Os Bispos do Brasil vivem neste período a “Visita ad Limina Apostolorum”, ao Papa e aos organismos da Cúria Romana, experimentando uma graça especial, o encontro com o Sucessor de Pedro, nosso querido Papa Francisco.
Impressiona muito ver a têmpera com a qual o Papa enfrenta as dificuldades ligadas à idade e à saúde, sem diminuir o vigor com o qual exerce seu ministério, num testemunho de coragem e santidade. Sendo os Bispos sucessores dos Apóstolos, podem retornar às suas respectivas Dioceses acolhidos com amor pelo Papa e revigorados para o trabalho pastoral, prontos a confirmar na fé todos os fiéis, alentando-os ao testemunho de Jesus Cristo e ao amor à Igreja.
A Solenidade de São Pedro e São Paulo, celebrada neste próximo final de semana em nosso país, oferece a oportunidade para refletir sobre o chamado dos Apóstolos, seu ministério e a incidência de seu testemunho em nossa vida. O Senhor percorreu os caminhos da Galileia, onde chamou a maior parte de seus discípulos, encontrando pessoas vindas de várias profissões e estados de vida, cada uma delas com sua história, seu temperamento, qualidades e defeitos, todas muito parecidas conosco, ainda que vivamos em tempos diferentes e cultura diversa.
A lista dos doze apóstolos, depois enriquecida com os discípulos por ele chamados, oferece indicações significativas para nossa vida de Igreja. Nela, sempre aparece em primeiro lugar Simão, a quem Jesus atribuiu o nome de Pedro.
Se foi feito rocha sobre a qual a Igreja veio a ser edificada, episódios de sua aventura vocacional o mostram bem arenoso! Trata-se de um homem rude, pescador de profissão, com temperamento de uma parte impulsivo, outras vezes inseguro, frágil, ao mesmo tempo capaz de chorar amargamente de arrependimento, ousado nas respostas e na afirmação do amor a Jesus. Podemos imaginar o vigor com que se lançou nas águas, indo ao encontro de Jesus numa das aparições do Ressuscitado. Deus soube recolher todas as marcas de sua personalidade, de forma a nenhum de nós poder oferecer desculpas. Se fez de Pedro um santo e uma rocha, pode fazer maravilhas também conosco e em nós! Dele aprendemos a generosidade, a espontaneidade e a sinceridade no reconhecimento de nossas falhas. Com ele, temos a certeza da unidade da Igreja, edificada sobre uma rocha firme, que é Cristo.
Quase como um maravilhoso intruso, a festa de São Pedro traz ao seu lado São Paulo, cujo nome aponta para a pequenez e seu porte apostólico indica o gigante. Obviamente seu nome não consta da lista constante nos evangelhos, pois veio depois, considerando-se um abortivo: “Por último, apareceu também a mim, que sou como um aborto. Pois eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, pois eu persegui a Igreja de Deus. É pela graça de Deus que sou o que sou. E a graça que ele reservou para mim não foi estéril; a prova é que tenho trabalhado mais que todos eles, não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo” (I Cor 15,8-9). Do Paulo convertido e missionário, aprendemos a ousadia na missão, vencendo barreiras, para que a Boa Nova do Evangelho chegue a todos.
Lemos no Evangelho de São Marcos (Mc 3,13-19), que “Jesus subiu a montanha e chamou os que ele quis; e foram a ele. Ele constituiu então doze, para que ficassem com ele e para que os enviasse a anunciar a Boa Nova, com o poder de expulsar os demônios. Eram: Simão, a quem deu o nome de Pedro); Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais deu o nome de Boanerges, que quer dizer ‘filhos do trovão’; e ainda André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, aquele que o traiu” (Mc 3,13-19). Com os doze aprendemos as lições da vida e o caminho de conversão que nos é proposto.
Com Tiago e João, envolvidos com a própria mãe que foi a Jesus pedindo para eles posições de destaque, aprendemos a lição da humildade e o controle dos impulsos, pois podemos imaginar as razões do nome de “Filhos do Trovão”! André foi corajoso ao dar o primeiro passo, e nos ensina a comunicar a Boa Nova, como fez com seu irmão Simão. Filipe, na santa ingenuidade de pedir que Jesus lhes mostrasse o Pai, nos faz buscar o essencial e escolher Deus como tudo de nossa vida. Ao seu lado está outro Tiago, parente de Jesus, corajoso na condução da Igreja e no martírio. Bartolomeu, desconfiado, reconheceu em Jesus o Salvador e o seguiu, para superarmos nossos medos. Mateus indica o quanto é desejável e possível mudar a vida de um homem, mesmo quando vive um ambiente cheio de corrupção. Simão, o Zelota, vindo de um ambiente de radicalismo político também se tornou apóstolo. Judas Tadeu, que alguns julgam ter sido funcionário público, tanto seguiu Jesus que a devoção do povo de Deus lhe dá imensa importância! Até de Judas Iscariotes podemos aprender, para não roubar de ninguém e não nos desesperarmos.
Falta um, justamente, cuja festa comemoramos no dia três de julho. “Tomé, chamado Gêmeo, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: ‘Nós vimos o Senhor!’ Mas Tomé disse: ‘Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei’. Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco’. Depois disse a Tomé: ‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!’ Tomé respondeu: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ Jesus lhe disse: ‘Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!’ (Jo 20, 24-29). Muitos o consideram o homem da dúvida, quando, na verdade sua lição maior se encontra na exclamação “Meu Senhor e meu Deus!”. Com ele, nós entramos na história da Ressurreição de Jesus e somos chamados a testemunhá-la, seguindo o rastro deixado pelos Apóstolos”!
Concelebrando com o Papa no dia vinte e nove de junho, saibam todos que os Bispos de nossa região carregaram o jugo suave de todo o nosso povo, renovando a entrega de vida e as disposições para edificar a Igreja, pois todos somos de verdade a Igreja viva do Senhor. Nestes dias, celebramos também na Basílica do Santíssimo Salvador em São João de Latrão, para reforçar nossa comunhão com a Igreja. Fomos à Basílica São Paulo fora dos muros para renovar o impulso missionário. Concluímos na Basílica de Santa Maria Maior, com a consciência da missão confiada à Virgem no coração da Igreja.