A Igreja no Brasil celebra pela terceira vez um Ano Vocacional, com o tema “Vocação, graça e missão” e o lema “Corações ardentes, pés a caminho”. Certamente muitos dos sacerdotes, religiosos e religiosas que a Deus se consagraram nos últimos anos foram tocados por muitas canções vocacionais, e algumas foram instrumentos de Deus para o chamado. O Evangelho do Décimo Domingo do Tempo Comum (Mt 9,9-13), que ilumina nossa reflexão, recordou-me uma delas, altamente inspirada, de autoria do grande Padre Zezinho. “Quando Jesus passar, quando Jesus passar, quando Jesus passar, eu quero estar no meu lugar. No meu telônio ou jogando a rede, sob a figueira ou a caminhar, buscando água para minha sede, querendo ver meu Senhor passar. Quando Jesus passar, quando Jesus passar, quando Jesus passar, eu quero estar no meu lugar. No meu trabalho e na minha casa, no meu estudo e no meu lazer, no compromisso e no meu descanso, no meu direito e no meu dever. Quando Jesus passar, quando Jesus passar, quando Jesus passar, eu quero estar no meu lugar”.
O telônio, banca do cobrador de impostos Levi, ou Mateus, foi o lugar do encontro com Jesus, que pronuncia sem rodeios uma palavra forte: “Segue-me”. Este homem estava apenas no lugar de seu ganha-pão, certamente questionado e julgado por tantos judeus, pois trabalhava para os romanos, tinha fama de traidor do povo e, quem sabe, fama de ladrão. Até hoje a cobrança de taxas, impostos e tributos assusta e até irrita muita gente! E Jesus chama! É que a graça do chamado, pelo que sabemos, toca cada pessoa no âmago de sua história, partindo de onde se encontra. Deus não seleciona, chama! Alguém já disse, com propriedade, que Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos. Aqui, a primeira lição da história de Mateus. O chamado é universal, todos têm da parte do Senhor um olhar especial, como preferidos por ele. Só ele pode e sabe preferir cada um de nós, sem desprezar os outros!
Jogando a rede estavam Pedro, Tiago e João. Sob a figueira, Natanael. A caminhar iam dois discípulos do Batista, João e André. A Samaritana buscava água, o curioso Zaqueu queria ver o Senhor passar. Do Evangelho damos um salto para nosso tempo. Muitos foram chamados no próprio trabalho, outros encontraram o Senhor no recesso de seu lar, rezando em casa com a Palavra de Deus. Muitas pessoas se debruçaram no estudo, em busca da verdade, e a encontraram com uma vocação. O ambiente de lazer, como acontece em nossos Oratórios Festivos, ou na prática do esporte, ali chegou o desejo de competir por um prêmio maior! Entenderam a palavra de São Paulo: “Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível!” (1 Cor 9,25), enquanto o descanso e a contemplação de lugares aprazíveis foi o caminho para a inspiração descida do Céu. E quantas pessoas, sensibilizadas pelo compromisso com um mundo novo e diferente, no seu direito e no seu dever, encontraram os sinais e os rastros da vontade de Deus que se fez vocação em suas vidas! E resolveram dar tudo, como nossos amigos e primeiros discípulos: “Caminhando à beira do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando as redes ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse-lhes: ‘Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens’. Eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram. Prosseguindo adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam no barco, com seu pai Zebedeu, consertando as redes. Ele os chamou. Deixando imediatamente o barco e o pai, eles o seguiram” (Mt 4, 18-22). Com Mateus, o cobrador de impostos, aconteceu o mesmo: “‘Segue-me!’ Ele se levantou e seguiu-o” (Mt 9,9). Depois, festa, banquete fraterno da misericórdia! Seguir e deixar tudo, pelo tudo encontrado é mais uma lição.
Deus conta com os acontecimentos e conta com as pessoas para o chamado. Qualquer cristão, irmão ou irmã, de todos os estados de vida, têm a possibilidade e o dever de chamar, dizer a crianças, adolescentes, jovens e menos jovens, quando percebe numa outra pessoa sinais de uma possível vocação de consagração total a Deus na vida sacerdotal, religiosa, consagrada e missionária. Deus certamente tocará, por ocasião da reflexão que agora apresentamos, o ouvido e o coração de muitas pessoas, para verbalizarem o convite em nome da Igreja e, mais do que tudo, em nome de Deus. E não tenham receio de enviar aos Bispos, Sacerdotes, Religiosos, Religiosas e outras pessoas consagradas aqueles nos quais se identifica tal provocação positiva, vinda de Deus. Devo repetir, como o fiz em outras ocasiões, que as vocações existem, mas falta trato, carinho, cuidado! Aprendemos assim que todos somos agentes vocacionais e instrumentos de Deus a serviço de sua Igreja.
Vale acrescentar ainda que circunstâncias alegres e também as mais dolorosas podem ser os caminhos escolhidos por Deus para o chamado vocacional. Deus não provoca as coisas negativas, mas sabe aproveitar tudo que acontece, se transformamos em ocasião de amor a ele e ao próximo, como caminho de salvação e graça, assim como uma estrada vocacional. Ninguém despreze o valor profundo do aparente acaso! Não há qualquer fato sem um apelo de Deus! Mais um passo em nosso aprendizado!
Todo chamado de Deus a um serviço na Igreja passa necessariamente pelas etapas normais, com a resposta ao querigma que anuncia o amor de Deus, a busca da conversão a Jesus Cristo, Senhor e Salvador, como consequência da situação de pecado em que uma pessoa pode encontrar-se, suscitando uma abertura ao Espírito Santo, que ensina a viver, a orar e amar! Resultado será o compromisso com a Comunidade de Igreja, cuja vida e apelos levará as pessoas, especialmente os jovens, a se comprometerem numa resposta e consagração a Deus. Não há pressa, mas há urgência! Não dá para ficar parados, e aqui está uma lição fundamental!
Tudo isso há de acontecer com o apoio e dentro da Comunidade Cristã, desde as Pequenas Comunidades Cristãs Missionárias, as Comunidades Eclesiais de Base, as Paróquias, os ambientes dos Movimentos e Pastorais, os eventos de qualquer porte na Igreja. Não falte o apelo a que tenhamos mais operários para a messe! E em todas as Comunidades de Igreja ressoe a indispensável oração pelas vocações: “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!’” (Mt 9,36-38)