“O Evangelho da Família na Casa de Maria”

Foto: Luiz Estumano

Introdução
“O Evangelho da Família na casa de Maria” é o tema do Círio de Nossa Senhora de Nazaré deste ano, 2021. Com o objetivo de ajudar os fiéis a melhor entendê-lo e a vivenciá-lo com mais profundidade, apresento neste artigo, um breve comentário.

O tema do Círio deste ano nos convida a refletir sobre a necessidade da evangelização da família. Três grandes motivações estão por detrás da escolha desse tema, a saber: em 2021 comemoramos os 40 anos da publicação da encíclica “Familiaris Consortio” (1981), sobre a evangelização da família no mundo atual, do Papa João Paulo II; em segundo lugar, temos a comemoração dos 5 anos da Exortação Apostólica pós-sinodal “Amoris Leatitiae” (2016), sobre alegria do amor na família, escrita pelo Papa Francisco; temos, ainda, uma terceira motivação sobre o tema do Círio deste ano, que é a Carta apostólica “Patris Corde” (oração de pai), do Papa Francisco, comemorando 150 anos da proclamação de São José como patrono da Igreja.

O tema do Círio nos convida a pensar sobre o que significa o Evangelho, a significatividade da presença de Jesus na casa de Maria e o desafio da evangelização das famílias de hoje. Somos convidados a meditar sobre a realidade que transformou a vida, a casa e a família de Maria e José. Também para as famílias de hoje o Evangelho é fonte de transformação que gera alegria!

1 – O que é o  Evangelho?
A palavra central do tema do Círio deste ano é “Evangelho”. A palavra “evangelho” é de origem grega composta por dois vocábulos (εὐ «bem, bom» + ἄγγελος, mensagem, anúncio») e significa boa notícia, boa mensagem, boas novas. No Novo Testamento, a boa notícia por excelência não se reduz à comunicação de um bom fato, mas é a pessoa de Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Essa é a boa notícia que Deus Pai preparou para a alegria do mundo, ela é portadora da Salvação eterna.

Recordemos aquilo que narra o evangelista Lucas, falando da mensagem do anjo aos pastores. “…o anjo disse aos pastores: «Não tenham medo! Eu anuncio para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura” (Lc 2, 10-12).
O Evangelho, no singular, é a pessoa de Jesus Cristo; no plural, “evangelhos” se refere ao conjunto dos fatos, milagres, palavras, ensinamentos, gestos e atitudes de Jesus Cristo contidos nos livros de Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas, em síntese, é um só; o Evangelho é um só, porque é a pessoa de Jesus Cristo; de fato, essa convicção podemos encontrar em outros textos bíblicos. O Evangelho é a pessoa do Filho de Deus: “Nós anunciamos a vocês este Evangelho: a promessa que Deus fez aos antepassados, ele a cumpriu plenamente para nós, seus filhos, quando ressuscitou Jesus” (At 13, 31-33).

Não podemos reduzir o Evangelho a um livro, não é um simples texto, nem se reduz a uma obra do passado; o Evangelho é vivo e atual porque é a pessoa de Jesus Cristo, por isso, São Paulo afirma: “É pelo Evangelho que vocês serão salvos” (1Cor 15, 1). Um livro é um objeto sem dinamismo, mas o Evangelho da Vida é vivo. Por isso, o Evangelho é um sujeito, aquele que nos salva, é a Palavra de Deus que tem força para restaurar nossas vidas por seu poder transformador.

O Evangelho é a autoridade suprema, o todo-poderoso, do qual Paulo se fez ministro e servo (cf. Ef 3, 7; Col 1, 23). O Evangelho é a Palavra da Verdade, Jesus Cristo, o Senhor (cf. Cl 1, 5).

2 – O Evangelho nas casas e famílias
Jesus Cristo é o Evangelho na casa de Maria! Jesus Cristo é a Boa Notícia que fez da casa de Maria e José o Sagrado lar de Nazaré. Ele é a fonte transformadora do dinamismo da vida dos casais como aconteceu com Maria e José. O que teria sido desse casal sem a presença de Jesus? Certamente, teria sido um como os outros e ficariam esquecidos na história.
O fator determinante da Sagrada Família de Nazaré foi a pessoa de Jesus Cristo. A presença de Jesus santifica a família onde ela está e como se encontra. A identidade e a dinâmica da Vida de Maria e José foram determinados pela pessoa de Jesus Cristo. Maria, porque foi predestinada para ser a mãe do Salvador, Deus Pai a preservou de toda forma de pecado. E todo o dinamismo das virtudes de José, que certamente teria sonhos de muitos filhos como era natural naquele tempo, tornou-se, simplesmente, e com toda honra, o companheiro da Virgem Maria, pai adotivo e protetor do menino Jesus.

A Boa Nova de Deus Pai, o Salvador da humanidade, nasceu no interior de uma família e sempre em seu ministério de salvação esteve próximo às famílias. Jesus de Nazaré deu atenção às famílias. O Evangelho da Vida entrou em muitas casas: esteve num estábulo quando nasceu e aquele ambiente se tornou lugar de encontro, centro de peregrinação, ponto de convergência e harmonia de homens, animais e anjos (cf. Lc 2,1-20). Onde a presença do Evangelho do Amor é real, a harmonia é implantada.

O Evangelho esteve na casa de Zacarias quando Maria, sua mãe, com seu ardor missionário foi visitar e servir a sua prima Isabel (cf. Lc 1, 39-44). O Evangelho da Verdade esteve na casa de Mateus, que de cobrador de impostos, o transformou em seu discípulo e apóstolo (cf. Mt 9, 9-13). O Evangelho da Salvação esteve na casa de Zaqueu que, de rico e desonesto que era, converteu-se assumindo vida nova, capaz de compartilhar! (cf. Lc 19, 1-10).

O Evangelho da Misericórdia esteve na casa de Simão, o leproso que, de mesquinho e desconfiado que era, foi inundado pelas manifestações de perdão e misericórdia de Jesus diante da pecadora (cf. Lc 7, 36-50). O Evangelho do Consolo esteve na casa de Marta e Maria, transformando a dor do luto em celebração de alegria e gratidão a Deus pela vida resgatada (cf. Jo 11, 1-44).

O Evangelho da Saúde esteve na casa da sogra de Simão Pedro que estava doente, mas ao ser tocada, imediatamente, recuperou a saúde e ela começou a servir a todos (cf. Mc 1, 29-31). O Evangelho da Autenticidade esteve nas sinagogas e no templo de Jerusalém purificando a prática religiosa, advertindo a todos para a necessidade do primado da pura fé da qual deve brotar a centralidade do amor a Deus e ao seu próximo (cf. Jo 2, 13-17). O Evangelho da Compaixão entrou na casa de famílias pagãs da região de Tiro e Sidônia e encontrou muitas pessoas que passavam por graves problemas (cf. Mc 7, 24-30).

3 – O Evangelho da alegria nas famílias de hoje
Muitos são os problemas causadores de profundos sofrimentos para as famílias de hoje: frieza, fragilidade do senso de pertença, falta de corresponsabilidade, desentendimentos, discórdia, brigas entre parentes, ciúmes, inveja, disputas internas, violência, abusos sexuais, estresse, fuga da convivência, traição, indiferença, vícios, desemprego, falta de diálogo, indelicadezas, grosserias, ingratidão, solidão, etc.

Para todas as situações existenciais, o Evangelho da Vida é a fonte de solução. Recordemos as palavras do Papa Francisco, afirmando que a todos “é preciso fazer-lhes experimentar que o Evangelho da família é alegria que enche o coração e a vida inteira, porque, em Cristo, somos libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento” (EG,1; AL,200). A pastoral familiar «deve fazer experimentar que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana: a sua dignidade e plena realização na reciprocidade, na comunhão e na fecundidade” (AL,201). A restauração da fé em Jesus Cristo transformará cada família numa agência promotora de boas notícias para a Igreja e a sociedade.

PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
1 – O que é o Evangelho?
2 – Como Jesus deu atenção às famílias?
3 – No seu parecer, quais são os maiores desafios para a evangelização da família?

Colunistas