O Sensus Fidei na história da Igreja – 1

Continuo a apresentação do documento “O sensus fidei fidelium”, da Comissão Teológica Internacional, trazendo alguns flashes de como este conceito se desenvolveu na história da Igreja. Apenas breves indicações para ajudar a compreensão do que é o “sensus fidei fidelium”. Recomendo a todos a leitura completa do documento.

– “O conceito de sensus fidelium começou a ser desenvolvido e ser utilizado de forma mais sistemática no tempo da Reforma, embora o papel decisivo do consensus fidelium no discernimento e no desenvolvimento da doutrina em matéria de fé e de moral já tivesse sido reconhecido durante os períodos patrístico e medieval. No entanto, é necessário prestar maior atenção ao papel específico dos leigos a este respeito. Esta questão recebe atenção especial a partir do século XIX” (n. 22).

– “Padres e teólogos dos primeiros séculos consideram que a fé de toda a Igreja era um ponto de referência seguro para discernir o conteúdo da Tradição apostólica. Sua convicção sobre a solidez, e até mesmo a infalibilidade, do discernimento da Igreja inteira em matéria de fé e moral, se espremia no contexto de controvérsias. Eles refutaram as novidades perigosas introduzidas pelos hereges, colocando-os em confronto com o que se mantinha e se fazia em todas as Igrejas”. (n. 23). “Para resolver as disputas entre os fiéis, os Padres da Igreja apelaram não só para a crença comum, mas também para a tradição constante de uma prática” (n. 24).

– “O período patrístico atesta, principalmente, o testemunho dado pelo povo de Deus em seu conjunto como algo que tem um determinado caráter objetivo. Argumentava que o povo crente, considerado como um todo, não pode errar em matéria de fé, porque ele recebeu uma unção de Cristo, o Espírito Santo que lhe foi prometido e o capacita a discernir a verdade. Alguns Padres da Igreja também refletiram sobre a capacidade subjetiva de cristãos, animados pela fé e nos quais habita o Espírito Santo, para conservar a verdadeira doutrina da Igreja e rejeitar o erro. Agostinho, por exemplo, chamou a atenção sobre este ponto quando afirma que Cristo, “o Mestre interior”, torna os leigos capazes, assim como os seus pastores, não só para receber a verdade da revelação, mas também para aprová-la e transmiti-la” (n. 25).

– “Nos primeiros cinco séculos, a fé da Igreja como um todo será decisiva para determinar o cânon das Escrituras e para a definição das doutrinas principais que diziam respeito, por exemplo, a divindade de Cristo, a virgindade perpétua e a maternidade divina de Maria, a veneração e a invocação dos santos” (n. 26).

No período medieval “os doutores escolásticos reconheceram que a Igreja, a congregatio fidelium, não pode errar em matéria de fé, porque ela é ensinada por Deus, unida a Cristo, sua Cabeça, e que o Espírito Santo habita nela. Tomás de Aquino, por exemplo, leva isso como um ponto de partida, e a razão é que a Igreja universal é governada pelo Espírito Santo, que, conforme prometido pelo Senhor Jesus, a ensinará “a verdade plena” (Jo 16,13). Ele sabia que a fé da Igreja universal se expressa por seus prelados com autoridade, mas ele também tinha um interesse todo particular pelo instinto da fé pessoal de cada fiel, que ele havia perscrutado em relação à virtude teologal da fé” (n. 28).

– No período da Reforma e da pós-Reforma, no século XVI, necessária foi uma atenção renovada ao sensus fidei fidelium e foi neste contexto da Reforma que surgiu o primeiro tratado sistemático deste conceito. É o assunto da próxima semana. 

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