Foto: Luiz Estumano

 

Estamos todos muito impressionados pela grandíssima afluência de povo em todas as manifestações religiosas durante a quinzena de festividade do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. É uma maravilha contemplar o grande número de fiéis que acorrem para participar das celebrações eucarísticas na basílica-santuário e nas procissões e carreatas em todas as expressões. Tudo isto é motivo para louvar a Deus por estas manifestações de piedade e religiosidade. Em outro versante é, no mínimo, curioso constatar como o tema “religião-religiosidade-católicos x evangélicos” está tomando proporções gigantescas, ao ponto de tomar grande parte do tempo de uma campanha para presidente do Brasil. Surgem especulações de todo tipo sobre a legitimidade de tais manifestações de religiosidade. Pergunta-se se é verdadeira piedade ou oportunismo político, se é conveniente ou menos a presença de candidatos a cargos eletivos em manifestações estritamente religiosas, como o Círio de Nazaré, a festa da Padroeira do Brasil em Aparecida do Norte, ou a inauguração de templos evangélicos. Estes temas precisam ser tratados com calma para se chegar às reais motivações que movem uma pessoa ou uma multidão de pessoas em demonstrar sua fé.

O Papa Francisco, ao comentar o evangelho na oração do Angelus de 29 de agosto de 2021, publicado no site https://www.acidigital.com/noticias/, alertou os cristãos em sua homilia, para o fato de que sempre existe o perigo de uma “religiosidade da aparência”. O Pontífice explicou que essa forma de religiosidade consiste em “aparecer bem por fora, esquecendo da purificação do coração”. Disse o Papa: “Há sempre a tentação de sistematizar Deus com alguma devoção exterior, mas Jesus não se contenta com esse culto. Jesus não quer exterioridade. Ele quer uma fé que chegue ao coração”. E continuou: “Também nós, muitas vezes, disfarçamos o coração”.

Na sua catequese, o Papa Francisco também alertou os fiéis para o fato de que, “com frequência, pensamos que o mal provém, sobretudo, de fora, do comportamento dos outros, de quem pensa mal de nós, da sociedade. Quantas vezes culpamos os outros, a sociedade, o mundo, por tudo aquilo que nos acontece! É sempre culpa dos outros: das pessoas, de quem governa, do azar e assim por diante. Parece que os problemas chegam sempre de fora. E passamos tempo distribuindo as culpas, mas passar o tempo culpando os outros é perder tempo. A gente se torna nervoso, ácido, e mantemos Deus longe do coração”. E continuou: “Não se pode ser verdadeiramente religioso na queixa. A queixa envenena, leva à raiva, ao ressentimento e à tristeza do coração que fecha as portas a Deus”. E finalizou, encorajando os fiéis a pedir ao Senhor “que nos liberte de culpar os outros, como as crianças, que sempre dizem: ‘não fui eu, foi o outro’. “Se olharmos dentro de nós, encontraremos quase tudo aquilo que detestamos fora. E se, com sinceridade, pedirmos a Deus para purificar o coração, aí sim, começaremos a tornar o mundo mais limpo. Porque há um modo infalível para vencer o mal: começar a derrotá-lo dentro de nós”, disse o Papa.

É a partir daí – derrotar o mal dentro de nós – que se vive uma religiosidade verdadeira e profunda; aquela que busca estar sempre em comunhão com Deus e, ao ouvir a Sua Palavra, colocar em prática o amor aos irmãos, e viver a justiça e o respeito para com todos. O evangelho do domingo passado nos advertia para a necessidade de “rezar sempre”, certos de que Deus não é um juiz iníquo; ao contrário, é um Pai que nos ama imensamente. Se perseverarmos no contato com Deus, isto é, rezando sempre, com certeza não teremos uma religiosidade de aparência; pois o contato com Deus nos revigora para não somente ter o nome de cristãos, mas, realmente, ser cristãos: testemunhas dos valores do Reino de Deus.

Terminado o tempo do Círio de Nazaré, é fundamental acolhermos as lições de “Maria, Mãe e Mestra” que nos aponta o seu Filho, e diz a todos: “façam aquilo que Ele diz”. E sabemos: Ele nos diz para amar a Deus sobre todas as coisas e amar os irmãos com aquela medida que Ele nos amou, isto é, até o ponto de dar a vida”.

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