Por Dom Paulo Andreolli, SX
Caros leitores, cada um de nós deve ter vivenciado com espírito de fé e esperança esse período quaresmal, com suas práticas próprias e ricas de significado, como preparação para o tempo pascal. Por isso, nessa alegria da proximidade da Páscoa do Senhor nos encontramos uma vez mais e agora para falarmos sobre a Semana Santa, e nesta reflexão conto com a colaboração da Prof.ª Sylvia Calandrini, licenciada em Letras e paroquiana da Paróquia de Santa Luzia (Jurunas).
Inicialmente podemos refletir que há algo diferente em ser cristão. Nossa relação com o divino está baseada em um ato único e particular: a salvação.
É importante ressaltar que essa forma de pensar não invalida a fé dos judeus em sua aliança perpétua com o Criador, ou a fé do Islã na submissão total aos preceitos do Alcorão. De certa forma, aprendemos com eles a observar experiências singulares. Mas nossa fé é peculiar: cremos que Deus salvou o mundo por meio do sacrifício de seu Filho unigênito. É o que contemplamos na Semana Santa.
E por que ainda precisamos dessa experiência? Porque seguimos o que Jesus orientou: “Fazei isto em memória de mim” (Lc22,19); e também porque precisamos, na medida do possível, compreender o sentido da cruz de Cristo em nossas vidas. Não é fácil, mas nossa fé católica nos mantém conectados ao que é essencial, como ocorre na Via-Sacra, que vivenciamos ao longo da Quaresma: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz remistes o mundo”.
Os mistérios da dor levam o crente a reviver a morte de Jesus pondo-se aos pés da cruz junto de Maria, para com ela penetrar no abismo do amor de Deus pelo homem e sentir toda a sua força regeneradora (RosariumVirginisMariae, n. 22).
O mundo parece não ouvir mais a mensagem do Filho de Deus. A sociedade atual ainda o trai, assim como Judas fez no passado. Seus amigos o abandonaram, e o líder político de Roma não se preocupou em buscar a verdade. Além disso, houve muita crueldade por parte de seus perseguidores e indiferença do povo diante da severa punição imposta a um homem que sempre fez o bem.
Diante das dores de ontem e de hoje, parece que nos esquecemos de Deus e de seu amor pela humanidade. Recordemos nossa origem: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). No decorrer da caminhada na presença de Deus, foram esquecidos o pacto e a corresponsabilidade estabelecida. A Campanha da Fraternidade deste ano nos recorda a necessidade de rever nossos passos e, tal como fez Francisco de Assis, nos reconciliarmos com a Criação e louvarmos ao Senhor com nossas vidas. O tema “Fraternidade e Ecologia Integral” não se encerra hoje, Domingo de Ramos; deve continuar como horizonte de possibilidade em nossas dimensões pessoais, comunitárias e sociais.
Mais uma vez buscaremos a redenção. É a condição humana. E, por entender isso, nossa Igreja nos orienta e nos possibilita vivenciar momentos como os que serão experimentados a partir de hoje. É fato que, como dito anteriormente, há muita dor e sinais de morte no relato da Paixão, mas há também Jesus. Ele não muda, sua mensagem segue a mesma — ontem e hoje.
Destaquemos a atitude de Jesus no Monte das Oliveiras, a firmeza de suas palavras diante de seus algozes, a determinação de seguir a vontade do Pai, tanto que se entregou como vítima para nos salvar. Ressoa de forma tão significativa o “Tenho sede”. A humanidade, sem perceber, afirma também: “Tenho sede da verdadeira fonte de água viva: Jesus”. É para o Mestre que, em nossa condição de fragilidade, devemos olhar nesta Semana Santa, a fim de que reconheçamos, na fraqueza, a fortaleza necessária para assumirmos os desafios da missão de ser um seguidor de Cristo.
Assim, reconhecemos a coragem que teve o centurião de declarar: “Realmente este homem era o filho de Deus” (Mc 15,39). Na verdade, ele reconheceu que o Amor venceu. O pecado seguirá existindo, mas o Amor é maior. Deus aceitou o sacrifício de seu Filho Único. Não há outra escolha: Deus quer nos dar a salvação.
Jesus, na cruz, pede a nós para alargar a nossa tenda e acolher cada pessoa como nosso irmão e nossa irmã. Do mesmo modo como Ele abriu seus braços na cruz abraçando o mundo, nos pede que façamos a mesma coisa.