Muitas pessoas e incontáveis gerações aguardaram a chegada do Messias Salvador. Ele foi preparado, acolhido por muitos, rejeitado por tanta gente, tendo assumido a limitação de nossa carne para elevar-nos com ele às alturas da Vida Eterna. Durante a sua vida pública, tantos desejavam conhecê-lo, muitos foram por ele tocados, curados e perdoados. Havia também muita curiosidade, mas a busca sincera emergia no meio das multidões que queriam ver Jesus, tocar pelo menos na orla de seu manto, desfrutar de seu olhar misericordioso. Morto e ressuscitado, confiou à Igreja a tarefa de anunciá-lo até os confins da terra, enquanto espera a sua vinda gloriosa, no final dos tempos. Do mesmo modo que aconteceu com Jesus, as sucessivas gerações de homens e mulheres, em todos os tempos, querem ver Jesus e questionam os cristãos sobre a veracidade de suas palavras e ensinamentos. A sede de Deus está presente no coração das pessoas, e mesmo naquelas que vivem situações de crise, lá dentro existe o anseio por aquele que é Caminho, Verdade e Vida.
Provocados pela primeira figura de Advento oferecida pela Igreja (Cf. Mt 3,1-12), João Batista, assim como pelo Profeta Isaías (Is 11,1-10), no grande anúncio messiânico, desejamos identificar os sinais da presença do Salvador, deixar-nos provocar por eles e pedir a Deus a graça de oferecer-lhes aos homens e mulheres de nosso tempo.
João Batista, enquanto nos recorda que a vinda do Reino de Deus está sempre perto de nós, nos convida à conversão. Há uma expressão do Santo Cardeal Newman que nos ajuda a compreender a nova orientação que a Palavra de Deus nos sugere (Cf. Lectio divina sui Vangeli festivi per l1Anno Liturgico A, Elledici, Página 39): “Aqui na terra, viver é mudar, e ser perfeito é ter mudado com frequência”. Mudar é entender a vida na ótica da conversão, uma transformação a partir do íntimo do coração humano.
Este tempo de Advento nos põe em contato com o projeto de Deus a nosso respeito, pelo que deveremos abrir-nos continuamente aos apelos que ele nos faz. Disposição para a mudança é sinal de acolhimento daquele que vem como Salvador. Superar todo endurecimento de coração e de mente, com o qual as pessoas se tornam rígidas e envelhecidas, independente da idade! Existe sempre algo a ser melhorado e transformado!
João Batista aparece como uma voz que grita para no deserto preparar o caminho do Senhor. Um sinal positivo será abrir os ouvidos aos clamores que Deus envia através de pessoas e situações. Não há falta de anúncio da Palavra, o que pode existir são ouvidos moucos, que não lhe oferecem acolhida! Deus fala em voz alta ou no silêncio, nas lições da natureza, no testemunho das pessoas e na vida da Igreja. Pode até acontecer que a voz ressoe nos desertos da vida, mesmo quando estamos cheios de gente ao nosso redor. É necessário treinar uma “sintonia fina”, num tempo de excesso de mensagens, palavras, áudios e vídeos de todo tipo!
Diante da pregação de João Batista, muitas pessoas confessavam seus pecados, arrependidas de seus descaminhos, buscavam o batismo de penitência. Olhando ao nosso redor, podemos identificar os irmãos e irmãs que já deram passos diferentes, que investem na escuta da Palavra de Deus, acorrem ao perdão que a Igreja oferece em nome do Senhor, descobrem um mundo de oportunidades para a mudança de vida! Foram oferecidos a nós muitos exemplos de virtude e santidade! Há que prestar atenção em tais “sinais messiânicos”, porque quem fica parado já está regredindo.
Acolher o convite à conversão, como contemplamos no terceiro Mistério Luminoso, ao aceitar o Anúncio do Evangelho, pede a aceitação das podas que o Senhor nos oferece, através dos sofrimentos da vida e das oportunas correções fraternas que nos chegam. É bom aceitá-las logo, para que o machado não chegue à raiz das árvores! (Cf. Mt 3,10) E aceitar o Evangelho significa abrir as portas a Cristo, como expressou bem São João Paulo II, no início de seu pontificado. Trata-se de aceitar Cristo que vem ao nosso encontro com sua Palavra definitiva de salvação. A passagem do Senhor, que vem sempre e de novo, não nos encontre distraídos e superficiais!
“Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho, endireitai suas veredas” (Mt 3,3). Sendo honestos com nossa consciência, encontraremos o desafio de detalhes ou grandes mudanças. É hora de tomar posição! O texto do Profeta Isaías, para usar uma expressão popular, “bate na cangalha para o burro entender”. Cada um de nós pode entrar neste texto (Is 11,6-9), sentindo-se à vontade entre os animais que são citados: “O lobo, então, será hóspede do cordeiro, o leopardo vai se deitar ao lado do cabrito, o bezerro e o leãozinho pastam juntos, uma criança pequena toca os dois, a ursa e a vaca estarão pastando, suas crias deitadas lado a lado; o leão, assim como o boi, comerá capim. O bebê vai brincar no buraco da cobra venenosa, a criancinha enfia a mão no esconderijo da serpente. Ninguém fará mal, ninguém pensará em prejudicar, na minha santa montanha. Pois a terra estará repleta do conhecimento do Senhor, assim como as águas cobrem o mar”. É muito melhor pensar em animais tão diferentes que se aproximam em paz do que ser chamados de víboras venenosas! (Cf. Mt 3,7).
O Messias esperado, acolhido e amado, é aquele que tem a plenitude do Espírito que o reveste, como o Senhor anunciou no dia em que a profecia se cumpriu (Lc 4,18). Como conhecemos a nossa fraqueza, o Espírito Santo é derramado sobre nossa vida, nos dons que descem do alto, Sabedoria, Entendimento, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus! Como Deus não julga pelas aparências, sua misericórdia vem ao nosso encontro, para que as exigentes Palavras de João Batista ressoem como estímulo ao nosso crescimento, para clamarmos com alegria: “Vinde Senhor Jesus!”
Rezemos com a Igreja: “Ó Deus todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida. Amém”