Palavra de Vida – fevereiro de 2022

“Quem vem a mim, eu não o lançarei fora.” (Jo 6, 37)

Esta declaração de Jesus faz parte de um diálogo com a multidão que, após o milagre dos pães multiplicados em abundância, vem procurá-lo, pedindo mais um sinal para acreditar Nele. Jesus revela que Ele mesmo é o sinal do amor de Deus; mais ainda, Ele é o Filho que recebeu do Pai a missão de acolher e trazer de volta à Sua casa toda criatura, especialmente toda pessoa humana, criada à Sua imagem. Sim, porque o próprio Pai já tomou a iniciativa, atraindo todos para Jesus, colocando no coração de cada um o desejo da vida plena, ou seja, da comunhão com Deus e com cada um dos próprios semelhantes. Jesus, portanto, não rejeitará ninguém, por mais que a pessoa se sinta distante de Deus, porque esta é a vontade do Pai: não perder ninguém.

“Quem vem a mim, eu não o lançarei fora.”

É realmente uma boa notícia: Deus ama a todos imensamente, sua ternura e sua misericórdia são dirigidas a cada homem, a cada mulher. Ele é o Pai paciente e misericordioso que espera por qualquer um que se ponha a caminho, impulsionado pela voz interior. Muitas vezes o nosso mal é a desconfiança. Pensamos: por que Jesus deveria me acolher? O que Ele quer de mim? Na realidade, Jesus só nos pede que nos deixemos atrair por Ele, libertando o coração de tudo o que atrapalha, para poder acolher com confiança a gratuidade do seu amor. Mas é também um convite que suscita a nossa responsabilidade. De fato, ao experimentarmos uma ternura tão abundante por parte de Jesus, também nós nos sentimos estimulados a acolhê-lo em cada próximo: homem ou mulher, jovem ou velho, saudável ou doente, de nossa própria cultura ou não… E não rejeitaremos ninguém.

“Quem vem a mim, eu não o lançarei fora.”

Em Quebec, no Canadá, uma comunidade cristã que vive a Palavra se dedica a acolher muitas famílias que chegam ao seu país, vindas de muitos lugares do mundo: França, Egito, Síria, Líbano, Congo… Todos são acolhidos e ajudados, inclusive para encontrar oportunidades de integração. Isso significa resolver uma infinidade de questões, preencher os formulários próprios da situação de refugiado ou de residente, regularizar a escola dos filhos, acompanhá-los para conhecerem sua vizinhança. A matrícula em cursos de francês e a busca de emprego também são importantes.

Guy e Micheline escrevem: Uma família síria que veio ao Canadá para escapar da guerra conheceu outra família, recém-chegada e ainda muito desorientada. Por meio das redes sociais, a família síria ativou a nossa rede de solidariedade e muitos amigos providenciaram todo o necessário: camas, sofás, mesas, cadeiras, louças, roupas, bem como livros e jogos para as crianças, tudo doado espontaneamente por outras crianças de nossas famílias, sensibilizadas por seus pais. A nova família recebeu mais do que precisava e, por sua vez, ajudou outras famílias pobres em seu prédio.

A Palavra de Vida daquele mês parecia feita sob medida: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

“Quem vem a mim, eu não o lançarei fora.”

Esse é um modo de transformarmos em vida esta Palavra de Deus: testemunhando a proximidade do Pai diante de cada próximo, individualmente e como comunidade.

Esta meditação de Chiara Lubich sobre o amor em forma de misericórdia pode nos ajudar:

É o amor que faz abrir os braços e o coração aos infelizes, aos martirizados da vida, aos pecadores arrependidos. Amor que sabe acolher o próximo desencaminhado, seja ele amigo, irmão ou desconhecido, e o perdoa infinitas vezes. Amor que não mede e não será medido. É uma caridade que floresce mais abundante, mais universal, mais concreta do que aquela que a alma antes possuía. De fato, ela sente nascerem dentro de si sentimentos parecidos com os de Jesus, percebe aflorarem-lhe aos lábios, para todos os que encontra, as divinas palavras: “Sinto compaixão da multidão”. A misericórdia é a última expressão da caridade, aquela que a remata. E a caridade supera a dor, porque a dor só existe nesta vida, enquanto o amor perdura também na outra. Deus prefere a misericórdia ao sacrifício.

1) Cf. Jo 6,44.

2) Cf. Mt 25,40.

3) LUBICH, Chiara. Quando se conheceu a dor. In: Ideal e Luz, São Paulo: Brasiliense e Cidade Nova, 2003, pp. 127-128.

Por Letizia Magri

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