“Por uma Igreja Sinodal: comunhão, participação, missão” – 3

Informamos aos leitores do Jornal Voz de Nazaré que esta coluna retorna a este semanário, após o período de edições especiais dedicadas à divulgação dos eventos do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Assim, padre Helio Fronczack segue meditando sobre o contexto que envolve o Sínodo Arquidiocesano de Belém, que o autor já vinha abordando anteriormente. Boa leitura!

Continuação do discurso do Papa Francisco à diocese de Roma, em 18.09.2021. O primeiro ponto tratado foi sobre a necessidade de ouvir a Palavra de Deus que caminha conosco e nos ilumina. O segundo ponto tratou do impulso do Espírito na história. O terceiro ponto foi sobre as dialéticas do Espírito. Hoje vamos continuar com o ponto em que o papa faz um alerta importante: não propor uma “eclesiologia substitutiva”. Continua Papa Francisco:

“Sempre há a tentação de uma eclesiologia substitutiva – existem muitas eclesiologias substitutivas – como
se, tendo ascendido ao Céu, o Senhor tivesse deixado um vazio a ser preenchido, e nós o preenchemos. Não, o Senhor nos deixou o Espírito! Mas as palavras de Jesus são claras: “Eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Paráclito, para que permaneça com vocês para sempre. […] Eu não deixarei vocês órfãos” (Jo 14,16.18). Para a implementação dessa promessa, a Igreja é sacramento, como afirmado na Lumen gentium 1: “A Igreja, em Cristo, é de algum modo o sacramento, ou seja, o sinal e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano”.

Nessa frase, que recolhe o testemunho do Concílio de Jerusalém, está a negação de quem se obstina em tomar o lugar de Deus, pretendendo modelar a Igreja sobre as suas próprias convicções culturais e históricas, forçando-a a fronteiras armadas, as alfândegas culpabilizantes, a espiritualidades que blasfemam contra a gratuidade da ação envolvente de Deus.

Quando a Igreja é testemunha, em palavra e fatos, do amor incondicional de Deus, da sua amplitude hospitaleira, ela exprime verdadeiramente a sua própria catolicidade. E é impulsionada, interior e exteriormente, a atravessar os espaços e os tempos. O impulso e a capacidade vêm do Espírito: “Vocês receberão a força do Espírito Santo que descerá sobre vocês e serão as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8). Receber a força do Espírito Santo para ser testemunhas: essa é a estrada de nós, Igreja, e nós seremos Igreja se andarmos nessa estrada.

Igreja sinodal significa Igreja sacramento dessa promessa – isto é, que o Espírito estará conosco – que se manifesta cultivando a intimidade com o Espírito e com o mundo que virá. Sempre haverá discussões, graças a Deus, mas as soluções devem ser buscadas dando a palavra a Deus e às suas vozes no meio de nós; rezando e abrindo os olhos para tudo o que nos rodeia; praticando uma vida fiel ao Evangelho; interrogando a Revelação segundo uma hermenêutica peregrina que sabe conservar o caminho iniciado nos Atos dos Apóstolos.

E isto é importante: o modo de entender, de interpretar. Uma hermenêutica peregrina, isto é, que está a caminho. O caminho que começou depois do Concílio? Não. Começou com os primeiros Apóstolos e continua. Quando a Igreja pára, não é mais Igreja, mas uma bela associação piedosa, porque enjaula o Espírito Santo. Hermenêutica peregrina que sabe conservar o caminho iniciado nos Atos dos Apóstolos. Caso contrário, o Espírito Santo seria humilhado.

Este é o estilo do nosso caminho: as realidades, se não caminham, são como as águas. As realidades teológicas são como a água: se a água não flui e é rançosa, é a primeira a entrar em putrefação. Uma Igreja rançosa começa a ficar putrefata.

Vejam como a nossa Tradição é uma massa fermentada, uma realidade em fermento na qual podemos reconhecer o crescimento e, na massa, uma comunhão que se realiza em movimento: caminhar juntos realiza a verdadeira comunhão. É ainda o livro dos Atos dos Apóstolos que nos ajuda, mostrando-nos que a comunhão não suprime as diferenças.

É a surpresa do Pentecostes, quando as línguas diferentes não são obstáculos: embora fossem estrangeiros uns em relação aos outros, graças à ação do Espírito, “cada um ouve na sua própria língua materna” (At 2,8). Sentir-se em casa, diferentes, mas solidários no caminho”.

Continua na próxima semana.

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