso de pertença à Igreja nos leva a conhecer as suas origens (ler e meditar o Novo Testamento), sua história, a sua missão, sua estrutura organizativa e pastoral, a doutrina que a orienta (presente no Catecismo da Igreja Católica), etc. Quem diz que ama a Igreja, mas não sabe dizer nada sobre ela, está simplesmente baseado na dimensão afetiva, mas isso é frágil; é preciso convicções pessoais!
  • O sentido de pertença eclesial se expressa concretamente, também através da nossa participação pessoal e engajamento comunitário numa comunidade local; é sempre em nível local que se concretiza o nosso amor à Igreja, onde participamos, estamos envolvidos, damos a nossa contribuição, colocamos à disposição nossos dons; esse senso de corresponsabilidade pode ser evidenciado através de participação nos conselhos pastorais, da fidelidade ao dízimo, na assembleia litúrgica, da ação missionária, do engajamento em alguma pastoral, movimento, ou serviço;
  • Outra forma muito significativa de manifestação do senso de pertença eclesial é a acolhida, fidelidade e respeito em relação ao magistério da Igreja; isso se expressa através das orientações pastorais. Lamentavelmente, quem se fecha no próprio mundo, nega o serviço da liderança e desconsidera estas palavras de Jesus Cristo aos apóstolos: “Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10,16);
  • Enfim, outro compromisso muito significativo revelador de profundo senso de pertença eclesial é a oração; quem ama a Igreja, reza por ela!
  1. Atitudes contrárias ao sentido de pertença

Tendo refletido sobre essas atitudes reveladoras do senso de pertença eclesial, sobre o qual se alicerça a comunhão, é importante considerarmos também que há males que revelam ausência ou grave fragilidade desse senso do mesmo. Vejamos alguns:

  • A indiferença: somos indiferentes a alguma coisa quando ela não nos diz nada, não é significativa para nós, não nos importa, não temos nada em comum, quando alguma coisa não tem valor para nós. Não podemos ser indiferentes à nossa mãe Igreja, pois ela nos gerou na fé;
  • O comodismo: quem não tem sentido de pertença não se interessa pela vida da Igreja, fica acomodado na sua zona de conforto, não se importa, não dá a sua contribuição, prefere o seu egoísmo;
  • A irresponsabilidade: diz respeito ao fato de não levar a sério as responsabilidades assumidas; às vezes, por conveniência, há pessoas que dizem “sim”, mas depois, na prática, desaparecem, são negligentes, apáticas, desleixadas; isso revela falta de amor, ausência de zelo e carência de cuidado;
  • Enfim, outro mal provocador de consequência desastrosas em relação ao sentido de pertença e comunhão eclesial é a fofoca; maldosos comentários, visão distorcida da realidade, murmuração, são reveladores de pouco amor à Igreja. Quem ama a Igreja alimenta a sua comunhão e reaviva, continuamente, a vida fraterna.

PARA A REFLEXAO PESSOAL:

  1. O que é o sentido de pertença eclesial?
  2. Porque devemos cultivar o sentido de pertença à Igreja?
  3. Qual dos males contra o sentido de pertença devemos mais combater em nossas comunidades?

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