“Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”

Na última parte de seu discurso ao clero de Roma, o Papa Francisco destacou a seriedade deste tempo de sínodo para toda a Igreja. Disse ele:

“A fase diocesana é muito importante, porque realiza a escuta da totalidade dos batizados, sujeito do ‘sensus fidei’ infalível ‘in credendo’. Há muitas resistências a superar a imagem de uma Igreja rigidamente distinta entre chefes e subalternos, entre quem ensina e quem deve aprender, esquecendo-se de que Deus gosta de inverter as posições: “Derrubou os poderosos dos seus tronos, exaltou os humildes” (Lc 1,52), disse Maria.

Caminhar juntos leva a descobrir como linha própria a horizontalidade em vez da verticalidade. A Igreja sinodal restaura o horizonte do qual surge o sol Cristo: erigir monumentos hierárquicos significa cobri-lo. Os pastores caminham com o povo: nós, pastores, caminhamos com o povo, às vezes na frente, às vezes no meio, às vezes atrás. O bom pastor deve se mover assim: na frente para guiar, no meio para encorajar e não esquecer o cheiro do rebanho, atrás porque o povo também tem “faro”. Tem faro para encontrar novas vias para o caminho ou para encontrar a estrada perdida.

Quero sublinhar isso, e também aos bispos e aos padres da diocese. No seu caminho sinodal, perguntem-se: “Eu sou capaz de caminhar, de me mover na frente, no meio e atrás, ou estou apenas na cátedra, mitra e báculo?’. Pastores misturados, mas pastores, não rebanho: o rebanho sabe que somos pastores, o rebanho sabe a diferença. Na frente para indicar a estrada, no meio para sentir o que o povo sente e atrás para ajudar quem fica um pouco para trás e para deixar que o povo veja um pouco com o seu faro onde estão as melhores ervas.

O sensus fidei qualifica todos na dignidade da função profética de Cristo (cf. Lumen gentium, nn. 34-35), para que possam discernir quais são os caminhos do Evangelho no presente. É o “faro” das ovelhas, mas prestemos atenção porque, na história da salvação, todos somos ovelhas em relação ao Pastor que é o Senhor. A imagem nos ajuda a entender as duas dimensões que contribuem para esse “faro”. Uma pessoal e outro comunitária: somos ovelhas e fazemos parte do rebanho, que neste caso representa a Igreja.

Por que eu lhes digo estas coisas? Porque, no caminho sinodal, a escuta deve levar em conta o sensus fidei, mas não deve ignorar todos aqueles “pressentimentos” encarnados onde não esperaríamos: pode haver um “faro sem cidadania”, mas não menos eficaz. O Espírito Santo, na sua liberdade, não conhece fronteiras e nem se deixa limitar pelos pertencimentos.

Se a paróquia é a casa de todos no bairro, e não um clube exclusivo, eu recomendo: deixem abertas as portas e as janelas, não se limitem a levar em consideração apenas quem frequenta ou pensa como vocês – que serão 3%, 4% ou 5%, não mais. Permitam que todos entrem… Permitam-se, vocês mesmos, ir ao encontro e se deixar interrogar, que as perguntas deles sejam as suas perguntas, permitam-se caminhar juntos: o Espírito lhes conduzirá, tenham confiança no Espírito. Não tenham medo de entrar em diálogo e se deixem sacudir pelo diálogo: é o diálogo da salvação.

Vim aqui para lhes encorajar a levar a sério este processo sinodal e para lhes dizer que o Espírito Santo precisa de vocês. E isto é verdade: o Espírito Santo precisa de nós. Escutem-no escutando-se. Não deixem ninguém de fora ou atrás. Será bom para a Diocese de Roma e para toda a Igreja, que não se fortalece apenas reformando as estruturas – este é o grande engano! –, dando instruções, oferecendo retiros e conferências, ou à força de diretrizes e programas – isso é bom, mas como parte de outra coisa –, mas se redescobrir que é um povo que quer caminhar juntos, entre nós e com a humanidade.

Neste tempo de pandemia, o Senhor impulsiona a missão de uma Igreja que seja sacramento de cuidado. O mundo levantou o seu grito, manifestou a sua vulnerabilidade: o mundo precisa de cuidado.

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